quinta-feira, março 28, 2024

Crítica 2 | Ave, César!

UMA COTIDIANA DECLARAÇÃO DE AMOR AO CINEMA

 

O trailer de Ave, César! (Hail, Caesar!) engana; ele não é claro sobre o seu produto. É daqueles trailers que mais passam o clima do que o conteúdo da obra. Pessoalmente, prefiro assim. Temos uma degustação do filme, sem comprometer o prazer da primeira prova na sala de sessão. O trailer dá um grande destaque para o personagem de George Clooney. Porém, seu Baird Whitlock é apenas um dos muitos coadjuvantes do protagonista Eddie Mannix, interpretação por Josh Brolin.

Boa parte do filme é um passeio pelos bastidores da Hollywood da década de 1950, pelos olhos do executivo Eddie Mannix, sujeito austero, encarregado de resolver os pequenos, e grandes, problemas do estúdio Capitol e suas estrelas. É pelos olhos dele que observamos essa reinvenção da era de ouro do cinema.

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Por focar em várias figuras do estúdio, o filme pode soar um tanto frouxo para o público que, por causa do trailer, enxergue o personagem de Clooney como protagonista. Bom, de fato, é o principal problema dentre os muitos causos resolvidos por Mannix. Essa estrutura de muitas subtramas também ajuda para que parte do público demore a embarcar no filme. Por outro lado, isto permite aos irmãos diretores Joel e Ethan Coen reimaginarem a magia e o fascínio de Hollywood de 1950.

O épico bíblico, os números musicais, o faroeste e o melodrama. Todos os gêneros cabem; são releituras que transportam o público para os anos 1950. Os irmãos Coen conseguem transportar o público para o aquela época enquanto exibem os filmes dentro do filme. Dois aspectos técnicos valem nota: a exibição dos filmes não ocupa toda a tela do nossa sala de exibição. Eles fazem um sobre enquadramento, permitindo que o público perceba as diferenças entre as diversas razões de aspecto das telas. Também chama atenção a fotografia; com suas variações, ela divide a realidade, amarelada e uniforme – ainda que muito louca –, da encenação, com cores variadas e vibrantes. Cada vez que a câmera desliga, o galã se revela um ator limitado, embora carismático, a grande atriz, “bela, recatada e do lar”, aparece em “menos bela, pouco recatada e do bar”, e o grande astro, na verdade, é canastrão.

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Nem todas as subtramas são bem trabalhadas. O plot envolvendo a persoagem de Scarlett Johansson é superficial e pouco desenvolvido. Já o ator-cowboy Hobie Doyle (Alden Ehrenreich) é um personagem cujo carisma vai conquistando o público a cada cena, passando de um sujeito bronco para um ator doce e sagaz. Em certo momento, Hobie Doyle consegue compreende melhor o sistema dos estúdios do que a grande estrela Whitlock.

Ave, César! também é uma declaração de amor ao cinema! Vou precisar revelar detalhes do enredo, spoilers após a imagem.

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Whitlock é sequestrado por um grupo de roteiristas, que querem o dinheiro do resgate como forma de compensar a baixa remuneração pelos seus roteiros (ainda bem que os roteiristas da vida real fazem greve…). Eles também são comunistas, e revelam para Whitlock suas estratégias para introduzir nos roteiros pílulas esquerdosas com a finalidade de mudar o mundo. O humor crítico dos irmãos Coen ataca tanto os delírios dos comunistas, quanto os exageros do Macartismo (vejam a gag visual do submarino).

Não deixe de assistir:

Em uma conversa com Mannix, após o seu resgate, Whitlock canta a grandeza da teoria marxista e critica o dono do estúdio. É quando Mannix dá uns tapas em Whitlock e manda que ele faça o que sabe, atuar. Pouco depois, veremos o único momento que a atuação de Clooney deixa de caracterizar seu personagem como um ator canastrão e o faz proferir um belo discurso. Depois disso, vemos Mannix decidindo continuar a trabalhar no estúdio, por ser o que realmente gosta de fazer. A última imagem é uma panorâmica que mostra o estúdio Capital como um templo da sétima arte.

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Neste ato final, Joel e Ethan Coen fazem uma declaração de amor ao cinema e de independência do artista. Os irmãos Coen criticam a postura de quem, como os roteiristas-comunistas, decidem submeter a arte a um critério que não seja o estético. E com a decisão de Mannix de continuar no estúdio, eles declaram sua devoção ao cinema.

Ave, César! é o canto de devoção de Joel e Ethan Coen; a arte como religião do artista, espaço no qual a expressão sujeita-se apenas à estética.

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