quarta-feira, abril 24, 2024

Crítica | Pânico 4, de Wes Craven

Entre a tragédia e a comédia: metacinema em Pânico 4

Para melhor explanar sobre o filme, seu histórico e outras curiosidades, dividiremos este especial em três partes, ou como diria um dos personagens, três atos. O primeiro deles, o enredo. No segundo ato, os detalhes de produção e outras curiosidades sobre as personagens. No terceiro ato, uma reflexão mais profunda sobre o gênero terror na contemporaneidade e por fim, os bons e maus momentos de Pânico 4, afinal, o filme apresenta alguns problemas de condução que serão explicitados mais adiante.

1° ato: por trás do enredo de Pânico 4

Na sinopse oficial, somos informados que Sidney Prescott (Neve Campbell) agora é autora de um livro de auto-ajuda. A sobrevivente retorna a Woodsboro para promover o lançamento, que marca a última parada de sua turnê. Ao chegar a cidade, reencontra o policial e amigo Dewey (David Arquette) e a sua Gale (Courteney Cox) – agora casados – assim como sua prima Jill (Emma Roberts, fraquinha inicialmente, ganhando mais dimensão próximo ao final) e sua tia Kate (Mary McDonnell). Infelizmente, o retorno de Sidney também traz Ghostface de volta, colocando Sidney, Gale e Dewey, junto com Jill, seus amigos e toda a cidade de Woodsboro, em perigo. Inspirado em vários filmes de terror, o assassino retorna, mas desta vez, as regras são baseadas no novo clichê, afinal, nova década, novas regras.

Duas questões à guisa de preâmbulo: o filme trafega na contramão, atualizando uma trama que agrada aos fãs da década de 90 e ainda insere o novo público no esquema. Procurando abordar a linguagem da contemporaneidade, Pânico 4, foca nas novas mídias, localizando bem a trama no que tange às concepções de tempo e espaço. Não se trata de uma história de horror qualquer. É um filme que carrega em sua trajetória, certos cuidados, tornando-se mais interessante que outras tantas subtramas do gênero. Nesta mesma seqüência de ascendente importância, Pânico 4 renova o elenco, mas não deixa os protagonistas da primeira trilogia para trás: somos brindados com o reencontro entre Sidney Prescott (Neve Campbell, linda e compenetrada), a ácida Gale Weathers (Courtney Cox, divertida e com excesso de preenchimento labial) e o policial bobalhão Dewey (David Arquette).

 

2° ato: bastidores e personagens da nova trama

Não deixe de assistir:

É bom ter vivido os filmes anteriores para melhor explanar sobre esta quarta parte. Pânico 4 apresenta todos os tópicos que o diretor já abordou antes. Algumas obras satirizadas eram tão ruins que precisavam ser ridicularizadas. Para cabal entendimento das citações vertiginosas, é preciso ao menos conhecer os três filmes anteriores, e, se possível, a premissa dos filmes satirizados. Jogos Mortais, Premonição, A Casa de Cera, Natal Negro e outros tantos remakes, são alvos de críticas. Tramas que iniciaram com argumentos interessantes mas acabaram caindo no ridículo após tantas continuações, algumas delas, sem nexo e discernimento.

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O diretor nos mostra que uma ideia batida, quando bem aproveitada, ainda pode render sustos genuínos. No caso de Pânico 4, bons sustos e gostosas gargalhadas. Wes Craven é esperto e consegue fazer com que uma trama aparentemente clichê, funcione como grande novidade. Entre os melhores momentos, podemos destacar o prólogo, cheio de referências e com uma acidez incrível. Para colaborar com os créditos positivos, o diretor conta com a cumplicidade do seu elenco principal, em especial, Neve Campbell, numa atuação contida, ainda que tocante.

Por sorte o roteiro não caiu em pormenores desvinculados do conflito em torno do qual gravita o filme. Houve dúvidas se isso aconteceria, afinal, a cada semana eram divulgadas listas de participações especiais que deixavam os fãs duvidosos em relação aos rumos do roteiro do filme.

Quem ganhou com o tempo foi a atriz Neve Campbell. Mais bonita e segura na atuação que em seus antecessores, mostra que o tempo lhe fez muito bem. Um dos casais mais amados de Hollywood parece ter seguido o fio narrativo de suas vidas em boa parte de Pânico 4 e separaram-se ainda durante o processo de filmagens. David Arquette e Courteney Cox se conheceram no set do primeiro filme, em 1995, e desde então se casaram, separando-se recentemente.

Destaque para a presença da novata Hayden Panettiere e da veterana Marley Shelton, que conseguem deixar os mais ávidos pela resolução do final, em parafuso. Com tantas reviravoltas, somos guiados de um lado ao outro da trama, num roteiro que não se contenta com a obviedade no que tange ao assassino da vez.

 

3° ato: alguns bons e maus momentos de Pânico 4

Pânico 4 é metacinema porque assume o caráter de por um filme dentro do filme. O episódio anterior foi o que mais aprofundou nesta temática. Desta vez, somos informados que a saga Stab encontra-se no sétimo capítulo e que anualmente, os jovens da cidade se encontram para assistir a um festival com todos os filmes. São tramas baseadas na vida de Sidney Prescott, um personagem da vida real (mesmo que soe redundante, mas é assim que a moça é tratada ao longo da trama e da série, o que seria tema para outra discussão mais detalhada sobre os conceitos do personagem de ficção, mas que acredito, não cabem aqui).

A narrativa de Pânico 4 caminha para um epílogo absurdo, assim como os seus antecessores. Como definimos nos estudos de teoria do drama, a curva dramática apresenta problemas por ser longa demais. Menos, aqui, sem dúvida, seria mais. É uma pena que ao invés de sair em busca de uma intrigante solução final, o roteiro se limite à carnificina. Mas se tratando de Pânico e Wes Craven, perdoamos esta falha, que aliás, é perfeitamente compreensível para a proposta da série como um todo. Somos salvos com um divertido final. Nova década, novas regras.

No ponto em que achávamos que a trama seria encerrada, o enredo ganha um novo rumo. Desta vez, num hospital, com direito às melhores falas do filme e uma referência, ao meu ver, ao distante Halloween 2 (1981), que encerra a sua trama no hospital, num encontro travado entre Laurie Strodd e Michael Myres.

Pânico 4 é uma obra contemporânea onde o diretor Wes Craven rege bem o elenco, investindo nos diálogos de cunho afiado e que ainda debocha sobre os clichês do gênero terror, que ganhou novo rumo nos anos 2000. O que uma parte do público não entende é que Wes Craven, não satiriza tais filmes apenas no plano da citação. Ele utiliza o elemento satirizado como parte fundamental da condução da sua narrativa. Os amantes da cultura trash não podem perder esta deliciosa brincadeira de mau gosto, onde o diretor consegue deixar os clichês menos óbvios. Sorte nossa.

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