quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | A Noiva – Terror russo aposta em berros, mas esquece do medo

A Noiva Cadáver

É bom ver tentativas de cinema mainstream de outros países que não os EUA, emplacando no Brasil. Afinal, se o cinema de arte tem seu espaço cativo em nosso país, globalizando cinéfilos alternativos, porque a mesma proposta não pode ser introduzida em cinemas de shopping, com grandes produções vindas de outros mercados. E o terror é uma boa pedida para servir como esta porta, já que é um gênero muito específico e sempre em voga com os jovens.

Ano passado, o incrível Invasão Zumbi, produção sul coreana, caiu no gosto de cinéfilos e amantes casuais de cinema, e sua entrada em seguida no acervo da Netflix contribuiu para um novo público (aqueles que não tem pressa de ir ao cinema e preferem assistir no conforto de casa) igualmente o descobrir. A Rússia também quer sua fatia deste bolo. Há alguns anos, o país investiu pesado e emplacou mundialmente seu épico de ação e fantasia, vendendo Guardiões da Noite (2004), e sua sequência Guardiões do Dia (2006), de forma intensa com seu apelo visual extravagante e efeitos especiais hollywoodianos. De brinde, o cineasta Timur Bekmambetov (O Procurado e Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros) foi exportado, fazendo carreira nos EUA.

Assista nosso vídeo sobre ‘A Noiva’

Este ano, a Rússia entrou na brincadeira dos super-heróis e investiu em sua própria interpretação do subgênero com Os Guardiões, de Sarik Andreasyan. Agora o país está de volta às salas de cinema brasileiras para lançar um filme de terror inteiramente voltado ao grande público que lota as salas dos multiplex. A Noiva, escrito e dirigido por Svyatoslav Podgaevskiy, usa como premissa a lenda russa sobre como as fotografias de mortos aprisionavam suas almas, amaldiçoando-os em nosso mundo. Bem, que bom para os que conhecem a lenda, porque o filme não se esforça muito em desenvolvê-la para nós.

A Noiva é um filme extremamente genérico, cujo único propósito parece ser enfatizar seu mote, como se fosse um grande achado. É o mesmo que se ter um conceito intrigante e deixa-lo morrer lentamente sem investir qualquer outra ideia ou pensamento para fazê-lo funcionar. Afinal, sabemos muito bem que um filme precisa ser muito mais do que simplesmente uma boa ideia para um ponto de partida.

Na trama, a jovem universitária Nastya (Victoria Agalakova) não poderia estar mais feliz. Ela está noiva e de casamento marcado com Vanya (Vyacheslav Chepurchenko) – não, este não é um romance lésbico, infelizmente, este é somente um nome típico para homens no país. Assim, o jovem apaixonado leva sua noiva para o interior, na fazenda da família, a fim que ela conheça seus parentes. No local, a matriarca é Liza (Aleksandra Rebenok), irmã de Vanya, e mãe de um casal de crianças. O local, no entanto, esconde um cabuloso segredo, e logo a protagonista se verá precisando lutar por sua vida.

A ideia de que almas são amaldiçoadas quando os mortos são fotografados é interessante, porém, o roteirista não se dá ao trabalho de adereçar a origem de tal lenda, de onde ela surgiu e por que, ou sequer apresentar os pormenores do que acontece com quem sofre tal maldição. Regras precisam ser especificadas, ainda mais se quiserem ser quebradas. A impressão que o filme passa é que os detalhes foram sendo criados no improviso, resultando em fatos desconexos e sem sentido.

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Outro ponto negativo aqui são os personagens. Mal trabalhados, eles soam apenas como rascunho de personalidades. Da protagonista Nastya, por exemplo, sabemos apenas que é uma universitária, pois sua cena de abertura a coloca numa sala de aula. De resto, a loirinha parece não ter passado ou tampouco demonstra qualquer identidade no presente, servindo somente como a donzela em perigo, tomando as decisões mais idiotas de um personagem num filme do gênero e caprichando nos pulmões para os inúmeros berros que solta durante a projeção – muitos desacompanhados do medo em si.

A parte técnica é minimamente boa. O cenário da velha casa é assustador o suficiente, sem precisar de qualquer atuação investida nela. A fotografia também garante o teor típico para o gênero, com externas enfumaçadas pela neblina – embora o nacional As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas, o deixe, no quesito, no chinelo.

A direção de Podgaevskiy não é dinâmica e termina como desserviço à sua parte técnica. A Noiva demora muito a engatar e passa a metade de sua projeção apenas preparando o terreno de sua história. Se o objetivo do cineasta era entregar algo que o grande público está acostumado a consumir, seria necessário que algo sacudisse a narrativa logo de início. O filme leva tempo com uma longa preparação, para entregar (ou tentar) o que o espectador quer ver só na segunda metade.

Junte a isso situações mal encaixadas, uma montagem problemática e atuações, digamos, boas o suficiente para o time C de Hollywood, aqueles artistas que costumam lançar seus filmes direto no mercado de vídeo. A Noiva pode ser uma boa pedida para aqueles consumidores menos exigentes do gênero. Já todos os outros, terminarão o noivado antes do casamento.

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