terça-feira, março 19, 2024

Crítica | A Cura

Stephen King esteve aqui

A Cura, nova superprodução de terror da FOX, pode ser definida com o termo “muita cobertura e pouco recheio”.

Quando me deparei com o tempo de duração do longa, de 146 minutos, me surpreendi. Dificilmente ganhamos um produto mirado ao grande público, com tamanha ambição. Ainda mais um produto que pretende ter fácil acesso e consumo rápido, como geralmente se portam os filmes de terror de shopping. Uso esta definição para me referir ao tipo de terror mais popular – que nem por isso precisam ser ruins, a prova são os recentes Invocação do Mal 2, Quando as Luzes se Apagam e Ouija 2. Tais filmes fazem uso de uma montagem dinâmica, bom ritmo e tempo de duração mediano.

Com 146 minutos de projeção, dificilmente um longa mirado ao público jovem, será consumido de maneira rápida. Para termos uma ideia, filmes cultuados, da década de 1980 e 1990 precisaram diminuir seu tempo de duração original, como forma de estratégia, para lucrarem mais.

Veja bem, um filme menor cabe em mais sessões durante o dia, multiplicando sua bilheteria. Tradução, a proposta de se ter “um épico” do terror, com duas horas e meia, é um risco financeiro. O fato seria justificado se fosse essencial à obra cinematográfica.

Se fosse o caso do diretor não querer sacrificar a integridade da produção, e já funcionou bem no passado, em especial nas adaptações de Stephen King (dono de longos textos).

A Cura CinePOP1

Outro ponto que vale ser mencionado é que ao contrário de muitos filmes atualmente, A Cura não te engana. Ele é exatamente o que propõe em suas prévias e trailers, e o problema, de longe, não está aí.

A trama, escrita por Justin Haythe (dono da história e roteiro), apresenta um bom protagonista, o ambicioso yuppie Lockhart (defendido corretamente por Dane DeHaan). O jovem sobe de cargo na empresa onde trabalha, após o infarto fulminante do antecessor, e de cara recebe uma tarefa da cúpula de diretores.

Ele precisa trazer de volta, de um SPA nos Alpes Suíços, um dos membros do alto escalão da companhia, já que sem sua assinatura um grande negócio não será concluído. Então, o intrépido protagonista parte para sua descida pessoal ao inferno, de forma desavisada.

Não deixe de assistir:

Todo bom protagonista precisa ter seu calcanhar de Aquiles, ainda mais quando irá se defrontar com um tremendo mal em seu caminho.

Aqui, nosso “herói” é dono de um passado nebuloso, com o suicídio do pai – a quem considera fraco – latente em sua memória, e a mãe confinada num asilo. Cumprir sua missão é tudo que o interessa, mas o feito se mostrará mais complexo do que aparenta.

No local, existem diversas lendas, entre a hostilidade dos moradores de um vilarejo próximo a esta clínica de luxo, por exemplo – que o roteiro poderia ter explorado melhor.

A lenda mais chamativa e que será mais relevante para a trama diz respeito ao dono original da propriedade, um Barão com sintomas de Hitler, que decide sair em sua jornada pessoal atrás da linhagem pura. Para isso, casa com a própria irmã, com o objetivo de procriar, se voltando contra Deus. Esta abominação faz com que os aldeões matem a mulher na fogueira e incendeiem o local profano. Não é lindo?

A Cura CinePOP3

Deu para sacar que o SPA visitado pelo protagonista não é o local mais santo do mundo, pelo contrário. É justamente este o palco aonde irá se desenrolar A Cura, entre aparições, alucinações, funcionários muito suspeitos e pacientes alheios ao que verdadeiramente acontece, o longa mistura de tudo um pouco – dos contos de Stephen King, como Louca Obsessão (o motivo inicial do protagonista não “picar a mula” de imediato), até Ilha do Medo (de Martin Scorsese).

Dane DeHaan, um ator-personagem que se especializou em tipos excêntricos, interpreta contra este tipo, rendendo uma boa performance como o homem sério, o sujeito a quem as coisas acontecem durante o filme. O personagem que será desafiado pela insanidade presente neste hotel de luxo assombrado.

No lado positivo, A Cura é um filme belíssimo. A fotografia do iugoslavo Bojan Bazelli (O Chamado) somada à direção de arte da equipe de Grant Armstrong (Os Miseráveis) impressiona e nos faz pensar que talvez seja mais do que um filme de puro escapismo mereça. De qualquer forma, apenas acrescenta ao clima gélido do local, transformando este blockbuster de suspense em pura arte.

As atuações são boas, em especial, além do protagonista, as de Jason Isaacs, na pele do enigmático Dr. Volmer, o diretor da clínica, e Mia Goth (Ninfomaníaca – Volume 2), que interpreta a misteriosa Hannah, a paciente mais jovem do lugar. Outra qualidade da obra é manter nosso interesse até o desfecho, construindo cenas intrigantes o suficiente para nos manter questionando a cada momento o que está por vir.

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No entanto, nem tudo são flores em A Cura, e a pergunta que a maioria deve estar se fazendo é: como se sai o novo terror do diretor Gore Verbinski em comparação ao já icônico O Chamado (2002) – melhor que todas as versões japonesas, digam os puristas o que quiserem.

Bem, devo começar dizendo que talvez chamar A Cura de terror não seja justo. Ao menos não no sentido tradicional, como O Chamado, por exemplo.

O objetivo de se tornar um thriller psicológico fica claro, já que Verbinski não se apoia na trilha sonora ou em imagens piscando rapidamente na tela para causar medo. O que faz o filme raramente ou nunca ter este poder sobre o público.

A sensação é a de que o filme nunca decola.

O grande demérito aqui vai para a direção de Verbinski e a edição, que criam um filme longo demais (o tópico abordado no início do texto) desnecessariamente.

A Cura, para funcionar, precisava ser mais enxuto, mais podado. Diversas cenas se repetem e se amontoam, trazendo uma tremenda sensação de deju vu. A obra não é objetiva, não é dinâmica. Seu ritmo é demasiadamente lento, e aqui isso é uma qualidade negativa, pois leva horas construindo o clima, a tensão e uma trama, tudo que o público já conseguiu entender há muito tempo, sem que o longa saia da estagnação. Seria o momento de uma nova etapa.

O desfecho finalmente abraça a loucura e o ridículo, assumindo tintas do cinema trash (que me lembrou os clássicos dos anos 1970 da produtora Hammer), mas aí já é tarde demais, destoando do tom pseudo sisudo apresentado durante toda a projeção. Infelizmente, A Cura promete entediar mais do que assustar.

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