sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Okja – produção Netflix de prestígio, saída de Cannes, estreia na plataforma

E.T. Ecológico

A estrutura de roteiro de Okja, produção original Netflix de grande renome, estreando diretamente em Cannes, o maior festival de cinema do mundo, não é novidade. De fato, Steven Spielberg havia criado a mesma história em 1982, com E.T. – O Extraterrestre. Nas duas tramas, temos uma inusitada criatura, que desenvolve grandes laços afetivos com uma criança. Um tempo depois, capturada a criatura, a tal criança(s) parte para o seu resgate.

O que diferencia, e muito, Okja é seu forte teor ecológico politicamente correto, e seus personagens excêntricos e propositalmente exagerados. Escrito e dirigido pelo sul coreano Bong Joon-ho, visionário cineasta de algumas das mais criativas e impressionantes obras do cinema recente, vide O Hospedeiro (2006) e Expresso do Amanhã (2013), o roteiro não traz um ser alienígena, mas sim uma raça de superporco geneticamente criada em laboratório.

Na trama, uma mega corporação, visando pôr fim na fome mundial, de uma maneira extremamente ecológica – e lucrar rios de dinheiro em cima da ideia (por que não?) – encontra uma nova espécie de porco e a multiplica seis vezes, distribuindo-os entre seis fazendeiros de locais distintos do mundo, para, numa espécie de concurso, dez anos depois analisar qual dentre eles conseguiu desenvolver o animal mais perfeito. Tal criatura, semelhante a um hipopótamo, é a definição de ecologicamente amigável, deixando mínimo impacto no meio ambiente – como pegadas e excrementos.

Um dos fazendeiros que recebe a oportunidade é Hee Bong (Byun Hee-Bong), ele vive afastado da cidade com sua netinha Mija (Ahn Seo-Hyun). A menina de cara desenvolve grande afeto pelo bebê a quem batiza de Okja. Dez anos depois e Okja já faz parte da família. A separação inevitável enfim chega, já que o propósito do animal está longe de ser o de estimação. Assim, Mija, a protagonista, parte numa longa jornada em busca de sua amiga, no caminho se deparando com todo tipo de pessoa e situação, desde ambiciosas empresárias (Tilda Swinton, em papel duplo), apresentadores de programa de animais (Jake Gyllenhaal) e ecoterroristas dispostos a ajudá-la, encabeçados pelo personagem de Paul Dano.

Na parte das atuações, quem se destaca são justamente Paul Dano, em uma interpretação austera e muito honesta, e a debutante Seo-Hyun, que ganha instantaneamente por sua graça e carisma. No contraponto da corrente estão Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal, com personagens tão caricatos que parecem saídos diretamente de um cartoon. Na verdade, o desejo era esse, aproximando-os de personagens coloridos e chamativos que costumamos ver em produções asiáticas, sejam elas em live-action ou animadas. Tal caricatura é muito utilizada pelas artes do continente. No quesito, quem se sai melhor é Swinton, já acostumada a viver personagens do tipo em grande parte de suas atuações. Gyllenhaal tenta dar forma a seu afetado apresentador, sem conseguir encontrar um uníssono para ele.

Apesar de fazer muito bem seu papel como crítica ferrenha à indústria de carnes, inclusive inserindo um daqueles vídeos que nos mostram o sofrimento de bois e vacas ao serem preparados para o abate – e que já fez muitos aderirem ao vegetarianismo – Okja vai além. Sua ideia insana tem o respaldo de um bom roteiro, ganhando credibilidade ao saber lidar com emoções e transcrever perfeitamente o sentimento de amizade. A criatura Okja, confeccionada através de efeitos de computador (por vezes não tão convincentes), ganha peso e se torna um personagem tão especial e querido quanto o boneco animatrônico do citado filme de Spielberg da década de 1980. É impossível não se emocionar. Okja é o filme do ano, ao menos na plataforma Netflix.

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