sábado , 21 dezembro , 2024

Precisamos conversar sobre ’13 Reasons Why’, a série sobre SUÍCIDIO da Netflix

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Parece que o mundo se dividiu entre as pessoas que já e as que ainda não viram ‘13 Reasons Why‘.

Além da timeline – abençoadamente – floodada por pessoas que viram a série, tá impossível passar pelo face ou qualquer outra rede social sem ouvir falar na nova produção original da Netflix.



Eu, particularmente, tava esperando ansiosa por ela desde meu primeiro contato com o trailer, um pouco também pelo fato de achar que a série teria um tom de suspense mais denso e sombrio, o que ficou faltando para mim, mas em nenhum momento fui tomada por arrependimentos ou dúvidas de que eu iria maratonar13 Reasons Why‘ no fim de semana que foi lançada.

Comprada apenas pela sua premissa básica e pela sua sinopse mais superficial, algumas pessoas podem achar que a série é teen demais ou que vai tratar novamente de um tema exacerbadamente explorado – perdendo assim a chance de ver uma grande produção.

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Dentro de muitos mais acertos que erros, ‘13 Reasons Why‘ consegue achar um equilíbrio consistente entre a linha tênue que é falar sobre suicídio sem apresentá-lo com uma tática efetiva para que as pessoas se livrem dos seus problemas.

Frases desconcertantes e até levianamente incômodas como “quem vai acreditar numa garota morta?” ou “ela apenas passou pelo que nós passamos todos os dias” são o ponto de balanço que nos pendem entre entender a atitude da protagonista, mesmo achando que faríamos diferente no lugar dela.

A produção também pesa a mão na hora de mostrar como a insistência na vida nos permite amadurecer. De um lado, temos os pais de Hannah, carinhosos e afetuosos em seus termos, que devem lidar com a situação de forma racional, e a série fica um pouco em dívida em mostrar que, na realidade, é em cima deles que cai o maior fardo do suicídio de Hannah. Não se trata de culpa, se trata de amor, e a maior perda é a deles.

Já para os amigos/conhecidos/nada de de Hannah, sobram declarações. Poucos parecem sentir uma ausência genuína ou sequer uma culpabilidade, mesmo que tudo esteja jogado diante das suas caras. Dentro do grupo de pessoas que receberam as fitas e foram citados por Hannah, vemos um grupo de jovens tentando salvar a própria pele diante do que pode lhes acontecer. O modo que o conjunto toca a vida diante a morte dela tem um peso relevante para agregar credibilidade às falas das fitas.

Mesmo assim, a série faz um jogo narrativo bastante sedutor ao sempre deixar em cheque o que é realidade e o que é ilusão, o que é verdade e o que é mentira, nos levando a um dos maiores créditos do roteiro.

Muito acima da superfície da temática do suicídio, ‘13 Reasons Why‘ mostra que cada um externa ao mundo o que tem dentro de si. Ao sentir o vazio de não poder mais confiar em ninguém, Hannah consegue projetar como realidade algumas coisas que sequer aconteceram como ela narra. Ela é constantemente magoada por pessoas que vivem seus próprios dilemas e problemas, algumas histórias secundárias possuem bases e raízes profundamente mais dolorosas do que as da protagonista.

Aquele pensamento que diz que “pessoas feridas ferem pessoas” é intensamente explorado aqui, chegando em um ponto onde tantas pessoas canalizam seus problemas em cima de Hannah até que ela não resiste mais. Novamente a série encontra um ponto de equilíbrio valioso, não tentando transformar a protagonista em um novo Messias. A importância de ter em quem se apoiar faz com que ela acabe girando em círculos no meio de relações consideravelmente tóxicas, mostrando que as escolhas que fazemos também são relevantes para as situações nas quais nos colocamos, mas, não, isso não nos coloca na posição de concordantes com nenhum tipo de abuso ou tratamento excessivamente desagradável.

A sutileza muito bem trabalhada da transição de fatos do passado e do presente são determinadas com pequenos toques visuais, deixando o tempo todo, também, uma insistente sensação de desconfiança em quem assiste, pois oscilamos o tempo todo entre a incerteza de se aquele fato é real ou uma projeção que, novamente, demonstra muito bem como o nosso interior afeta diretamente em como vemos o mundo diante de nós.

Comumente nos deparamos com a protagonista proferindo frases que expressam que ela sente que ninguém sabe como é ser ela. Que uma pessoa que trabalha na escola não sabe o que é ser uma adolescente, que a mãe dela não a entenderia por ter sido popular na escola ou que um garoto da idade dela não sabe como é ser uma garota da idade dela e, por fim, a série explora que ela também não sabia como era ser cada uma daquelas pessoas a quem ela enviou as fitas.

Como acaba passando relativamente batido com o decorrer da produção, em alguns momentos fica facilmente esquecível que cada história tem 2 lados.

[SPOILERS]

Através de suas fitas, Hannah gera um confronto íntimo e direto de cada um dos outros personagens com as suas próprias personalidades, tentando fazer com que eles deixem de expurgar seus demônios interiores nos outros e tentem curar a si mesmos, muito embora não seja necessário que essa seja a intenção inicial dela.

Temos aqui uma produção relevante, que imprime a importância que temos na vida dos outros, mesmo quando sentimos que ela é nula. Experimentamos uma busca incessante por um contato que seja humano e, por tabela, não perfeito. Talvez aqui se encaixe o fato de que não ser uma pessoa que promove o mal já seja algum sinal de bondade.

Com uma excelente constância entre assuntos tão delicados, ‘13 Reasons Why‘ literalmente rasga as veias da indispensabilidade de contatos humanos, da delicada fase da adolescência, onde trocamos os pés pelas mãos incansavelmente em busca de encontrarmos amigos ou um grupo no qual a gente sente que pertence. Infelizmente a série faz poucos arranhões no outro lado da moeda, usando de alguns clichês que acabam descartando a importância da dificuldade de guiar os filhos pela adolescência.

O estigma frequente da dificuldade dos jovens em procurar ajuda dos pais, que nem sempre necessariamente se dá pelo fato de eles serem distantes ou super ocupados, poderia ser mais explícito, pois é difícil para os pais oferecerem auxílio diante de adversidades que eles não sabem que existem. Quem acaba convivendo com os sinais são pessoas que tem tão ou menos despreparo emocional que quem está enfrentando seus infernos pessoais, e sempre apontar os pais como pessoas incapazes de auxiliar seus filhos é algo que eu vinha ansiosamente esperando para ver abordado em alguma produção.

A série passa longe de ser importante apenas para adolescentes e aborda temas muito mais profundos do que um contato superficial sugere. Dentro de seus poucos erros, ela saltou aos olhos de um público que ficou genuinamente satisfeito com o resultado final, e tem motivos para estar.

Mesmo dentro de seus episódios que em alguns momentos são mais arrastados do que deveriam, ‘13 Reasons Why‘ cria uma trama intrigante, que leva o espectador de episódio a episódio em ritmo frenético e a uma experiência profundamente satisfatória no final.

Ela está há vários pés de um mero entretenimento, mas não chega a causar um peso insuportável, mesmo tendo cenas profundamente impactantes.

Se a sua dúvida era saber se a série merece todo o status que ela vem recebendo, a resposta é um sonoro sim. Pelo balanço dos elementos e o modo instigante que ela trabalha um tema tão delicado, ‘13 Reasons Why‘ merece uma nota 9,5.

A 2ª temporada já está disponível na Netflix.

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Além da timeline – abençoadamente – floodada por pessoas que viram a série, tá impossível passar pelo face ou qualquer outra rede social sem ouvir falar na nova produção original da Netflix.

Eu, particularmente, tava esperando ansiosa por ela desde meu primeiro contato com o trailer, um pouco também pelo fato de achar que a série teria um tom de suspense mais denso e sombrio, o que ficou faltando para mim, mas em nenhum momento fui tomada por arrependimentos ou dúvidas de que eu iria maratonar13 Reasons Why‘ no fim de semana que foi lançada.

Comprada apenas pela sua premissa básica e pela sua sinopse mais superficial, algumas pessoas podem achar que a série é teen demais ou que vai tratar novamente de um tema exacerbadamente explorado – perdendo assim a chance de ver uma grande produção.

Dentro de muitos mais acertos que erros, ‘13 Reasons Why‘ consegue achar um equilíbrio consistente entre a linha tênue que é falar sobre suicídio sem apresentá-lo com uma tática efetiva para que as pessoas se livrem dos seus problemas.

Frases desconcertantes e até levianamente incômodas como “quem vai acreditar numa garota morta?” ou “ela apenas passou pelo que nós passamos todos os dias” são o ponto de balanço que nos pendem entre entender a atitude da protagonista, mesmo achando que faríamos diferente no lugar dela.

A produção também pesa a mão na hora de mostrar como a insistência na vida nos permite amadurecer. De um lado, temos os pais de Hannah, carinhosos e afetuosos em seus termos, que devem lidar com a situação de forma racional, e a série fica um pouco em dívida em mostrar que, na realidade, é em cima deles que cai o maior fardo do suicídio de Hannah. Não se trata de culpa, se trata de amor, e a maior perda é a deles.

Já para os amigos/conhecidos/nada de de Hannah, sobram declarações. Poucos parecem sentir uma ausência genuína ou sequer uma culpabilidade, mesmo que tudo esteja jogado diante das suas caras. Dentro do grupo de pessoas que receberam as fitas e foram citados por Hannah, vemos um grupo de jovens tentando salvar a própria pele diante do que pode lhes acontecer. O modo que o conjunto toca a vida diante a morte dela tem um peso relevante para agregar credibilidade às falas das fitas.

Mesmo assim, a série faz um jogo narrativo bastante sedutor ao sempre deixar em cheque o que é realidade e o que é ilusão, o que é verdade e o que é mentira, nos levando a um dos maiores créditos do roteiro.

Muito acima da superfície da temática do suicídio, ‘13 Reasons Why‘ mostra que cada um externa ao mundo o que tem dentro de si. Ao sentir o vazio de não poder mais confiar em ninguém, Hannah consegue projetar como realidade algumas coisas que sequer aconteceram como ela narra. Ela é constantemente magoada por pessoas que vivem seus próprios dilemas e problemas, algumas histórias secundárias possuem bases e raízes profundamente mais dolorosas do que as da protagonista.

Aquele pensamento que diz que “pessoas feridas ferem pessoas” é intensamente explorado aqui, chegando em um ponto onde tantas pessoas canalizam seus problemas em cima de Hannah até que ela não resiste mais. Novamente a série encontra um ponto de equilíbrio valioso, não tentando transformar a protagonista em um novo Messias. A importância de ter em quem se apoiar faz com que ela acabe girando em círculos no meio de relações consideravelmente tóxicas, mostrando que as escolhas que fazemos também são relevantes para as situações nas quais nos colocamos, mas, não, isso não nos coloca na posição de concordantes com nenhum tipo de abuso ou tratamento excessivamente desagradável.

A sutileza muito bem trabalhada da transição de fatos do passado e do presente são determinadas com pequenos toques visuais, deixando o tempo todo, também, uma insistente sensação de desconfiança em quem assiste, pois oscilamos o tempo todo entre a incerteza de se aquele fato é real ou uma projeção que, novamente, demonstra muito bem como o nosso interior afeta diretamente em como vemos o mundo diante de nós.

Comumente nos deparamos com a protagonista proferindo frases que expressam que ela sente que ninguém sabe como é ser ela. Que uma pessoa que trabalha na escola não sabe o que é ser uma adolescente, que a mãe dela não a entenderia por ter sido popular na escola ou que um garoto da idade dela não sabe como é ser uma garota da idade dela e, por fim, a série explora que ela também não sabia como era ser cada uma daquelas pessoas a quem ela enviou as fitas.

Como acaba passando relativamente batido com o decorrer da produção, em alguns momentos fica facilmente esquecível que cada história tem 2 lados.

[SPOILERS]

Através de suas fitas, Hannah gera um confronto íntimo e direto de cada um dos outros personagens com as suas próprias personalidades, tentando fazer com que eles deixem de expurgar seus demônios interiores nos outros e tentem curar a si mesmos, muito embora não seja necessário que essa seja a intenção inicial dela.

Temos aqui uma produção relevante, que imprime a importância que temos na vida dos outros, mesmo quando sentimos que ela é nula. Experimentamos uma busca incessante por um contato que seja humano e, por tabela, não perfeito. Talvez aqui se encaixe o fato de que não ser uma pessoa que promove o mal já seja algum sinal de bondade.

Com uma excelente constância entre assuntos tão delicados, ‘13 Reasons Why‘ literalmente rasga as veias da indispensabilidade de contatos humanos, da delicada fase da adolescência, onde trocamos os pés pelas mãos incansavelmente em busca de encontrarmos amigos ou um grupo no qual a gente sente que pertence. Infelizmente a série faz poucos arranhões no outro lado da moeda, usando de alguns clichês que acabam descartando a importância da dificuldade de guiar os filhos pela adolescência.

O estigma frequente da dificuldade dos jovens em procurar ajuda dos pais, que nem sempre necessariamente se dá pelo fato de eles serem distantes ou super ocupados, poderia ser mais explícito, pois é difícil para os pais oferecerem auxílio diante de adversidades que eles não sabem que existem. Quem acaba convivendo com os sinais são pessoas que tem tão ou menos despreparo emocional que quem está enfrentando seus infernos pessoais, e sempre apontar os pais como pessoas incapazes de auxiliar seus filhos é algo que eu vinha ansiosamente esperando para ver abordado em alguma produção.

A série passa longe de ser importante apenas para adolescentes e aborda temas muito mais profundos do que um contato superficial sugere. Dentro de seus poucos erros, ela saltou aos olhos de um público que ficou genuinamente satisfeito com o resultado final, e tem motivos para estar.

Mesmo dentro de seus episódios que em alguns momentos são mais arrastados do que deveriam, ‘13 Reasons Why‘ cria uma trama intrigante, que leva o espectador de episódio a episódio em ritmo frenético e a uma experiência profundamente satisfatória no final.

Ela está há vários pés de um mero entretenimento, mas não chega a causar um peso insuportável, mesmo tendo cenas profundamente impactantes.

Se a sua dúvida era saber se a série merece todo o status que ela vem recebendo, a resposta é um sonoro sim. Pelo balanço dos elementos e o modo instigante que ela trabalha um tema tão delicado, ‘13 Reasons Why‘ merece uma nota 9,5.

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