terça-feira, março 19, 2024

Crítica | Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas

A Heroína Nascida do Bondage

Filmes de super-heróis se tornaram um subgênero concretizado em Hollywood e no terreno do entretenimento são os blockbusters mais rentáveis da atualidade. Um dos grandes acertos do ano foi Mulher Maravilha, da Warner/DC, que surgiu como pioneiro, sendo o primeiro longa do subgênero protagonizado por uma mulher que se tornou fenômeno popular, caindo no gosto da crítica e público.

Mais interessante que os filmes dos heróis, no entanto, ao menos para os adultos, é conhecer como a criação destas máquinas de fazer dinheiro e merchandising se deu – saídos das mentes de homens como eu e você. Uma boa iniciação para quem curte o assunto é o livro Marvel Comics: A História Secreta, de Sean Howe, que expõe a trajetória de uma das maiores editoras de quadrinhos do mundo, seus alicerces e os rostos por trás de sua criação. Além, é claro, de todos os fatores externos e sociais que levaram à confecção de alguns dos personagens mais queridos da garotada.

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Caminho muito similar percorre este Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas, que descortina justamente o nascimento da maior super-heroína de todos os tempos, citada no primeiro parágrafo, a Mulher Maravilha. Estreando no Festival de Toronto deste ano, o filme escancara não apenas as origens da heroína, surgida a partir dos fetiches de seu criador (sim, um homem criou a personagem símbolo da representatividade feminina no nicho), como também o próprio, e toda a época reprimida dos anos 1930 – 1940, como as patrulhas da moral e bons costumes, e a lei seca, por exemplo.

Escrito e dirigido pela cineasta Angela Robinson (produtora de séries como The L Word e How to Get Away With Murder), Professor Marston é uma biografia dramática que pincela parte da vida de William Moulton Marston, psicólogo e professor universitário, designado a dar aulas para mulheres na universidade de Radcliffe, adjacente à renomada Harvard. De fato, o longa de Robinson aborda de forma sutil estas discriminações sociais entranhadas na época e tidas como normalidades. Mulheres não podiam frequentar a mesma universidade de homens, mesmo que Harvard e Radcliffe utilizassem o mesmo corpo docente. A angústia é refletida na esposa do protagonista, Elizabeth (Rebecca Hall), uma mulher à frente de seu tempo.

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Elizabeth, além de companheira pessoal do professor, papel de Luke Evans, era também sua colega e assistente nas aulas. A entrada de Olive Byrne (Bella Heathcote) em cena, transforma esta equação em um triângulo. Instantaneamente cativado pela aluna, Marston, ao lado de sua esposa descobrem aos poucos que existe muito mais escondido abaixo do impacto visual desta bela mulher – como o fato de sua tia e sua mãe serem famosas artistas partidárias do movimento feminista. O casal protagonista, embora não fossem ativistas, certamente eram adeptos da causa – imagina como era na época.

Seja como for, é impossível deixar de perceber pelo filme de Robinson (ou ao menos sua visão sobre o sujeito), que Marston usou este discurso para benefício próprio, para ter em sua cama duas mulheres – assim como a maioria dos autoproclamados messias sociais. Tal relacionamento, obviamente, era visto como aberração – se hoje em dia ainda seria tratado de tal forma, o que dirá naquela época. Em certas convenções sociais, parece que evoluímos muito pouco.

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Não deixe de assistir:

Angela Robinson cria sua obra com certo didatismo, talvez por isso um filme com tanta propensão a repercussão tenha se mantido longe do radar de prêmios. Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas faz o esperado, um correto feijão com arroz, abordando todos os tópicos que necessitariam estar presentes numa biografia de tal teor. Ao mesmo tempo, o que chama verdadeiramente atenção é o que Robinson entrega nas entrelinhas, o que surge à margem do cerne desta história, e o que não por menos serve de forte motivador: a grande depressão, a lei seca e a censura.

Robinson também capricha na intensidade de cenas sexuais, esta não é uma trama podada para uma censura baixa. Ao mesmo tempo, aborda de forma no mínimo curiosa os primeiros passos da guerreira amazona nos quadrinhos, e como sua trajetória teve como base as taras de seu autor – o que promete mudar a visão que muitos fãs têm da heroína – é claro, abandonadas ao longo dos anos pelos novos editores. Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas poderia ser grande, mas o resultado é apenas bom, por não mergulhar ou investir verdadeiramente nas duas vertentes a que se propõe a falar, o relacionamento poligâmico e o alicerce da personagem de maior relevância para um movimento embutido em um segmento artístico muito particular.

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