sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica | O Destino de Júpiter

Ação sem limites

Desde o fim da trilogia Matrix, os cultuados cineastas Andy e Lana Wachowski vêm colecionando opiniões negativas em relação a seus filmes. Não que tenham feito trabalhos pavorosos, longe disso até – pois é inegável a beleza estética de Speed Racer (2008) ou a quantidade de temas discutidos em A Viagem (2012) –, mas o que ironicamente está, de certa forma, atrapalhando seus projetos posteriores é justamente a saga de Neo. Muitos fãs e apreciadores, que ficaram espantados com a qualidade do material, aguardam ansiosamente um novo Matrix (1999). Mas será que os autores têm mesmo que provar que são capazes?

É também correto afirmar que estes longas já citados não possuem o mesmo vigor de outrora, ainda que acertem aqui e ali, exibem de fato alguns problemas narrativos, que cominam num desenvolvimento irregular. Como de costume, os cineastas recheiam seus filmes de referências, alegorias e trucagens visuais, mas ao mesmo tempo esquecem princípios básicos de continuidade, ritmo e identificação, excluindo dessa maneira o envolvimento da plateia. Ou seja, não é que precisam repetir o feito anterior, devem apenas unir os pontos. Isso porque a nova empreitada dos Wachowski, possui quase que os mesmos problemas dos títulos referidos. E ainda acrescenta novos deles, pois se o anterior era chamado de paquiderme, pela pegada contemplativa, este O Destino de Júpiter ultrapassa os limites da ação.

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Mesmo apresentando um interessante plano de fundo – onde a personagem Jupiter Jones (Mila Kunis), que nasceu sobe um céu noturno, com sinais de estar destinada a algo maior, tem uma vida real complicada, mas tudo começa a mudar quando Caine (Channing Tatum) aparece para salva-la de um grupo alienígena e diz que a garota descende de uma herança que pode alterar o equilíbrio do cosmos –, o filme não se aprofunda no que discute e dá preferencia a gigantescas tomadas de batalhas áreas. Há algumas tão extensas que tornariam enxutos os incessantes entraves de O Homem de Aço (2013). E, mesmo que as cenas sejam graficamente belíssimas (de dar inveja a figurões como Terry Gilliam – que até faz aqui uma ponta) e possuam incríveis movimentos acrobáticos, a utilização é tão excessiva que agride o público. São sequências tão megalomaníacas quanto àquelas que dos filmes de Michael Bay.

No entanto, mesmo que tente ao máximo se sabotar, este novo universo criado pelos Wachowski é tão rico que se sobressai. A variedade de raças, a concepção visual das criaturas, do espaço, dos veículos e principalmente a multiplicidade de tons e influencias são realmente impressionantes. Nesse sentido, o diretor de fotografia John Toll e o supervisor de efeitos visuais Dan Galls levam boa parte do crédito. No que se refere a roteiro e narrativa, o modo como os personagens discutem, os temas, as escalas hierárquicas e a formula utilizada parecem bem semelhantes a que vemos na franquia Jornada nas Estrelas. Bem como as lutas com naves e tiros a laser nos remetem imediatamente a Star Wars. Já a constante trilha sonora de Michael Giacchino, tem como função pontuar os conflitos aludidos.

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Detendo de um bom casting, as atuações em geral não merecem maiores elogios. Sean Bean até se destaca por criar uma figura ao menos crível, já que todos os personagens são absolutamente caricaturais. Tatum, com uma caracterização horrenda, mesmo tendo um bom desempenho nos combates corpo a corpo, não consegue sozinho segurar a barra. Mesmo porque a Júpiter de Kunis empalidece diante de Caine. No entanto a maior decepção do elenco fica a cargo de Eddie Redmayne, que recentemente impressionou por sua sutileza ao interpretar Stephen Hawking em A Teoria de Tudo (2015), mas aqui se entrega ao overacting e faz um vilão que de tão ridículo parece o Coração Gelado.

Em suma, provavelmente não será dessa vez que os irmãos Wachowski conquistarão novamente todo prestigio perdido. O Destino de Júpiter é esteticamente interessante, tem um rico background e efeitos visuais impressionantes, mas possui um roteiro frágil, que tem medo de ir além e aposta todas suas fichas em intermináveis batalhas espaciais. No fim das contas, o filme parece inchado e a diversão pretendida torna-se indigesta. Torcemos então para que a dupla encontre equilíbrio em suas obras futuras.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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