quinta-feira, abril 18, 2024

Crítica 2 | Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

AS VIRTUDES DE UM FILME INESPERADO

 

De tempos em tempos, surgem filmes que chegam a ofender por tantas qualidades. Ousadia formal, elenco com atuações fortes, aspectos técnicos impecáveis, roteiro com diálogos deliciosos e uma história que fala sobre e para o nosso tempo. Assim, Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) – Birdman Or (The Unexpected Virtue of Ignorance), Oscar de melhor filme, é bastante ofensivo! Alejandro Gonzáles Iñárritu, diretor e roteirista, construiu um filme que reflete muito sobre o que vivemos hoje.

O enredo é simples: Riggan Thomson (Michael Keaton), velho ator de Hollywood, que no passado interpretou icônico super-herói, tenta montar uma peça para provar suas qualidades dramáticas. Birdman pode ser resumido nisso. Ou: ator decadente, neurado por fantasmas do passado, precisa superar as dificuldades de montar uma peça para provar que seu ego tem razão.

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De uma premissa singela, Iñárritu vai colocando em xeque várias questões não só do mundo do cinema e da criação como do nosso cotidiano. Num primeira camada, aparecem basicamente questões do mundo do cinema (e das artes de forma geral); inclusive a questão mais ostensiva do filme: que tipo de cinema a Hollywood vem produzindo? Hoje, adaptações de quadrinhos, livros Best-sellers e refilmagens dominam a indústria. Em tese, é o que vende. O filme enfia o dedo na ferida e coloca, com humor e sagacidade, o dilema de muitos artistas entre produzir algo “pra vender” ou fazer algo “pela arte”.

O filme questiona a qualidade da produção atual. Na primeira cena em que Birdman aparece, ele indaga a plateia sobre nossas preferências. E no diálogo entre Riggan e a crítica Tabitha (Lindsay Duncan) a questão é colocada novamente. Trata-se de algo essencialmente moderna: o desejo do artista de produzir algo que ele considere relevante e que o público gosto. Estamos acostumados a vincular o gosto do público à vulgaridade e o do artista incompreendido à qualidade. E quando digo estamos, incluo parcela da crítica especializada. Infelizmente, é erro comum achar que tudo que sai de Hollywood é lixo e que qualquer filme obscuro é uma grande obra. Através de seus personagens Iñárritu encena não só essa crise como as consequências delas em seus protagonistas.

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Teria sido só por isso que ele venceu? Seria um prêmio uma autocrítica da indústria? Talvez sim, mas Birdman tem méritos demais. Por de trás dos dramas criativos de Riggan, há um ego inflado implorando por reconhecimento. São nos diálogos entre ele e sua filha Sam (Emma Stone) que é exposto o drama de desejar o reconhecimento – algo que qualquer pessoa sente ao postar uma foto nas redes sociais. E é através de Mike (Edward Nortan) e da crítica Tabitha que o lado over da fama e da popularidade é mostrado.

Revirando mais essa busca pelo reconhecimento, chegamos à questão da solidão. Nesse labirinto de imagens que se torna Birdman, parece que seus personagens estão em busca de uma plateia, ou pelo menos, de alguém que curta seus comentários vulgarmente genais. Nenhuma sequencia sintetiza melhor esse dilema entre reconhecimento e solidão quanto a do voo de Riggan. Da sarjeta ao teatro, a sequência faz uma composição lírica e melancólica da solidão e dos delírios que cada um de nós sonha para nosso futuro.

Não deixe de assistir:

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Chamará atenção do público a estrutura da obra. Birdman foi concebido para ser montado como se a fosse um único plano-sequência. A regra do cinema é que os filmes sejam a colagem de vários fragmentos que foram filmados de diversos pontos de vista. Cada fragmente entre os cortes é um plano. O corte é justamente a passagem de um plano para outro. No plano-sequência, o que vemos na tela foi filmado de uma única vez, sem desligar a câmera. Raríssimos filmes fizeram essa façanha. O feito de Iñárritu e do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki é simular um longo plano-sequência.

Além da questão da forma, este plano-sequência traduz a turbulência da vida de Riggan naquelas semanas até a estreia da peça. E como se o cinema prestasse uma homenagem ao teatro, os cortes se escondem para aproximar o cinema da continuidade teatral.

 

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