Quando assistimos a um filme e criticamos a atuação de determinado ator ou atriz, não imaginamos as condições de bastidores envolvendo as filmagens. Muitas vezes a falta de vontade do intérprete, obrigado a um papel devido ao contrato, pode prejudicar sua atuação e ser muito visível nas telas. É claro também que a maioria é extremamente profissional e desempenha um trabalho acima da média como de costume, apesar da má vontade. Nestes casos, sequer ficamos sabendo da apatia deles pelo filme. Pensando nisso, chega nossa próxima lista, usando como base uma matéria do canal Looper, que elegeu os atores forçados a papeis que odiavam. Vem conhecer.
Natalie Portman | Thor: O Mundo Sombrio (2013)
A atriz vencedora do Oscar mostra que faz bem ler as letras minúsculas de seus contratos. Após a vitória por Cisne Negro (2010), Portman emendou um trabalho atrás do outro, muitos lançados em 2011. Um deles foi a adaptação dos quadrinhos Thor, de Kenneth Branagh. Seja pelo resultado morno do filme junto ao público e críticos, ou pela vontade de seguir outros rumos em sua carreira e não ficar presa a uma personagem não tão interessante, a pequena atriz não queria saber da continuação nem pintada de ouro. O problema é que seu contrato dizia que ela precisava fazer o filme. Na época, diversas notícias apontaram o fato, e a falta de interesse de Portman no projeto era notória. Ao ponto de ficarmos pensando que sua personagem seria morta. Além disso, Portman queria tempo para se afastar dos holofotes e cuidar de seu bebê recém nascido. Somando ainda mais problema, a Marvel demitiu Patty Jenkins do comando da obra, diretora recomendada pela atriz, o que deve tê-la deixado desgostosa. Como resultado, Portman passa bem longe de qualquer outro filme da empresa, incluindo Thor: Ragnarok.
Channing Tatum | G.I. – A Origem de Cobra (2009)
Durante uma entrevista com Howard Stern, o ator confessou que foi empurrado para protagonizar G.I. Joe – A Origem de Cobra (2009), fracasso de crítica, que ironicamente serviu para torná-lo mais conhecido mundialmente. Segundo Tatum, o roteiro simplesmente não era bom, apesar de se dizer fã dos desenhos. Outra curiosidade é que o ator preferia interpretar o assassino silencioso vestido de preto, Snake Eyes (papel de Ray Park). Tatum não foi tão mal agradecido e confessou ser abençoado por conseguir o papel, mesmo não tendo aberto as portas que ele esperava. Enquanto isso, agora no auge da fama, o ator passa pela problemática produção de Gambit – que ninguém está lhe forçando, mas sim ele mesmo.
Emily Blunt | As Viagens de Gulliver (2010)
Este é outro caso notório. Você está satisfeito com a Viúva Negra de Scarlett Johnasson? Todos nós estamos, mas saiba que por muito pouco a assassina russa não teve as formas da britânica Emily Blunt. A jovem atriz é igualmente muito talentosa e bela, e temos certeza que traria uma interpretação única à personagem. Este é também um caso que mostra o quão sacanas podem ser executivos de estúdios. Depois do sucesso O Diabo Veste Prada (2006), da FOX, o primeiro grande sucesso da carreira de Blunt, a Marvel aprovou a entrada da atriz em seu universo com Homem de Ferro 2 (2010), justamente no papel da Viúva. Porém, o contrato de Blunt com a FOX exigia mais um filme, e o estúdio embarreirou a inglesinha na franquia de super-heróis para empurrá-la em As Viagens de Gulliver, filme que viveu para se mostrar fracasso retumbante de crítica e público. Felizmente, a carreira da atriz deu a volta por cima, mas seria o caso colocar o prego no caixão.
Keanu Reeves | O Observador (2000)
Canalhice no mundo do cinema de Hollywood? Sério? Nem só de assédio vive os bastidores da maior indústria da sétima arte, falsificação também faz parte. Depois de Matrix (1999), Keanu Reeves era um dos atores mais quentes do cinema. Não demorou para muitas propostas chegarem à sua mesa. Mas apenas uma chegou por obrigação. O diretor e “amigo” Joe Charbanic filmou inúmeros shows da banda de Reeves, Dogstar, e almejava entrar no ramo de longas metragens como cineasta.
Na hora do famoso “uma mão lava a outra”, Charbanic ao invés de convidar o amigo para estrelar um projeto que estava desenvolvendo, o suspense O Observador, com Marisa Tomei e James Spader, resolveu dar o passo além e falsificar a assinatura do astro. Para evitar uma briga em tribunais, correndo o risco de não conseguir provar a falsificação, Reeves decidiu ajudar o infrator e estrelar seu filme, no papel de um psicopata. Apesar do fracasso, o ator estava proibido de se pronunciar por doze meses após o lançamento, sobre qualquer coisa envolvendo o fato de como foi parar na produção. Quando o embargo expirou, Reeves não perdeu tempo e deu com a língua nos dentes. “Nunca achei o roteiro interessante”, soltou o ator, além de revelar toda a história envolvendo o muy amigo. Resultado: Charbanic caiu no ostracismo.
Whoopi Goldberg | Meu Parceiro é um Dinossauro (1995)
A garotada de hoje talvez não faça ideia, e muitos talvez nem a conheçam. Mas Whoopi Goldberg já foi extremamente popular em Hollywood, numa era antes de Viola Davis, Lupita Nyong´o, Halle Berry e Kerry Washington. Fora isso, Goldberg tem uma estatueta do Oscar em casa (por Ghost – Do outro Lado da Vida, 1990) e uma indicação por A Cor Púrpura (1985). De fato, nas décadas de 1980 e início de 1990, Whoopi Goldberg era um nome de peso na indústria. No entanto, após o sucesso de Mudança de Hábito (1992) e de sua continuação (1993), e do drama Somente Elas (1995), Goldberg atingiu um verdadeiro ponto baixo em sua carreira, talvez um divisor de águas.
Estamos falando da comédia Theodore Rex, na qual ela contracena com um dinossauro falante. Ou ao menos um boneco animatrônico. Obviamente tentando pegar carona no sucesso de Família Dinossauro (1991 – 1994), extremamente popular na época, o filme utiliza inclusive as mesmas técnicas para criar um mundo permeado pelas criaturas pré-históricas. Inicialmente, Goldberg concordou apenas verbalmente em estrelar o filme quando aproximada pelos produtores. Depois de passados dois anos de desenvolvimento, a atriz mudou de ideia. No entanto, na época um caso envolvendo a desistência de Kim Basinger em protagonizar o polêmico Encaixotando Helena (1993) resultou numa batalha judicial, rendendo para a atriz uma pesada multa. Com medo de que o mesmo ocorresse com ela, Goldberg aceitou fazer o filme. O resultado em exibições teste foi tão negativo que o filme foi lançado direto em vídeo, recebendo a “honraria” de ser a primeira produção que não foi lançada nos cinemas, a ser indicada ao prêmio Framboesa de Ouro.
Edward Norton | Uma Saída de Mestre (2003)
Nossa, que surpresa! Nosso garoto enxaqueca preferido de Hollywood não ficou feliz com um filme no qual esteve. Estamos chocados, só que não. Antes de problematizar em O Incrível Hulk (2008) e ser conhecido como um pesadelo de bastidores, fato adereçado de forma irônica em Birdman (2014), Edward Norton já chegava causando no mundo da sétima arte. Seu filme de estreia foi As Duas Faces de um Crime (1996), um sucesso de crítica que lhe rendeu elogios e uma indicação ao Oscar. Isso que é chegar chutando a porta. No entanto, nada vem de graça e quando aceitou fazer o filme, Norton assinou contrato para três outros com a Paramount, distribuidora do longa. Logo, novas ofertas de outros estúdios surgiram e Norton foi aceitando, cada vez mais sem tempo para o estúdio que iniciou sua carreira com o pé direito. Como havia um contrato, a Paramount logo tratou de colocá-lo em Uma Saída de Mestre (2003), filme com Mark Wahlberg e Charlize Theron. Norton fez o filme a contragosto, mas se negou a divulgá-lo.
Val Kilmer | Top Gun: Ases Indomáveis (1986)
Outro ator extremamente problemático, Val Kilmer é conhecido por ter comportamento de diva nos sets, um artista muito temperamental e difícil de trabalhar. Kilmer começou bem jovem na carreira, mas é seguro dizer que Top Gun foi um divisor de águas em seu currículo. Estranhamente, o ator não estava nem aí para o projeto. O que acontece é que Top Gun era parte de um contrato com a Paramount que Kilmer assinou para três filmes. Depois de sua estreia no cinema com a comédia nonsense Top Secret – Super Confidencial (1984), seguida pela comédia universitária Academia de Gênios (1985), Kilmer devia mais um filme ao estúdio, e estava na hora de tentar alguma coisa mais séria em sua carreira. Top Gun foi seu terceiro filme. Segundo o próprio ator em entrevistas, o saudoso Tony Scott, diretor do longa, correu atrás dele pelos corredores até o elevador, insistindo para que fizesse o filme. Ele finalmente aceitou trabalhar no projeto, e viria a repetir a parceria com Scott no filme escrito por Tarantino, Amor à Queima Roupa (1993), no qual interpretou Elvis.
Todo o elenco | Para Maiores (2013)
Se existe um filme que causou vergonha alheia à metade de Hollywood, esse filme é Para Maiores (Movie 43). A outra metade sentiu vergonha, mas não alheia, e sim deles mesmos já que estavam no filme. Para Maiores é um caso de estudo, um filme tão ruim que se tornou uma lenda – e se me perguntar não sei como ainda não virou uma obra cult. Por enquanto o filme é apenas considerado um dos piores já feitos, correndo o risco de conquistar a primeira posição. Veja esta lista de atores renomados, alguns inclusive vencedores ou indicados ao Oscar: Kate Winslet, Emma Stone, Richard Gere, Halle Berry, Chloë Grace Moretz, Hugh Jackman, Naomi Watts, Chris Pratt, Uma Thurman, Gerard Butler, Terrence Howard e Elizabeth Banks, isso só para citar alguns.
O que acontece é o seguinte, o produtor Charles B. Wessler, responsável por quase todos os filmes dos irmãos Farrelly, vide Debi & Loide (1994) e Quem Vai ficar com Mary? (1998), é um sujeito altamente influente em Hollywood e conseguiu convencer Winslet e Jackman a gravarem um esquete em 2009, que serviu como cartão de visitas para que todos os outros aceitassem embarcar no projeto. Muitos pensaram em desistir, alguns conseguiram, como Colin Farrell e George Clooney, que mandou o produtor ir se f**er. A maioria não teve tanta sorte, mas se recusaram a promover o filme no lançamento.
BÔNUS:
Ben Affleck | Liga da Justiça (2017) e The Batman (?)
Ben Affleck é um ator que já conheceu bem os altos e baixos de uma carreira em Hollywood. Chegando pela porta da frente (depois de alguns trabalhos nada memoráveis como coadjuvante), Affleck levou o Oscar para casa aos 26 anos de idade, pelo roteiro de Gênio Indomável (1997). Depois disso, se tornou o ator do momento, protagonizando blockbusters como Armageddon (1998) e Pearl Harbor (2001). Mas vieram também fracassos, e em meados da década passada o então astro quase atingiu o fundo do poço com um fiasco atrás do outro, vide Contato de Risco (2003), O Pagamento (2003), Menina dos Olhos (2004) e Sobrevivendo ao Natal (2004). Foi só quando o ator passou para trás das câmeras, se tornando um diretor de mão cheia com Medo da Verdade (2007), que seu prestígio voltaria.
Affleck entregou trabalhos sólidos como diretor, vide Atração Perigosa (2010) e venceu o Oscar com Argo (2012), conseguindo inclusive melhorar as escolhas como ator. Porém, ao aceitar viver seu segundo herói de quadrinhos nas telas, depois do hoje depreciado Demolidor – O Homem Sem Medo (2003), uma nova guinada foi feita em seu currículo rumo ao declínio. Trata-se de ninguém menos que Batman, um dos maiores heróis de todos os tempos, no longa achincalhado Batman Vs. Superman (2016). O contrato de Affleck o prendia a novos filmes, mas todo o elenco estava receoso.
Agora, com Liga da Justiça, filme no qual Affleck reprisa o papel, uma mudança de tom e diretor foi tentada, mas o filme segue sem agradar – ao menos os que não são fãs fanáticos – e emplaca uma aprovação muito baixa com os críticos e especialistas. Além disso, os números em bilheteria prometem não ser tão satisfatórios, apontam previsões. Justamente por isso, Affleck está pensando em pendurar a capa do personagem e não reprisar o papel no vindouro filme solo do herói, intitulado The Batman e previsto para estrear entre 2019 e 2020. Apesar de ter sido um bom Batman, será que Affleck entrará para a história como o ator que viveu o personagem nos filmes mais mal avaliados pela crítica?