terça-feira, março 19, 2024

Crítica | A Glória e a Graça – Carolina Ferraz no papel de sua carreira

Meu nome é Glória

Todo ator busca fama e sucesso. Uma vez atingidos o que sobra são novos desafios. Essa é a motivação que move todo e qualquer artista: chegar a um novo patamar em sua abrangência performática. É exatamente em tal patamar que a goianiense Carolina Ferraz pisa com seu novo trabalho A Glória e a Graça. No longa, Ferraz topa o desafio e interpreta pela primeira vez em sua carreira (de 30 anos) um homem. Na verdade, Luiz Carlos, o personagem, sempre foi uma mulher presa no corpo de um homem, e quando finalmente o encontramos no filme, ele já possui as formas de Glória – Carolina Ferraz.

A ideia para o longa surgiu da mente do jovem roteirista Mikael de Albuquerque, que tem com A Glória e a Graça seu primeiro texto filmado. O processo até a concretização da obra foi longo, e demorou nove anos desde a ideia do escritor até o filme pronto. Para trabalhar ao lado de Albuquerque polindo o texto, foi chamado o mais experiente Lusa Silvestre, dos ótimos Estômago (2008), Mundo Cão (2016) e O Roubo da Taça (2016). A direção ficou a cargo do veterano Flávio Tambellini (Malu de Bicicleta).

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Assista a nossa entrevista com Carolina Ferraz, elenco e diretor de ‘A Glória e a Graça’

A trama central de A Glória e a Graça fala sobre reconciliação. Duas irmãs, separadas por quinze anos, precisam reaprender a interagir e deixar as mágoas do passado para trás. A tarefa ainda reserva mais uma dificuldade, além das esperadas. Como dito, Luiz Carlos, que saiu de casa desta forma, agora é Glória, e é justamente esta nova persona que sua irmã Graça (Coverloni) terá que conhecer. Readaptação é outra palavra forte que define a obra.

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Como consta na sinopse, Graça, mãe solteira de dois jovens, entre eles a adolescente rebelde Papoula (Sofia Marques) – pelo nome deu para perceber a influência da mãe ex-hippie – se descobre com uma doença terminal, sem ter com quem deixar os filhos depois de seu iminente falecimento. Eis que decide entrar em contato com o irmão, com quem havia cortado relações há mais de uma década, para quem sabe deixar a seu cargo a responsabilidade.

O roteiro simples e linear é trabalhado satisfatoriamente pelos escritores, adereçando as questões necessárias, no entanto, sem se aprofundar completamente nas complexidades de certas polêmicas. Em sua essência e dentro do possível, A Glória e a Graça é um filme leve, bem humorado e que usa o drama na medida certa, não se tornando demasiadamente estarrecedor ou existencial. Essa é sua proposta, como disseram os envolvidos durante a coletiva de imprensa no Rio de Janeiro. Outros filmes se propuseram a abordar o tema sob um aspecto mais hardcore, vide Madame Satã (2002). Esta não é a proposta aqui.

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A Glória e a Graça, no entanto, não deixa de abordar ângulos um pouco menos seguros, como uma cena entre Ferraz e um potencial cliente num carro. Suas energias, porém, estão depositadas na relação entre as protagonistas e nas atuações vertiginosas das mesmas. Sandra Coverloni, atriz vencedora do prêmio em Cannes (em 2008, por Linha de Passe), segura os momentos mais emocionantes e dramáticos do longa, enquanto Carolina Ferraz é a espinha dorsal do filme. Ferraz precisava funcionar para o longa funcionar. Com uma mistura de maquiagem e próteses para deixar suas feições mais brutas, composição de postura e voz, a atriz entrega uma atuação inspirada, transitando entre intensidade e leveza, o que inclui diversos momentos de alívio cômico.

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Ao final da coletiva de imprensa, chegou ao conhecimento de todos que artistas trans estão tentando passar um documento que restringe a elas a interpretação de personagens de tal gênero. O documento, no entanto, deveria é dar liberdade para abrir o leque de opções a elas, assim permitindo atrizes e atores transgredirem a linha impositiva que segrega e divide, e que os tem aprisionado há muito tempo. Talvez após assistirem ao filme e ao trabalho de Ferraz, reconsiderem as vastas possibilidades.

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