quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | First They Killed My Father – Angelina Jolie, Netflix e o Camboja no Oscar

O silêncio eloquente 

Desde seu conhecido primeiro contato com o Camboja, ainda na época de filmagem para o longa Lara Croft: Tomb Raider,  lançado em 2001, Angelina Jolie estreita laços com o local que é um dos pontos principais dentro da carreira ativista que desenvolve. Soa natural e parece parte de um processo cuidadoso de amadurecimento que seu mais recente projeto narre uma história tão visceral passada no país.

First They Killed My Father é baseado no livro homônimo de memórias da autora e ativista cambojana Loung Ung, no qual narra o início do regime liderado pelo Khmer Vermelho, organização do partido comunista Kampuchea que se dá entre 1975 até 1979. O filme começa com uma breve contextualização do período político que proporciona as condições dos acontecimentos que se darão ao longo do obra por meio de imagens de arquivo, dispostas em uma montagem paralela apresentando a invasão americana e a insatisfação de seus soldados, bastante didática- porém prestativa- que é acompanhada pela insinuante música dos Rolling Stones,  Simpathy for the Devil.

Essa parcela inicial carregada por um apelo mais pop, ritmado e colorido serve enquanto contraponto ao que se segue e é bastante funcional dentro da lógica narrativa e em lhe conferir consistência política suficiente para o que se coloca em sua proposta. Rapidamente se torna notório que não há intenção de criar um dossiê sobre os fatos históricos, mas acompanhar o sensorial de sua protagonista Loung Ung (Sareum Srey Moch), o que se torna o maior trunfo da obra pois evidencia a impotência da população cercada por uma guerra aonde todos os lados dizem zelar por um bem maior sem isso de fato acontecer.

Todos os departamentos do longa se dedicam ao trabalho de transpor o universo dentro da perspectiva de sua protagonista, uma menina de cinco anos, que subitamente se vê em um prolongado turbilhão, no qual ela é arremessada e aos poucos perde tudo que lhe era referência. Para isso o roteiro, realizado pela própria Loung Ung em parceria com Angelina Jolie, enfatiza como era a vida da personagem – antes e durante o regime – , a inocência e sensações; há pouco diálogo e uma protagonista introspectiva. Esses elementos se tornam qualidades em diversos aspectos, principalmente no excelente trabalho da jovem atriz Sareum Srey Moch que é capaz de transmitir o desnorteamento, o medo e a fragilidade geralmente por meio de planos que valorizam seu olhar.

 

Outro valor que é ressaltado nessa construção mais sensorial é sua trilha, não só musical, criada por Marco Beltrami, mas uma elaborada mixagem que acentua as atmosferas e transições. Pontuado por trabalhos minuciosos dentro de sua camada estética, não é engano dizer que a diretora apresenta um enorme preparo e um desempenho muito superior se comparado aos seus trabalhos anteriores, apesar de ainda ceder a alguns planos menos articulados, como quando realiza mais de um plano zenital sem que aquilo se adeque dentro do conceito desenvolvido a partir do olhar da personagem.

Seu ritmo mais delongado cria um nível de suspensão eloquente em escoar as fantasias que se misturam com memórias de uma jovem que se vê obrigada a absorver violentamente mais do que poderia e deveria, contudo,  em seu final o filme abandona esse tempo fechando a narrativa em uma cena menos criativa e um tanto desnecessária, tendo em vista que é uma redundância diante o plano que a antecede.

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