terça-feira, março 19, 2024

Crítica | A Torre Negra – Adaptação Morna

Que Saudade do Bom King

Ser um dos autores mais adaptados da cultura pop pode não significar muito se tais produções não fizerem jus a sua contraparte em papel.  É o que acontece com Stephen King, um dos escritores mais celebrados mundialmente, e que desde Carrie – A Estranha (1976), seu primeiro livro transformado em filme, rendeu mais de 230 produções baseadas em seus textos, entre longas, séries e filmes feitos para a TV. A qualidade da maioria, no entanto, é bem duvidosa.

Não me levem a mal, mas para cada obra-prima como O Iluminado (1980), Louca Obsessão (1990), Um Sonho de Liberdade (1994) e À Espera de um Milagre (1999), temos produções risíveis, vide Comboio do Terror (1986), Sonâmbulos (1992), O Passageiro do Futuro (1992) e Tommyknockers (1993). Esse ano King estará em voga triplamente – além da série O Nevoeiro (que já havia sido adaptado na forma de um filme de 2007) e o vindouro It – A Coisa (igualmente uma minissérie de 1990), chega aos cinemas A Torre Negra, uma das mais ambiciosas transições de um texto do cultuado artista.

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A Torre Negra é na realidade uma série literária em oito volumes, que mistura fantasia e faroeste, e cuja inspiração para King foi o autor J.R.R. Tolkien (aquele mesmo, de Senhor dos Anéis). É seguro dizer que muito do desejado pelo autor se perde na transição de mídias, e apesar de King ter dado o seu aval (seja lá por quais motivos, apesar de sabido que o escritor não tem o melhor dos discernimentos quando o assunto é cinema), o resultado não é nada mais do que medíocre.

Não sentimos, por exemplo, as influências do gênero faroeste aqui. E o resultado termina mais como O Último Grande Herói (1993), com Arnold Schwarzenegger, sem o funcional senso de humor. Extremamente genérico e rotineiro, o texto do filme apresenta o pequeno Jake (Tom Taylor), um pré-adolescente que vem tendo sonhos pra lá de estranhos. Nada de Freddy Krueger, no entanto, aqui é o Homem de Preto (Matthew McConaughey), uma figura verdadeiramente demoníaca, quem atormenta seu subconsciente.

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A série literária pode ser especial e arrastar muitos fãs em sua mitologia, mas vale enfatizar para que ninguém esqueça: aqui iremos avaliar somente o FILME. O que é mostrado nas telas. Portanto, esqueçam os livros. Agora digam se esta trama soa familiar: um grande vilão planeja dominar o mundo e para isso pretende soltar forças das trevas no planeta. O único que pode impedi-lo é um menino, o escolhido, que contará com o preparo e ensinamentos de um homem duro e justo, a quem chamará de mestre. Pois é, de tudo desde Star Wars, passando por Matrix, até os filmes atuais de super-heróis, esta fórmula estrutural da jornada do herói está mais do que batida e necessita de diferenciais em suas entrelinhas – não encontrados aqui. Para se ter uma ideia da reciclagem, ganhamos até o infame raio que sobe para o céu, contido na maioria dos blockbusters feitos nos últimos anos.

O roteiro de A Torre Negra é deficiente ao nos apresentar este outro mundo, a dimensão na qual residem Walter, o Homem de Preto, e sua contraparte, o Pistoleiro Roland (Idris Elba). Mas não é somente o local que é explicado de forma pobre, ou não é explicado. As figuras dos protagonistas e suas personalidades são completamente eclipsadas pelo menino, o personagem mais bem trabalhado pelo texto, porém, igualmente genérico até os ossos – afinal, quantas crianças participando de uma grande aventura com consequências cataclísmicas para a história da humanidade o cinema já nos apresentou?

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Não deixe de assistir:

A Torre Negra também falha em nos mostrar além do básico, da superfície, de ambos o Pistoleiro e o Homem de Preto. Os dois são definidos através de uma única nota. Enquanto Elba com seu Pistoleiro elabora sua melhor cara de durão durante toda a projeção (servindo aqui e acolá de alívio cômico), McConaughey está mais contido do que de costume e talvez do que pediria o personagem – o que de certa forma é bem vindo, já que o caminho esperado era o excesso de maneirismos, afetação e caricatura. O diabo de McConaughey é apenas esquecível.

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Em resumo, os atores não possuem muito com o que trabalhar e A Torre Negra não passa de um amontoado de efeitos especiais, incapazes de criar qualquer conexão com a plateia. Completamente desprovido de humanidade, o filme soa como um enlatado mecânico, confeccionado por um grande estúdio, que sequer demonstra acreditar no projeto. Os protagonistas soam desmotivados no filme, e McConaughey parece desinteressado em vender este peixe em suas entrevistas. Não me surpreenderia se daqui a pouco notícias sobre a mutilação do longa surgirem, já que o filme realmente soa como “remontado” às pressas.

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É uma pena para todos os envolvidos. É uma pena para a promissora Abbey Lee (Mad Max: Estrada da Fúria e Demônio de Neon), que no filme vive uma apagada serviçal de Walter, e uma pena para o cineasta dinamarquês Nikolaj Arcel, em sua estreia Hollywoodiana após o aclamado indicado ao Oscar de filme estrangeiro O Amante da Rainha (2012). Oportunidade perdida é a frase que talvez melhor defina a frustração. O lema, no entanto, é desistir jamais, e a ideia já começa a ser desenvolvida como uma série de TV, pronta para estrear em 2018, com Idris Elba vivendo o mesmo personagem neste prelúdio e o diretor Arcel roterizando. Será que agora vai?

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