terça-feira, março 19, 2024

Crítica | Gilmore Girls: Um Ano para Recordar

Por Letícia Alassë

Os primeiros minutos de Gilmore Girls – Um ano para Recordar já nos transportam direto para quase 10 anos atrás. Lorelai (Lauren Graham) e Rory (Alexis Bledel) conversam de forma rápida e cheia de referências, como “I dreamed a dream” de Os Miseráveis (2012), e Zoolander 2 (2016). Aliás, as citações transbordam entre os diálogos, de Game of Thrones ao seriado francês Les Revenant, passando por Narcos. Com os filmes, elas vão do ganhador do Oscar Spotlight (2015) a piadas com Livre (2014), Marcas da Violência (2005) e O Poderoso Chefão (1972). Sobra ainda para os youtubers e o estilo coque samurai. Já sobre música, ninguém se atreve a numerá-las.

O primeiro episódio, Winter, é caloroso e emocionante, como se a gente reencontrasse um grande amigo e quisesse saber tudo que lhe ocorreu nos últimos anos. Em resumo, Lorelai e Luke (Scott Patterson) estão juntos; Rory está aqui e lá em uma correria entre Stars Hollow, Hartford, Nova York e Londres. Sookie (Melissa McCarthy) abandonou o Dragonfly Inn e Michel (Yanic Truesdale) parece querer tomar o mesmo rumo. Já Emily (Kelly Bishop) está de luto e desnorteada com a morte do seu marido Richard (Edward Herrmann).

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Escrito e dirigido por Amy Sherman-Palladino, o primeiro episódio nos surpreende em vários aspectos. A vida profissional e amorosa de Rory, principalmente. Aos 32 anos, a menina prodígio ainda não conseguiu lidar com a vida adulta. Faz parte de uma geração que leva a adolescência até o limite e no seriado eles brincam com isso chamando de a Gangue dos 30 e poucos (Thirtysomething Gang). Os jovens que foram para faculdade, rodaram o mundo e foram “cuspidos” de volta para o antigo quarto na casa dos pais.

Por um lado, Rory conseguiu algum sucesso na carreira de jornalista, no entanto, está meio sem rumo para os próximos passos. Não tem um emprego estável, ainda acredita ser boa demais para certos trabalhos e não possui há tempos um relacionamento sério. Ela, na verdade, tem um amante secreto. Será que já poderíamos prever essa tendência desde a sua primeira vez com o ex-namorado casado na quarta temporada?

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Assim como nos sete anos da série, Lorelai continua sarcástica, egoísta e imatura. Aos 48 anos, ela e a mãe ainda não conseguem se entender.  O primeiro episódio tem uma ótima cena de desconstrução dessa barreira, mas as sequências voltam a remoer o passado de forma pesarosa. Se Lorelai é um personagem querido exatamente por não se encaixar em nenhum estereótipo feminino, não espere que a idade a tenha mudado. Ela consegue olhar um pouco para fora do próprio umbigo e questionar as suas escolhas, mas o caminho até lá é bastante tragicômico.

Precisamos lembrar que a vida em uma cidadezinha como Stars Hollow costuma ser bem pacata, portanto, os personagens são os mesmos e as evoluções são bem restritas. Kirk (Sean Gunn) continua com ideias loucas e comportamento incomum, agora com um segundo curta-metragem e um porco de estimação. Luke segue na sua lanchonete, ranzinza, mas com momentos de doçura, enquanto Taylor Doose (Michael Winters) administra a cidade e idealiza um musical contando a história local. São vários minutos de uma apresentação, no mínimo, bizarra.

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Os segundo e terceiro episódios – Spring e Summer -, escritos por Daniel Palladino, são mais amenos, para não dizer arrastados. Após a apresentação das situações vem a travessia dos problemas até o momento de redenção. A química entre as protagonistas continua afiadíssima e vemos diálogos engraçados e momentos de tensão entre as duas. A imprevisibilidade das situações e os acontecimentos despadronizados permanecem como o grande diferencial e chamariz do seriado, assim como os seus personagens.

Liza Weil está formidável na sua representação de Paris Geller, apesar do mesmo estilo visual de Bonnie, de How To Get Away With a Murder. A volta dos personagens desaparecidos como Dean (Jared Padalecki), Francie Jarvis (Emily Bergl) e Jesse (Milo Ventimiglia) são bem amarradas e rende momentos significativos. É Jesse que indica uma direção para Rory, algo que ela toma para si com ímpeto. A visita de Rory ao seu pai Christopher (David Sutcliffe) também proporciona um diálogo rico e revelador ao fim da saga.

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A volta de Gilmore Girls não é para dar um final feliz à história. Amy Sherman-Palladino nunca utilizou um tom de conto de fadas, apesar das baladinhas folk entre as cenas, mas sim humor ácido e debochado para criticar o patriarcado e os valores morais. A graça, a beleza e o romantismo vinham de situações atípicas, mas realísticas.

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Portanto, Um Ano Para Recordar é para reviver, transgredir a temporalidade e refletir sobre a vida. Sobra emoção no último episódio, Fall, escrito por Amy. E é apenas um recomeço para novos desafios e fases. Emily muda seu estilo de viver, Lorelai toma uma decisão importantíssima e Rory lida com as frustrações amorosas e profissionais.

As últimas quatro palavras, pedidas para serem guardadas sob sete chaves, são bombásticas, e, claro, uma esperança para uma possível continuação. Todos os elementos que fizeram de Gilmore Girls um sucesso anos atrás estão presentes. Não esperem finais felizes, resoluções satisfatórias ou escolhas sábias. As mulheres Gilmore fazem as suas opções por vontade, satisfação e coragem. É possível se identificar, assim como repudiá-las, mas nunca ser indiferente. São seis horas de puro encantamento e diversão.

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