sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Elis

Por Julie Nunes

É pau, é pedra, é o fim do caminho?

Contar a história de uma figura importante de um país definitivamente não é uma tarefa fácil, mas na qual vemos o cinema brasileiro se aventurar mais nos últimos tempos com títulos como Cazuza (2004), Heleno (2011), Gonzaga (2012), Tim Maia (2014), Não Pare na Pista (2014), entre outras que possuem um caráter documental, como Simonal – Ninguém sabe o duro que Dei (2009), Raul- O Início, o Fim e o Meio (2012) e Marighella (2012).  Peças biográficas, sejam em qual formato for, costumam conseguir uma excelente atenção do público que por diversas razões – que vão desde a admiração pelo personagem em questão até mesmo a mais simples curiosidade  – são instigados a consumir.

Elis Regina é um desses personagens riquíssimos de se abordar. Com uma simples pesquisa se encontrará uma infinidade de materiais sobre, e com toda certeza não é por menos, dado o talento estrondoso da cantora, que se perpetua até hoje como um dos principais nomes da MPB. Contudo, Elis ia muito além do quesito musical, e como todo e qualquer ser humano era bem mais complexa do que o seu papel enquanto cantora.

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Aqui surge o maior problema do longa Elis, dirigido Hugo Prata: seu principal arsenal é quase que exclusivamente a cantora Elis Regina e muito pouco a pessoa. O fato interfere inegavelmente na atuação de Andreia Horta, que não evolui presa dentro de um círculo vicioso de imitações caricatas, na tentativa de a cada segundo, ou melhor, a cada frame, lembrar a si mesma de que aquela é Elis Regina. Dado o desenvolvimento do longa, Elis não é muito além de uma risada larga e uma voz descomunal ( sendo, obviamente, a da própria Elis usada na obra).

Seu primeiro plano é o único acerto visual de todo o longa que, por meio de uma silhueta,  pouco revela a atriz e traz imediatamente uma sensação real de Elis Regina cantando um de seus maiores clássicos. Desse momento em diante a narrativa se revela clipada, exagerando no uso de fades out para conseguir ligar uma cena a outra, pois na história os pontos escolhidos como  condutores não conseguem dialogar entre si, praticamente não existindo cenas que sejam consequência de outras anteriores. Mas não se engane, não se trata de uma tentativa de linguagem de vanguarda, não são os famosos “jump-cuts”, apenas uma falta de estrutura firmada em fazer nada além do mínimo para ainda haver sentido.

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Existem ainda questões de caracterização que podem ser bastante questionáveis, como, por exemplo, a peruca do início do longa, ou o pouco trabalho com o ator Ícaro Silva – esse que já é Simonal no teatro há algum tempo, e agora faz e Jair Rodrigues no cinema. Já este ponto certamente faz lembrar a ausência lamentável de Milton Nascimento e Belchior enquanto personagens, no entanto, também há a feliz presença de Lannie Dale interpretado por Julio Andrade, que consegue desempenhar um bom papel mesmo dentro de uma narrativa tão difusa.

Fraco e com muitos clichês visuais apelativos, como a cena em que Elis (Andreia Horta) faz sexo com Bôscoli (Gustavo Machado) – que só existe para justificar a concepção, mesmo assim se mostrando desnecessária, por ser algo natural e esperado de recém casados –  perdendo tempo com algo insignificante para o desenvolvimento da história.  Outro exemplo é a cena na qual Elis chega e vê o berço vazio, levando-a a um instante de pânico, que não só é mal construído, como mais uma vez pouco acrescenta para a história como um todo. Infelizmente, a obra é bastante rasa, irregular, e não merece o amplo destaque que vem ganhando, principalmente na atual safra do cinema nacional.

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