terça-feira, março 19, 2024

Crítica | (Des)encanto: Parece com Os Simpsons, mas não é

Muitas  séries de TV são historicamente marcadas por influenciar gerações específicas, contribuindo significativamente para definir a cultura POP pelos anos que norteiam seu período de duração. E entre clássicos emblemáticos dos anos 70, 80 e 90, como Diff’rent Strokes (Minha Família é Uma Bagunça), Growing Pains (Tudo em Família), Family Ties (Caras e Caretas) e Full House (Três é Demais), surgiu Os Simpsons. Se imortalizando há 30 temporadas como a série que tem o maior número de ciclos da história, ela também faz parte de quatro décadas/gerações – e contando. E seu criador, Matt Groening, arregaçou as mangas mais uma vez e trouxe aqueles traços que tanto amamos para uma estética medieval em (Des)encanto, sua nova animação pela Netflix.

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A ilustração que tem nos acompanhado desde 1989 com a famosa família do patriarca Homer Simpson está ali, constantemente nos remetendo à sua criação original. No entanto, sua maior semelhança com Os Simpsons reside (quase) apenas nisso. Com um humor ácido capaz de causar estranheza na maior parte da audiência, a animação da Netflix tem um potencial enorme, que inicialmente já tenta quebrar os preconceitos que um desconforto um tanto natural gera em primeira instância no público. Por ser autenticamente politicamente incorreta, (Des)encanto aborda questões sociais e políticas por uma ótica dilacerada, deixando a sutileza e as insinuações de lado, para tratar temáticas como igualdade de gênero, distinção social – por meio de classes – e as atrocidades de pragas e pobreza de maneira bem direta. Sem medo de ser dura demais, ela tecnicamente chuta o balde, sendo divertidamente inconveniente, mantendo a irreverência como o seu mote.

Por ser clinicamente direcionada ao público adulto, (Des)encanto rompe com as censuras mais baixas, deixando os fãs mais jovens de Os Simpsons a ver navios, distantes da nova produção. Caminhando com suas próprias pernas, a série animada dita suas próprias referências e se materializa como aquele desejo não consumado que Matt Groening tinha de fazer piadas tão ardidas, que jamais poderiam ser ditas diante das audiências da Fox. Remetendo o público a uma sucessão de easter-eggs da cultura POP, saboreamos tamanha acidez por meio de alguns dos elementos que mais amamos do cenário atual da indústria do entretenimento. Uma réplica do Trono de Ferro logo no primeiro episódio é a lembrança inicial de que há muito mais pelo caminho.

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E o vínculo direto com a narrativa da Idade Média se torna um prato cheio para a produção, que se esbalda na lista infindável de preconceitos e paradigmas político sociais instituídos por um sistema autocrático falido, sustentado pela submissão desmedida de um povo com pouca instrução e recursos. Com esse pano de fundo, a animação traz a princesa Bean (voz de Abbi Jacobson) à frente da trama, no auge da transição para a juventude, repleta de questionamentos, incompreendida por si mesma e pelos outros e com um espírito libertino com tendências que poderiam até chegar ao hedonismo, mas sabiamente se abstém em tempo. Acompanhada por duas criaturas peculiares e suspeitas, ela é também uma sátira de comédias coming of age e ao invés de se desabrochar em sábias lições sobre o autocrescimento, só evidencia a loucura desmedida natural da idade.

Trazendo para o público problemáticas reais, pelo filtro da ironia e do sarcasmo, (Des)encanto faz críticas genuínas à sua maneira, descompromissada em promover uma metanoia, estando mais disposta a entreter. Com episódios curtos que passam em uma velocidade impressionante, a nova série animada da Neetflix é aquilo que nós nem sabíamos que precisávamos, mas provavelmente não saberemos viver sem.

 

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