sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Jogo do Dinheiro

Um filme cheio de tensão e substância

Poucos sabem que a consagrada atriz Jodie Foster é também diretora de cinema há décadas e tem no currículo longas como Mentes que Brilham (1991), Feriados em Família (1995) e Um Novo Despertar (2011). Todos de certa maneira abordam temas pessoais e familiares, evidenciando assim o olhar mais atento da realizadora para o humano em sociedade. E em seu novo trabalho, Jogo do Dinheiro, Foster procura ampliar esse debate e contextualiza assuntos importantes e delicados à trama.

A história gira em torno do programa Money Monster que é apresentado por Lee Gates (George Clooney), um sujeito que virou celebridade em Wall Street por aconselhar direcionamentos financeiros no mercado de ações, devido a informações privilegiadas que tinha acesso. Sempre coordenado atentamente por Patty Fenn (Julia Roberts), produtora geral do show. Em um dia comum de trabalho, ambos são surpreendidos por Kyle Budwell (Jack O’Connell) que armado invade o estúdio ao vivo alegando ter perdido tudo devido a uma indicação errada de Lee.

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Fazendo o apresentador de refém, Kyle exige que continuem transmitindo o evento para que o mundo veja quem realmente é o homem por trás das câmeras. Em contrapartida, a audiência do programa aumenta amplamente e a curiosidade do público se aguça quando novas facetas em relação ao caso são reveladas ao decorrer da exibição. E nesse aspecto a fita se espelha bastante no clássico de Sidney Lumet, Rede de Intrigas (1976), ou no também emblemático A Montanha dos Sete Abutres (1951), do mestre Billy Wilder, obras que no passado já trabalhavam com a ideia do caos se tornando espetáculo.

Em meio a esses eventos, o roteiro discute de maneira contida sobre investimentos, mercado financeiro e economia, dando assim mais substancia ao texto. A realizadora não vê problemas em apontar exemplos e assumir uma postura contrária à ambição empresarial tão presente em todo mundo. Como vai além e mostra o quão prejudicial pode ser esta categoria para a sociedade num todo. Ainda que tudo isso esteja lá pelas entrelinhas e deva ser pouco percebido pelo espectador médio, principalmente pela linguagem habitual do título.

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Do ponto de vista narrativo o filme se mostra bastante eficiente por conseguir manter a atenção do espectador no conflito, o deixando também curioso pela resolução do caso. As cenas externas também carregam grande tensão, o tornando um thriller eficiente e capaz de gerar sensações diversas. Muito desse estilo se deve a montagem de Matt Chesse, que faz um trabalho interessante por inserir trucagens não tão vistas nestas produções. Os cortes rápidos, os closes instantâneos e ângulos cheios de urgência soam como rimas temáticas em relação ao programa aludido.

O elenco experiente faz jus à fama e consegue passar veracidade, a começar por George Clooney que realizando uma performance muito parecida com àquela vista em Amor Sem Escalas (2009), é cínica e também carismática, mas que quando ameaçado evidencia a aflição do momento. Igualmente Julia Roberts traz um peso imenso a sua personagem solitária e bastante séria, tendo que se virar ao lidar com o bandido. Jack O’Connell confere o desespero da situação atual de Kyle, um homem que de fato parece não ter mais nada a perder.

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De forma geral, ainda que não seja tão marcante ao seu final e tenha poucas cenas grandiosas, Jogo do Dinheiro é um filme competente em muitos aspectos. Deixa o público ligado na tela o tempo inteiro, cria a tensão pretendida e discute temas pungentes de forma sóbria e corajosa. O que nos faz abrir os olhos ainda mais para o lado cineasta de Jodie Foster, que mostra grande controle narrativo e comando de elenco, além de manter sua habitual visão social.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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