terça-feira, abril 16, 2024

Crítica | Esta é a sua Morte: O Show – O filme de péssimo gosto do ano!

Jogos Mortais televisionado

A batida premissa do vilão que usa como desculpa tentar dar uma lição para que suas vítimas aprendam o valor da vida, enquanto tenta matá-las, pode ter funcionado em Jogos Mortais (2004) – embora tenha ficado repetitivo nas inúmeras sequências. Temos que levar em conta a mente abalada e desequilibrada do antagonista desta franquia de torture porn, e analisando por este prisma é cabível que uma pessoa insana possa justificar seus mais terríveis atos através de um ideal deturpado de justiça e bondade. Ele estaria salvando estas pessoas de suas próprias vidas erráticas. Bem, por mais absurdo que pareça ser, não destoa muito do resto do teor destes filmes, com suas armadilhas fantásticas e mirabolantes, simplesmente impossíveis de serem replicadas na vida real.

Bom, mas esta não é uma crítica ao novo Jogos Mortais, em cartaz nos cinemas, ou qualquer outro exemplar de sua série cinematográfica (temos outros textos aqui no CinePOP para isso). A ideia aqui é apenas usar como base comparativa, na hora de analisar o absurdamente chocante Esta é a sua Morte – O Show, produção norte-americana que passou rápido (meio com vergonha) pelas salas de cinema brasileiras e já desembocou no mercado de vídeo, na plataforma Now da Net – onde você pode encontrá-lo (por sua conta e risco – eu não recomendo). E quando digo absurdamente chocante, é óbvio que me refiro ao choque no bom senso e bom gosto que esta premissa, digamos, bem idiota, dá em seu espectador.

O roteiro escrito por Kenny Yakkel e Noah Pink nos deixa boquiabertos, sem acreditar no que estamos vendo em tela. Bem, vamos lá, vou tentar resumir. Um famoso apresentador de reality show interpretado por Josh Duhamel (da franquia Transformers) passa por uma experiência traumática, quando a final do programa de namoro que apresenta termina em tragédia. Um sujeito milionário opta por uma de suas pretendentes, enquanto a outra, rejeitada, saca uma arma, mata o ricaço durante a gravação e depois tira a própria vida. O evento deixa o protagonista num estado frágil. Enquanto fica fora alguns dias de licença, ele não consegue tirar da cabeça as imagens fortes que presenciou. Qualquer coisa que faça, como exercícios ao ar livre, subitamente logo é interrompido pela aflição e passa mal, por exemplo.

Tamanho trauma pode marcar para sempre a vida de uma pessoa, certo? Bem, o filme esquece logo isso, quando ele sem pestanejar aceita apresentar um novo programa no qual os participantes precisam cometer suicídio ao vivo. Que ideia de gênio! E quem foi a responsável? Ah sim, a produtora inescrupulosa vivida por Famke Janssen (coitada), que deixa sua vilã Xenia Onatopp de 007 Contra Goldeneye (1995) ou até mesmo a Fênix de X-Men: O Confronto Final (2006) no chinelo. Ilana Katz, sua personagem aqui, é o estereótipo da mulher de negócios fria e calculista elevado à potência máxima e usando esteroides. De fato, a mulher soa verdadeiramente como um robô sem emoções. Óbvio que uma mente maligna iria sugerir algo tão nefasto, o que assusta mesmo é não apenas outros concordarem, inclusive o protagonista abalado, mas tal ideia ser de fato produzida sem consequências.

Bem, vamos lá. É claro que o objetivo aqui é servir como crítica aos reality shows, cada vez mais explícitos, chocantes e absurdos, consumidos com voracidade pelo público, cada vez menos exigente. É o que o humorista Mike Judge afirma em Idiocracia (2006), um filme não muito bom, mas que serve a um propósito e passa sua mensagem. O que o texto deste filme propõe a dizer – de forma bem atrasada, diga-se, já que a esta altura criticar realities soa praticamente como criticar a internet ou mídias sociais – é que em breve teremos programas como esse, onde tudo será permitido. Ok, entendemos. O problema é que o faz com pouquíssima (ou nenhuma) propriedade, qualquer senso de humor e fortemente tenta ser levado a sério. Para uma proposta tão alucinada como esta, era necessário humor. Durante toda a exibição fiquei pensando se o mesmo material poderia ser salvo caso estivesse vestido por outro gênero, como a comédia.

As motivações dos personagens são péssimas e não convencem. Peguemos, por exemplo, o citado protagonista. Depois de negar de forma veemente a proposta da insana produtora, a decisão certa, ele para e observa uma jovem rodar suas fitas numa espécie de balé rítmico. E daí ele tem uma epifania, e decide aceitar o cargo, mas sua visão é a de que o programa no qual pessoas se matam ao vivo não é sobre morte, é sobre vida, já que irá ensinar os espectadores ávidos por sangue que o assistem, sobre a vida e o seu valor. Nossa! É como usar de dieta o método de comer na frente de pessoas que querem emagrecer. E o sujeito profere tais palavras com a maior cara lavada, para ele isto faz sentido! Não só isso, mas existe também a jovem diretora do programa Sylvia, papel da bela Caitlin FitzGerald, mulher equilibrada, sensata e de boa índole. Certamente ela recusa esta oferta de muito mau gosto. Até embarcar como diretora do programa também!!(?)

Não deixe de assistir:

O que assusta mais é ver que o talentoso Giancarlo Esposito, o Gus Fring de Breaking Bad e Better Call Saul, aceitou dirigir esta bomba. O ator até tenta, mas jamais consegue tratar com o mínimo de sutileza o material. Talvez fosse impossível. Ele também atua no longa, no papel de um sujeito sofredor, que está com a corda no pescoço, sem conseguir encontrar emprego para cuidar de sua família. Devo dizer também que os participantes do programa, os quais se matam ao vivo, são todas pessoas desesperadas, precisando de dinheiro ou com alguma pendência, que terminam por conseguir ajudar os familiares devido ao prêmio que recebem após sua morte – providenciado pelo canal de TV satânico.

E adivinha quem será o mais novo participante. Pois é, o filme constrói a jornada do personagem de Esposito em sua derrocada, até o fatídico dia de sua participação ao vivo, como último recurso para salvar os entes queridos da bancarrota.

Esta é a sua Morte é o tipo de filme que aponta o dedo em nossa cara e nos chama de idiota. Que não tem razão de existir. Que tem um péssimo gosto em seu discurso, recheado de sentimentos ruins, de ideias deturpadas, vendidas como entretenimento. Nunca achei que diria isso, mas perto desta joça, qualquer exemplar da franquia Jogos Mortais (tirando o primeiro, que é verdadeiramente bom) soa como o mais divertido blockbuster. Você pode imaginar. Pior que isso é quando esta troça tenta passar sermão em seu público, ou ter cacife para dar lição de moral, contido em sua filosofia de boteco. No final, o longa sequer cumpre o prometido, se acovardando e escolhendo o caminho mais fácil, o que nos deixa mais enfurecidos ainda – me refiro ao desfecho do personagem de Esposito.

Esta é a sua Morte é grotesco, mal intencionado e uma anomalia cinematográfica. Os envolvidos deveriam envergonhar-se e muito. E mais uma vez, seu maior pecado é sequer se esconder atrás de um gênero, pelo contrário, tentar vender a ideia como algo significativo e existencialista. É de dar pena. Já está na minha lista dos piores do ano, ou seja, não foi de todo ruim tê-lo assistido.

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