sexta-feira, março 29, 2024

Festival Varilux | O Orgulho – Daniel Auteuil em dramédia feel good sobre intolerância

Incomunicáveis

Roteiros formulaicos não são exclusividade da indústria Hollywoodiana. Na verdade, estas produções de cunho comercial, que visam falar com o maior público possível, caprichando na acessibilidade de seu diálogo, se perpetuam mundialmente. Na França, país que retém um cinema rico e criativo, não é diferente.

Dito isso, podemos argumentar também que existe o filme formulaico bom e o ruim. A diferença: a mensagem nas entrelinhas, atuações, diálogos e toda a estrutura artística por trás – o que inclui a narrativa. Dentro do quesito temos, por exemplo, o mega sucesso Intocáveis (2011), uma comédia cativante, agridoce e um tanto quanto politicamente incorreta, na qual parte do sabor vem do carisma de seus protagonistas. Preso dentro de fórmula similar encontra-se este O Orgulho, cujo resultado é igualmente satisfatório.

Aqui temos uma estrutura quase idêntica, trocando a cena para o terreno universitário de uma faculdade de direito. O mote segue sendo a amizade inusitada entre uma jovem vinda de classe baixa, moradora dos subúrbios franceses, e um soberbo homem branco da classe alta. Desta vez, a dinâmica se refere ao mentor e o pupilo, não mais ao enfermo e o cuidador.

Na trama, a carismática Camélia Jordana vive Neila Salah, jovem humilde vinda de família árabe com sonhos de prosperar e se tornar uma advogada. O primeiro grande passo rumo a isso é o ingresso numa renomada e tradicional faculdade de direito de Paris. Logo no primeiro dia, ela bate de frente com o severo professor Pierre Mazzard (Daniel Auteuil), um mestre de métodos controversos e ideologias arcaicas, que não se encaixam mais nestes tempos modernos do politicamente correto.

O comportamento controverso – e que facilmente se confunde com intolerância, racismo e todo tipo de pensamento tóxico – do sujeito começa a metê-lo em problemas. Como forma de se redimir, é exigido dele que treine Neila para uma competição de debate. Em breve, estas duas figuras de vivências, ideais e gerações dissonantes precisarão coexistir, e da colisão poderá surgir uma relação de respeito.

Apesar do clima feel good de superação das diferenças em nome de algo maior, o filme escrito e dirigido pelo também ator Yvan Attal (Nova York, Eu Te Amo) é atual e arrojado, se mostrando antenado com questões representativas e sociais. O texto apresenta uma heroína que, apesar de representar uma minoria, é empoderada o suficiente para ascender e conquistar seus objetivos. Jordana, que também é cantora, dá conta do trabalho, se encaixando de forma exímia na personagem. Seu carisma é comparável ao de Omar Sy no sucesso citado.

Do outro espectro desta história, o roteiro apresenta o grau de dificuldade que figuras retrógradas e conservadoras possuem em se adaptar aos novos tempos, no qual o comportamento incorreto e ofensivo em relação a minorias não é mais tolerável. Você pode até odiar uma pessoa, desde que não seja pelos motivos errados. Afinal, ser incorreto e preconceituoso não são necessariamente sinônimos.

Outro fator que encanta e sobressai como chamariz do longa é a química de seus protagonistas. Apesar do discurso de aceitação e de destacar a figura do tutor como nociva ao meio atual, O Orgulho pode enfatizar erroneamente, através de sua mensagem final – que almejava um aspecto redentor ao personagem de Auteuil – a falta de rigor em punir justamente este tipo de verbete social discriminatório. Isso em tempos que até os comentários do icônico comunicador Silvio Santos começam a descer de forma quadrada.

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