sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | GLOW – Netflix ressuscita os anos 80 em mais uma série “da hora”

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Tubos de laquê, permanentes, ombreiras, tailleurs com cintura marcada. A década de 80 trouxe algumas peculiaridades que sequer haviam permeado a mente daqueles que fizeram dos anos 70 a época do desapego emocional e estilístico. Como uma espécie de ruptura repentina, ela divide os tempos entre o epílogo do passado e o prelúdio do futuro e traz em sua estética a marca de um movimento sociocultural que nos alcança em plenos 2017. O que aqueles atributos iniciais têm a ver comigo e com você? Bem, eles são os fragmentos evidentes de uma era que se consagrou como uma das mais emblemáticas por romper todas as barreiras que em pleno século XXI ainda tentamos derrubar. Eles são o simbolismo dialético de uma era em que a mulher sai das extremidades e vem para o centro do ringue. Eles estão todos lá, literal e figurativamente na nova série da Netflix, ‘G.L.O.W’.



O anagrama em si já é bem representativo. Em alusão à palavra brilho, a série é pura e simples em fazer uma referência direta ao programa de TV que contava com um grupo de lutadoras amadoras dos anos 80, que em uma espécie de espetáculo circense colocava mulheres dos mais diversos portes físicos para digladiar artisticamente entre si. Aos moldes das famosas e salivantes Luchas Libres mexicanas, ‘Gorgeous Ladies On Wrestling’ foi um reality show que existiu e trouxe uma leva de fãs que variaram dentre o público masculino e até mesmo donas de casa, a acompanharem mulheres poderosas com penteados imaculados se posicionando dentro de um ringue. Corpos esguios ou avantajados, alturas médias, altas ou baixas… o bando se consagrou tardiamente por usar a sensualidade feminina como um emponderamento social.

Mulher luta? Sim e muito bem, obrigado.

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Fins corretos, meios escusos. Honestamente, a premissa original de ‘G.L.O.W’ tinha em sua essência o frenesi masculino da testosterona em níveis altos, mas inerentemente a quebra de paradigmas atingiu seu grande objetivo – como vemos consecutivamente ao longo de toda a década em outras esferas. Em um período em que o Power Dressing desenvolvido por Gianni Versace adotava ombreiras em blazers ajustados para salientar a altura da mulher e colocá-la em uma posição de destaque em meio aos homens no meio corporativo, a luta livre vai pelo caminho oposto ao despi-las e naturalmente exerce o mesmo papel, só que de maneira mais brutal e nada sutil.

O estilo pitoresco e flamboyant, que nos remete diretamente à suntuosa estética adotada pelo showman Liberace – outro ícone cultural da época – é o brilho que vemos no título original. Muito mais que reluzir na pele e nas meias calças de lurex, este anagrama confere o mesmo fulgor a cada uma das lutadoras, as tirando da famigerada e cansada expressão “sexo frágil”.

E de maneira pontual, a Netflix reúne todos estes aspectos históricos de uma série que se perdeu no tempo e quase teve seu mesmo brilho apagado pelos anos vindouros. Resgatando sua importância e trazendo o relato passado ao debate atual do papel da mulher social e culturalmente, novamente somos confrontados a respeito da realidade em que vivemos. Se mulheres já assumiam postos de chefia em corporações e lutavam em plena década onde a internet ainda era um ideal e a IBM disputava espaço com a Apple para lançar os primeiros computadores, por que será que ainda temos dificuldade com os mesmos assuntos 30 anos depois?

Ainda não respondidas, perguntas como essas encorpam ainda mais o roteiro da produção original baseada no reality show. Com a mesma criadora da consagrada Orange Is The New Black’, Jenji Kohan, ‘G.L.O.W’ é uma comédia que aborda os estereótipos tão comuns dos anos 80, que quase beiram os preconceitos mais diversos, e ironicamente os usa como instrumentos libertários para as protagonistas. Mostrando a dificuldade de ser levada a sério em profissões naturalmente consideradas masculinas, a nova série é sensível ao tratar com delicadeza a satisfação plena que se posicionar mediante seus princípios – independente das opiniões alheias – confere às mulheres.

Sabendo que muitos vão julgar exagerada a declaração que a série faz diante da audiência, ‘G.L.O.W’ da Netflix traz um elenco predominantemente feminino, invertendo papéis, à medida que coloca o sexo oposto como espectadores do show da vida ofertado por cada uma delas. Com uma estética que acompanha os cortes de cabelo e a moda da época, a série é também uma prazerosa epifania no tempo, que faz da trilha sonora a grande narradora de toda a trama. Journey, Roxette, Go-Gos, Scorpions e Queen são algumas das vozes que tomam a narrativa para si, ambientando a história como se estivéssemos vivenciando uma época com a qual só conseguimos nos deleitar com os clássicos oitentistas.

Divertida e leve, ‘G.L.O.W.’ solidifica a premissa da plataforma de streaming em dar vazão a todos os gêneros e públicos mais distintos. Trazendo um debate sério de forma agradável, a produção não é uma exaustão mental, extrai algumas risadas em circunstâncias pontuais e revela o intenso potencial criativo que ela tem para criar conteúdos originais. Com um elenco sortido, que ratifica a pluralidade existente entre as mulheres, a série coloca a representatividade no topo, à medida que nos leva a testemunhar um momento clínico da cultura POP que muitos de nós jamais pensávamos ter existido.

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Tubos de laquê, permanentes, ombreiras, tailleurs com cintura marcada. A década de 80 trouxe algumas peculiaridades que sequer haviam permeado a mente daqueles que fizeram dos anos 70 a época do desapego emocional e estilístico. Como uma espécie de ruptura repentina, ela divide os tempos entre o epílogo do passado e o prelúdio do futuro e traz em sua estética a marca de um movimento sociocultural que nos alcança em plenos 2017. O que aqueles atributos iniciais têm a ver comigo e com você? Bem, eles são os fragmentos evidentes de uma era que se consagrou como uma das mais emblemáticas por romper todas as barreiras que em pleno século XXI ainda tentamos derrubar. Eles são o simbolismo dialético de uma era em que a mulher sai das extremidades e vem para o centro do ringue. Eles estão todos lá, literal e figurativamente na nova série da Netflix, ‘G.L.O.W’.

O anagrama em si já é bem representativo. Em alusão à palavra brilho, a série é pura e simples em fazer uma referência direta ao programa de TV que contava com um grupo de lutadoras amadoras dos anos 80, que em uma espécie de espetáculo circense colocava mulheres dos mais diversos portes físicos para digladiar artisticamente entre si. Aos moldes das famosas e salivantes Luchas Libres mexicanas, ‘Gorgeous Ladies On Wrestling’ foi um reality show que existiu e trouxe uma leva de fãs que variaram dentre o público masculino e até mesmo donas de casa, a acompanharem mulheres poderosas com penteados imaculados se posicionando dentro de um ringue. Corpos esguios ou avantajados, alturas médias, altas ou baixas… o bando se consagrou tardiamente por usar a sensualidade feminina como um emponderamento social.

Mulher luta? Sim e muito bem, obrigado.

 

Fins corretos, meios escusos. Honestamente, a premissa original de ‘G.L.O.W’ tinha em sua essência o frenesi masculino da testosterona em níveis altos, mas inerentemente a quebra de paradigmas atingiu seu grande objetivo – como vemos consecutivamente ao longo de toda a década em outras esferas. Em um período em que o Power Dressing desenvolvido por Gianni Versace adotava ombreiras em blazers ajustados para salientar a altura da mulher e colocá-la em uma posição de destaque em meio aos homens no meio corporativo, a luta livre vai pelo caminho oposto ao despi-las e naturalmente exerce o mesmo papel, só que de maneira mais brutal e nada sutil.

O estilo pitoresco e flamboyant, que nos remete diretamente à suntuosa estética adotada pelo showman Liberace – outro ícone cultural da época – é o brilho que vemos no título original. Muito mais que reluzir na pele e nas meias calças de lurex, este anagrama confere o mesmo fulgor a cada uma das lutadoras, as tirando da famigerada e cansada expressão “sexo frágil”.

E de maneira pontual, a Netflix reúne todos estes aspectos históricos de uma série que se perdeu no tempo e quase teve seu mesmo brilho apagado pelos anos vindouros. Resgatando sua importância e trazendo o relato passado ao debate atual do papel da mulher social e culturalmente, novamente somos confrontados a respeito da realidade em que vivemos. Se mulheres já assumiam postos de chefia em corporações e lutavam em plena década onde a internet ainda era um ideal e a IBM disputava espaço com a Apple para lançar os primeiros computadores, por que será que ainda temos dificuldade com os mesmos assuntos 30 anos depois?

Ainda não respondidas, perguntas como essas encorpam ainda mais o roteiro da produção original baseada no reality show. Com a mesma criadora da consagrada Orange Is The New Black’, Jenji Kohan, ‘G.L.O.W’ é uma comédia que aborda os estereótipos tão comuns dos anos 80, que quase beiram os preconceitos mais diversos, e ironicamente os usa como instrumentos libertários para as protagonistas. Mostrando a dificuldade de ser levada a sério em profissões naturalmente consideradas masculinas, a nova série é sensível ao tratar com delicadeza a satisfação plena que se posicionar mediante seus princípios – independente das opiniões alheias – confere às mulheres.

Sabendo que muitos vão julgar exagerada a declaração que a série faz diante da audiência, ‘G.L.O.W’ da Netflix traz um elenco predominantemente feminino, invertendo papéis, à medida que coloca o sexo oposto como espectadores do show da vida ofertado por cada uma delas. Com uma estética que acompanha os cortes de cabelo e a moda da época, a série é também uma prazerosa epifania no tempo, que faz da trilha sonora a grande narradora de toda a trama. Journey, Roxette, Go-Gos, Scorpions e Queen são algumas das vozes que tomam a narrativa para si, ambientando a história como se estivéssemos vivenciando uma época com a qual só conseguimos nos deleitar com os clássicos oitentistas.

Divertida e leve, ‘G.L.O.W.’ solidifica a premissa da plataforma de streaming em dar vazão a todos os gêneros e públicos mais distintos. Trazendo um debate sério de forma agradável, a produção não é uma exaustão mental, extrai algumas risadas em circunstâncias pontuais e revela o intenso potencial criativo que ela tem para criar conteúdos originais. Com um elenco sortido, que ratifica a pluralidade existente entre as mulheres, a série coloca a representatividade no topo, à medida que nos leva a testemunhar um momento clínico da cultura POP que muitos de nós jamais pensávamos ter existido.

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