terça-feira, abril 16, 2024

Crítica | A Bela e a Fera

Conto de fadas volta ao domínio francês

Criado em 1740 pela autora Gabrielle-Suzanne Barbot, o conto A Bela e a Fera atingiu o status de um dos maiores ícones da cultura pop universal. Isso antes de ser imortalizado como um desenho da Disney (1991), que inclusive concorreu ao Oscar de melhor filme naquele ano. A história todos já conhecem: um príncipe arrogante e cheio de defeitos recebe uma maldição sobre seu reino, e é transformado em uma criatura felina horrenda. Tal maldição só será desfeita se o monstro for amado de verdade por uma mulher. Em seu caminho surge a aldeã de aparência impecável chamada Bela.

Deixe para os franceses criar uma obra infantil com forte teor adulto, incluindo diversos dilemas morais e cenas intensas, mais amargas do que em muitos dramas norte-americanos. A direção é do talentoso especialista visual Christophe Gans. O cineasta foi o responsável por uma das mais interessantes obras de gênero em sua terra natal, O Pacto dos Lobos (2001). A Bela e a Fera é uma produção lindíssima. Sua direção de arte e fotografia chamam a atenção, criando a proximidade do filme com uma pintura.

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Algumas diferenças são apresentadas na trama, em relação ao que estávamos acostumados em todos os outros tratamentos. O que desencadeia a maldição, por exemplo, é nitidamente mais bem delineado e explorado. Uma subtrama poderosa, envolvendo amor, ganância e prepotência. É um momento de amargar o coração. A estrutura familiar de Bela também é um fator aqui, em uma subtrama que talvez seja adulta demais para as crianças que adentrarem a exibição. Fala sobre dívidas e falência de uma então próspera família. Os membros familiares da protagonista possuem importância dentro da trama, dividindo as atenções.

Bela é interpretada pela versátil Léa Seydoux. A estrela francesa que abalou as estruturas da censura no ano passado com o polêmico Azul é a Cor Mais Quente, se volta para uma produção infantil com a mesma desenvoltura, provando seu talento. A menina de 29 anos, que disputa com Marion Cotillard o título de estrela francesa mais quente do momento, exibe grande carisma e graça na pele da não mais ingênua e sim extremamente decidida Bela.

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Já sua contraparte, a criatura sem nome simplesmente conhecida como Fera (ou o príncipe) recebe as formas do ótimo Vincent Cassel. No entanto, na maioria de suas cenas, o ator aparece transformado no bestial ser, enterrado em quilos de maquiagem. Justamente nas cenas de maior impacto emocional. O design do mostro aproxima o que é imaginado da Fera nas últimas encarnações, incluindo o desenho da Disney e o seriado da década de 1980 com Linda Hamilton. Estranho em certos closes, a criação em alguns momentos se assemelha a um boneco animatrônico. Nada que prejudique o desenrolar.

Os efeitos são ótimos. A floresta ganha vida. No final, temos a presença de gigantes de mármore, que apenas acrescentam à magia da trama. Outro elemento que aparentemente seria fora de tom, as criaturinhas apresentadas no pôster do filme, se mostram eficazes, sendo utilizadas da maneira correta pelo diretor e enfatizando ainda mais o sentimento agridoce do filme. A maior fraqueza do novo A Bela e a Fera é justamente o que deveria ser seu núcleo, o relacionamento entre os protagonistas. Não sentimos o que foi conquistado por eles, a relação que evolui para termos o desfecho. Não que as crianças prestarão atenção neste detalhe. De uma forma geral é muito bom saber que a França pode contra-atacar com uma produção deste nível, não fazendo feio perante Hollywood.

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