terça-feira, março 19, 2024

Crítica | A Garota no Trem

Garota Nada Exemplar

Baseado no Best-seller de Paula Hawkins, A Garota do Trem realiza uma eficiente transposição para a telona, associada a uma campanha de marketing que vendia o filme (e o livro) como o Garota Exemplar (Gone Girl) de 2016. Bem, assim como na obra de Gillian Flynn, trata-se de um suspense recheado de mistérios e ilusões narrativas – que tendem sempre a ludibriar o público sedento por reviravoltas – protagonizado por ricas personagens femininas, tão cheias de falhas de caráter.

À primeira vista, a Rachel Watson de Emily Blunt é inclusive bem mais desagradável do que a fachada de Amy Elliott Dunne, de Rosamund Pike (indicada ao Oscar pelo papel). É uma protagonista que aos poucos vamos aprendendo a odiar. Alcoólatra com a vida em frangalhos, após a perda de um filho, o que a separou do marido (papel de Justin Theroux), Rachel é igualmente digna de pena. Sua vida está no fundo do poço e ela trata de cavar ainda mais o buraco, hostilizando e perseguindo (a famosa stalker) o ex sempre que pode, além de infernizar a vida da nova mulher do sujeito, com quem ele tem um recém-nascido.

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Comparada a de Gone Girl, a trama de A Garota no Trem é mais complexa, por centrar não apenas em uma linha narrativa, mas em três, analisando de certa forma as vidas de três protagonistas femininas. Além de Rachel, o filme aborda Anna (Rebecca Ferguson), a nova mulher, e Megan (Haley Bennett), a personagem que fará a trama de mistério girar. Megan era a vizinha de Rachel, quando ela morava com Tom (Theroux) e agora é a vizinha de Anna, que se mudou para a mesma residência. Ao passar todo dia de trem em frente ao seu antigo lar, Rachel vislumbra trechos da vida de Megan, constatando apenas felicidade e perfeição no relacionamento dela com Scott (Luke Evans), o marido, e desejando o que perdeu.

Quando Megan desaparece, a polícia entra em cena (personificada pela detetive de Allison Janney) para solucionar o caso e descobrir o que está por trás. Teria Megan fugido de sua vida perfeita? Ou algo mais nefasto está em jogo, envolvendo terceiros, num cenário no qual todos podem ser suspeitos? Assim como na obra de Gillian Flynn, aqui nada é o que parece, e o roteiro adaptado por Erin Cressida Wilson (Homens, Mulheres e Filhos) realiza um bom trabalho de ir descascando as camadas aos poucos, através de flashbacks e cenas que nos mostram o íntimo das personagens, para o público montar este elaborado quebra-cabeça.

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Durante grande parte da projeção, A Garota no Trem desperta nosso interesse imediato. Fala das frustrações de mulheres, traçando bem suas personalidades distintas e status sociais diferentes. Anseios, aspirações e decepções sobre suas vidas, a vida a dois e a vida profissional são questões levantas pela obra, tudo envolto num filme de gênero. Justamente por isso, a obra chama atenção, tendo como grande mérito o desenvolvimento de suas protagonistas. A estrutura criada é forte em sua base, o alicerce é o trabalho de direção do talentoso Tate Taylor, que tem no currículo o Oscarizado Histórias Cruzadas (The Help, 2011), também uma adaptação literária eficiente.

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O elenco de peso é um chamariz, e o destaque fica para o trio feminino. A jovem Haley Bennett vem se destacando e este ano esteve na superprodução Sete Homens e um Destino, interpretando um dos papeis chave no longa, ao lado de monstros como Denzel Washington. Aqui, no papel de Megan, a jovem conquista outro personagem importantíssimo em sua filmografia, realizando cenas difíceis, ousadas e bem exploradas por sua intérprete.

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A sueca Rebecca Ferguson ganhou a grande chance de sua carreira com Missão: Impossível – Nação Secreta, ao lado de Tom Cruise, tirando o fôlego dos fãs e mostrando que lugar de mulher é sim em superproduções de ação. No longa de Taylor, sua Anna é multifacetada e recheada de significados. Finalizando, Emily Blunt tem mais um desempenho de nível estelar, tornando Rachel (ao lado da Kate Macer de Sicario – Terra de Ninguém) sua melhor performance no cinema. As notas atingidas por Blunt no longa são dignas de prêmio, uma em especial chamando atenção – um momento muito honesto, no qual podemos ver a alma de sua personagem, numa cena com Edgar Ramírez na sessão de terapia.

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Poucas são as vezes em que o desfecho de um filme o faz perder pontos ou desmereça o apresentado até ali. O que ocorre com thrillers, ou filmes de suspense, é que se trata de um gênero que depende muito justamente de seu final, que irá solucionar o que foi construído, às vezes de forma minuciosa, ao longo de toda a projeção.

A Garota no Trem aparenta ter se acovardado, desconstruindo o que havia tão eficientemente montado, para uma solução mais fácil, presa num arquétipo tão básico de qualquer suspense, que quase soa como paródia. A coisa desanda tanto, que o resultado fica com jeito de uma exibição fraca do Supercine, traindo investidas tão reais e sinceras, para de forma cínica entregar o que muitos esperam de um suspense: adrenalina. Recaindo assim em clichês ruins do gênero. A Garota no Trem tinha tudo para uma viagem suave, mas termina saindo dos trilhos. E ainda tem gente que não gosta do final corajoso e impactante de Garota Exemplar, vai entender.

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