quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | Desventuras em Série – Primeiras Impressões

Remake Detalhista

O cineasta Barry Sonnenfeld não aparenta, mas possui uma forma peculiar de ver o mundo. Se olharmos para sua filmografia não perceberemos, mas o diretor possui uma alma tão sombria e talvez mais melancólica do que Tim Burton. Um indicativo é A Família Adams (1991), primeiro filme que Sonnenfeld (vindo de um background como diretor de fotografia de filmes cultuados, como alguns dos iniciais dos irmãos Coen) comandou – além de sua continuação em 1993. Na época, em entrevistas, o diretor revelou que o divórcio de seus pais serviu de inspiração para esta nova visão de mundo, na qual tirava de situações sombrias e atípicas um humor negro.

Justamente por isso, Sonnenfeld envolveu-se no projeto de levar os livros de Daniel Handler, vulgo Lemony Snicket, aos cinemas. O teor das obras remete imediatamente ao que se tinha em A Família Adams, e a escolha mais óbvia para a direção seria Tim Burton – para se ter uma ideia. Burton não foi o diretor, a vaga foi ocupada por Brad Silberling, mas a direção de arte, maquiagem, figurinos e tom estavam todos lá. Com Jim Carrey num papel que ele nasceu para fazer, as presenças de Jude Law, Meryl Streep e a excelente revelação de Emily Browning, Desventuras em Série (2004) não rendeu o esperado, talvez por condensar demais as trágicas aventuras dos irmãos Baudelaire e de seu guardião, o sinistro Conde Olaf.

A ideia boa e pouco apreciada não foi esquecida, e trazida de volta à tona por seu maior defensor, o cineasta Barry Sonnenfeld, que volta na produção da obra, desta vez adquirindo o formato de uma série em oito episódios da salvadora Netflix. A proposta é realmente essa, resgatar os queridos livros de Handler e apresentá-los ao público da maneira adequada.

 

Série X Filme

Desventuras em Série (2017), da Netflix, estreia no dia 13 de janeiro e os fãs poderão acompanhar novamente (ou pela primeira vez) essa soturna e hilária trajetória de três crianças bem azaradas. Aqui no CinePOP tivemos a oportunidade de assistir em primeira mão ao primeiro episódio, piloto da série. O clima é bem próximo ao apresentado no filme de 2004, o design de produção de Bo Welch espelha o confeccionado por Rick Heinrichs, minimamente detalhado, sem dever nada. A minúcia com a produção é um item no qual podemos sempre esperar primor do colosso do audiovisual.

O roteiro reconta a história apresentada no filme (não tinha como fugir muito disso), seguindo à risca e trazendo poucas novidades. O mote é realmente criar um novo público, levando em conta o fato da pouca ressonância da obra cinematográfica. Tudo é muito parecido, até mesmo a escolha da atriz Malina Weissman para o papel de Violet, cuja forma do rosto é muito semelhante à de Browning. Patrick Warburton se faz um Lemony Snicket mais presente, recortando a narrativa com suas aparições e comentários direto para a câmera, ao contrário da silhueta de Law.

O humor agrada e acerta em cheio a tênue linha entre o desconforto e a graça. Um dos momentos de novidade e brilho é a noite dos jovens após o acidente que os deixa órfãos, passada na casa da família Poe. O oficial de justiça que cuida do caso das crianças ganha as formas de K. Todd Freeman (no filme foi interpretado por Timothy Spall). A troca de diálogos rápidos, recheados de gags, soa como uma coreografia do roteiro, criando situações memoráveis e exaltando o texto original de Snicket (Handler).

Não deixe de assistir:

Mas o verdadeiro chamariz da série, e o que todos querem saber, é atuação de Neil Patrick Harris como o caricato, canastrão e, de forma geral, over the top Conde Olaf.  A maquiagem à primeira vista parece um pouco estranha, já que no filme as feições de Carrey são mais aproveitadas para moldar a face de Olaf. Na série, talvez trazendo para o lado do grotesco, Harris parece mais “enterrado” e irreconhecível em sua caracterização. Harris é um ator performático, especializado em danças e espetáculos musicais, o que ele traz para a produção. O ator não possui a mesma desenvoltura de “face de borracha” de seu predecessor, e tampouco adere aos exageros típicos do eterno Ace Ventura. O Conde Olaf mais contido de Harris, no entanto, não menos viscoso e irônico funciona.

SPOILERS – Só leia após o dia 13

Um dos maiores diferenciais em relação ao filme de 2004, já que temos retratadas basicamente as mesmas cenas (como a chegada das crianças ao lar decrépito de Olaf e a famosa cena do jantar preparado para seus colegas de teatro), é a reviravolta final. No desfecho do primeiro episódio, nos deparamos com uma cena que promete mudar a dinâmica e o rumo desta história.

Na última cena, percebemos que, ao contrário do mostrado no longa, os pais dos jovens não estão verdadeiramente mortos pelo incêndio da casa. Os progenitores aparecem num camburão, algemados e ponderando sobre o destino de suas crias. Alguém os mantém presos e os está transportando para longe. O chamariz também está na presença dos atores, bem conhecidos, que os interpretam – que não irei revelar aqui para não estragar cem por cento a surpresa.

O fato cria uma esperança longínqua, que contrasta com a devastadora realidade contida na obra original, onde não existia final feliz (ao menos por muito tempo) ou expectativa de alívio para os sofredores protagonistas mirins. A nova estrutura desperta interesse, é provocativa, e será prazerosa de ser descortinada.

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