quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | A Criada

UM FILME DE MUITAS CAMADAS

 

Assistir A Criada (Ah-ga-ssi/The Handmaiden) foi para mim uma alegria especial. Acompanho o trabalho do diretor Chan-wook Park desde seu primeiro sucesso – lembro-me da sessão quase vazia de Oldboy como se fosse hoje. Park alcança em A Criada seu apogeu estético. Todos os traços que caracterizam o seu estilo estão no filme, somado a um maior rigor formal.

A Criada é um filme de camadas. Como aquelas bonecas russas, que uma sai de dentro da outra, a cada hora que passa um outro filme se revela ao público. Sem dar detalhes, fiquemos na trama básica: no período da ocupação da península coreana pelo Japão, na década de 1930, Sook-Hee (Tae-ri Kim) torna-se criada de Lady Hideko (Min-hee Kim). Logo nos primeiros minutos, o filme já faz sua primeira revelação: Sook-Hee é uma falsária que está ajudando o golpista e falso Conde Fujiwara (Jung-woo Ha) a conquistar o coração de Lady Hideko para ficarem com sua fortuna. Além disso, o tio (Jin-woong Jo) de Hideko quer casar com a sobrinha para ficar com o dinheiro.

Isso tudo, descobrimos nos primeiros dez minutos de filme!, o que exige atenção do espectador. E tenha certeza, meu amigo leitor, o roteiro faz muitos outros contorcionismos. E, ao contrário de outros filmes do diretor, o público será sempre o último a saber. Mas, não vou estragar a experiência de vocês. Vamos falar de estilo!

O estilo de Park, notabilizado em Oldboy, está em A Criada: o visual delirante, o roteiro intrincado, as situação bizarras, o cruzamento de gêneros, os movimentos de câmera elaborados, tudo costurado com um rigor formal inédito na sua filmografia. Este rigor formal não é apenas força de expressão de crítico. Especialmente na primeira hora de filme, temos um Park quase classicista: a câmera é mais suave, os enquadramentos mais cuidadosos destacando sentimentos e relações, um andamento mais lento da narrativa. Se não fosse pelo clima de um universo paralelo (algo que o diretor cria tão bem) e pela mistura de gêneros (uma combinação entre suspense gótico e drama erótico), diria que a primeira hora fora dirigida por algum assistente.

Na segunda hora e, especialmente, nos minutos finais (são 2 horas e 24 minutos ao todo), o estilo que notabilizou Park surge com toda a força. E aqui vai uma grande qualidade de A Criada: o estilo se sujeita à narrativa. Assim como a verdadeira história vai se revelar apenas no final, escondida sob diversas reviravoltas, o estilo do Park aparece à medida que o filme vai chegando ao seu final. É como se na primeira hora, víssemos um Park da maturidade, e nos minutos finais, um Park jovial, do começo da carreira, como um Oldboy revivido.

Voltando para o roteiro, as reviravoltas também contribuem para as deficiências do filme. Primeiro, o diretor ainda não consegue criar personagens com os quais tenhamos profunda empatia. Em sua obra, seus personagens são pouco críveis, muito por causa das suas tramas excessivamente mirabolantes. Em A Criada, as muitas viradas impedem uma maior identificação do público com as personagens. Além disso, em uma revisão, a história perde força, pois as tantas reviravoltas criam um clima de vale tudo.

Não deixe de assistir:

Os fãs do diretor vão se deliciar. Os não-iniciados talvez se assustem com as bizarrices e a longa duração. Por outro lado, eles podem apreciar o tempero diferente. Enfim, mesmo com os problemas, saí recompensado da sessão (vi o filme na Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado), com a certeza de que um diretor tão querido ainda vai me proporcionar grandes momentos!

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