sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica 2 | Frank

Frank é um daqueles filmes estranhos que te deixam com uma sensação esquisita quando os créditos começam a rolar. A história (parcialmente factual) de uma figura excêntrica que usa um acessório enorme na cabeça e narra suas expressões faciais é o suficiente para que nos envolvamos com o filme. Pena que isso, majoritariamente, se deva apenas a uma pessoa.

Jon (Domhnall Gleeson), um jovem aspirante a músico, descobre que não possui aptidão para ser compositor quando começa a se relacionar e tocar com uma banda excêntrica que é liderada por Frank (Michael Fassbender), um sujeito misterioso e enigmático que veste uma cabeça gigante.

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Já de inicio percebemos a falta de talento que Jon tem em relação à composição. Ele caminha pela rua procurando inspiração e narrando mentalmente o que vê. Um processo imensamente chato para o espectador que é obrigado a vê-lo cantar letras  insossas como: “crianças fazendo castelos de areia na minha cidade” ou “Senhoras com bebês, é assim que funciona” que são disparados sem nenhuma graça.

Apesar disso o jovem consegue tocar na banda e conseguir um lugar fixo como tecladista. A partir dai, o longa começa a engrenar e angariar interesse, embora permaneça um pouco frio, principalmente, na maneira como nada parece acontecer com aqueles personagens. Então o grupo se isola em uma casa na Irlanda, no meio do nada, para gravar um álbum. E ali começam a se conhecer.

Não que a convivência do grupo precisasse ser recheada de conflito, se explorasse melhor seu personagem mais complexo, ou até se narrasse o processo criativo de composição de uma música, essa parte poderia se tornar mais interessante. O problema, é que o diretor se prende a diálogos sem muita profundidade e ensaios repetitivos, intercalando entre esses, passagens que tentam ser engraçadas.

Vemos os personagens pulando ou derramando água para gravar sons, que nem são utilizados depois, e que, supostamente, eram para ser engraçados. E Também Jon se cortando enquanto faz a barba sem mexer a lâmina, apenas mexendo o rosto (e nesse momento, haja risos sarcásticos). Aos nos aproximarmos dos créditos, o longa começa a ficar interessante, principalmente quando alguns eventos começam a gerar conflito dentro da banda e nos aproximamos de Frank.

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O conflito que Jon causa na banda é interessante, embora não tão bem explorado. Jon quer que a banda seja conhecida por muitas pessoas, por isso filma seus ensaios e atualiza seu twitter constantemente. Mas os outros membros da banda preferem fazer o que gostam sem se preocupar com isto, e mais especificamente Frank, parece estar em conflito com si mesmo entre fazer um som que lhe agrada, se expressar, ou ser popular.

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É neste conflito que se encontra a cena mais interessante do filme. Jon quer que a banda toque em um grande festival (algo grande para eles), mas a banda acaba se separando por não concordar, e no palco vão apenas Frank e Jon. Percebe-se ali que a essência da banda se perdeu, e quando vemos o domínio de palco do primeiro sobre o segundo percebemos que não há mais Os Soronprfbs, mas sim um projeto de banda idealizado por Jon.

E embora seja interessante este conflito, não é representado visualmente, nem pela direção e nem pela atuação de Domgnall Gleeson. Não se percebe Jon como um faminto por sucesso, nem seu embate de visão da banda com os outros membros. E embora possamos ver alguns conflitos entre a banda, eles são pontuais e nunca parecem sólidos ou “atmosféricos”.

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Quem carrega toda a estranheza e faz com que nos interessemos pelo filme é Frank. E aqui vemos não só um personagem interessante e complexo, mas uma atuação fenomenal por parte de Fassbender. Encarnando um jeito de andar característico e expressivo, ele compõe seu personagem, ao mesmo tempo complexo e identificável. Quando vemos Frank sem máscara pela primeira vez, sabemos de cara que é ali, mesmo sem reconhecer seu rosto. E é fenomenal como o ator consegue passar emoções sem utilizar expressões faciais, apenas com o posicionamento do seu corpo e sua voz. Em uma cena vemos Jon e Frank sentados em um hotel barato depois de um fracasso que obtiveram em um show. Fassbender não precisa nem de palavras, nem de expressão facial para comunicar o que sente. Apenas senta ali, parado, calmo e cabisbaixo.

Frank não deixa de ser um filme estranho e despertar interesse, pontualmente, por parte de seu espectador. Grande parte disso deve-se a excelência de um ator que demostra realmente entender da sua arte. Não posso dizer que Frank é um filme raso ou chato, realmente me comovi com seus personagens e algumas situações. Mas lhe falta algo.

 

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