terça-feira, abril 23, 2024

37ª Mostra de Cinema de São Paulo: Ilo Ilo

CRISE E COTIDIANO

 

Ilo Ilo é o filme indicado por Cingapura para concorrer a uma vaga ao Oscar de 2014. Depois de uma carreira nos curtas, Anthony Chen estreia com sucesso em seu primeiro longa (que também roteiriza). Durante a crise financeira de 1997, a filipina Teresa (Angeli Bayani) vai trabalhar como doméstica na casa da família Lim. Acompanhamos a busca por adaptação de Teresa e as dificuldades dos Lim, Teck (Chen Tian Wen), o pai, Hwee Leng (Yeo Yann Yann), a mãe, e Jiale (Koh Jia Ler), o filho.

A narrativa costura as relações afetivas e conflitos desses sujeitos. Teck enfrenta o desemprego e busca apaziguar os conflitos familiares. Jiale, com sua peraltice busca atenção e carinho, enquanto recorta os números da loteria, em busca de alguma lógica. Os grandes destaques são Teresa e Hwee Leng – todo elenco é ótimo, mas essas duas atriz impressionam.

Hwee está grávida e quer espera que a filipina seja uma ajuda. Ela busca ganhar dinheiro fácil em meio a crise, tenta colocar o filho na linha e dar força ao marido. Teresa busca se adaptar ao trabalho, a um país estranho, controlar a saudade da família, especialmente do filho, tenta encontrar uma forma de ganhar um pouco mais de dinheiro e tenta domar Jiale, que com suas tolices acaba prejudicando-a.

Isso é um esboço da narrativa. Relevante é apontar os méritos estéticos. Anthony Chen começa acertando ao fugir do maniqueísmo. Ninguém assume o papel de vilão – já basta a crise financeira – nem de vítima. Conseguimos encontrar em cada personagem (especialmente em Hwee e Teresa) algum momento de excesso, outro de fraqueza, erros, acertos. Enfim, o diretor consegue humanizar seus personagens. Também consegue mimetizar o cotidiano. Apesar de existir uma linha narrativa, diversos eventos servem para expor esse fluxo do dia a dia. A opção por boa parte dos enquadramentos próximos dos atores e dos objetos e de uma razão de aspectos mais restrito, passam a sensação de espaço reduzido, como se realmente estivéssemos em um pequeno apartamento de Cingapura. Poucos são os planos mais abertos. Contudo, esse enquadramento mais fechado não passa angustia, antes ajuda a nos inserir naquele cotidiano.

O filme enfoca o problema dos imigrantes de forma muito delicada. Pessoas que nem sempre deixam seu país por gosto, mas por necessidade, para buscar condições melhores de trabalho. Novamente não há paternalismo, apenas uma exposição franca da condição quase sempre difícil, na qual a saudade e a solidão são, muitas vezes, os únicos companheiros. E há a crise financeira, esse fato tão inerente ao nosso tempo. São ciclos que, como outros problemas da vida, se repetem, mas que podem ser devastadores, ou silenciosamente destrutivos.

Próximas exibições:

  • Dia 28/10 – 18:00 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 1
  • Dia 30/10 – 17:40 – Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 4

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