“O Brasil nunca esteve tão perto de receber uma indicação para melhor filme estrangeiro no Oscar – e tem chances reais de vencer”. Essa frase vem sendo muito entoada por críticos e aficionados por cinema nos últimos tempos, desde que ‘Ainda Estou Aqui’ recebeu 10 minutos de aplausos de pé, após sua estreia no prestigiado Festival de Veneza. A aprovação internacional conta muito para a campanha de um filme que esteja se candidatando ao Oscar.
O último filme brasileiro indicado ao Oscar de produção internacional foi ‘Central do Brasil’, de 1998. Seria um círculo perfeito a indicação esse ano de ‘Ainda Estou Aqui’, já que ambos os filmes foram dirigidos por Walter Salles e com Fernanda Montenegro no elenco. Abaixo vamos relembrar os últimos 10 representantes do Brasil ao Oscar, incluindo o atual ‘Ainda Estou Aqui’. Confira.
Ainda Estou Aqui (2025)
O representante do Brasil ao Oscar 2025 é um filme que coloca nosso país mais perto do que nunca para uma indicação. Para começar fala sobre um tema ainda muito dolorido: a ditadura militar. Equilibrado com a política contida no longa, temos um drama belíssimo sobre o amor e a união de uma família. Um filme que consegue ser leve e belo, ao mesmo tempo em que traz os horrores do período. Além de filme, muitos dão como certa a indicação para melhor atriz, Fernanda Torres. Lembrando que sua mãe foi a única artista brasileira a receber nomeação de atuação. O lobby está forte lá fora, e isso é o que conta muito.
Retratos Fantasmas (2024)
O escolhido para representar o Brasil este ano foi o documentário de Kleber Mendonça Filho, que retrata a realidade de Recife, passado e presente, e declara seu amor por dois grandes cinemas da cidade, o Cinema Veneza e o cinema São Luiz. Mendonça não é estranho a prêmios, já que é quem assina filmes cultuados como ‘O Som ao Redor’ (2012), ‘Aquarius’ (2016) e ‘Bacurau’ (2019). ‘Retratos Fantasmas’, infelizmente, não entrou entre os cinco nomeados.
Marte Um (2023)
Em geral, os filmes brasileiros de maior prestígio são aqueles que retratam a dura realidade da vida no país. Ou seja, a classe pobre que resiste e clama por dignidade em um país de enorme desigualdade social. ‘Marte Um’ é exatamente este representante, que conta sobre uma família de classe baixa. Em especial, o sonho do menino Devinho (Cícero Lucas) em se tornar astrofísico e integrar um projeto Mars One, que visa colonizar Marte. O filme foi escrito e dirigido por Gabriel Martins, mas infelizmente não chegou aos cinco indicados.
Deserto Particular (2022)
O representante de um país ao Oscar, mesmo que não seja escolhido para os finalistas, traz prestígio para os realizadores. O fato fez do baiano Ally Muritiba um dos grandes realizadores de nosso país. Ou devemos dizer, o cimentou, pois o diretor já tinha em sua filmografia grandes obras elogiadas, como por exemplo, ‘Para Minha Amada Morta’ (2015) e ‘Ferrugem’ (2018). Depois, o cineasta seguiria para o comando de séries como ‘Cangaço Novo’ (2023) e ‘Cidade de Deus: A Luta Não Para’ (2024). ‘Deserto Particular’ conta a história sensível de uma relação improvável e transformadora. Um policial caído em desgraça devido ao abuso de poder, e uma paixão vinda da internet.
Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (2021)
‘Retratos Fantasmas’ não foi o primeiro documentário da última década a ser eleito o representante do Brasil por uma disputa entre os indicados na categoria estrangeira do Oscar. Há três anos, nosso país selecionava o sensível filme da atriz Bárbara Paz, feito como homenagem a seu companheiro, o icônico Hector Babenco, o argentino mais brasileiro de todos os tempos. E quem melhor para prestar esse belíssimo testemunho de uma vida e carreira do que sua companheira dos últimos seis anos de vida? O longa, infelizmente, foi mais um que não passou pela pré-seleção para chegar até os indicados.
A Vida Invisível (2020)
Por melhor que seja o filme selecionado para representar o Brasil, sempre existirá certa polêmica com aqueles que acreditam que outro filme deveria ser o escolhido para uma possível indicação. Por exemplo, ‘Marighella’ e ‘Medida Provisória’ foram filmes badalados que poderiam ter chance nas edições de 2022 e 2023 respectivamente. Dos filmes nacionais de 2019, que poderiam concorrer ao Oscar 2020, não existe dúvida que a grande sensação de nosso país foi o intenso ‘Bacurau’, de Kleber Mendonça Filho, um dos maiores sucessos de nossa filmografia, que mesmo quem não é tão ligado a cinema ou a produções nacionais certamente ouviu falar. Isso se chama fama! Porém, o selecionado foi um filme mais sensível, que prometia “causar” menos, mas não menos impactante em seu discurso sobre as questões femininas. Um filme belo e poético. ‘A Vida Invisível’, de Karim Aïnouz, tinha a cara de Oscar, mas também terminou não se qualificando para os indicados.
O Grande Circo Místico (2019)
Esse aqui causou polêmica por sua seleção. Acontece que o grande favorito de grande parte do público, fãs e cinéfilos para representar o Brasil por uma vaga no Oscar em 2019 era ‘Benzinho’, de Gustavo Pizzi, filme sobre o dilema de uma família, em especial de uma mãe de família, sofrendo da síndrome do ninho vazio. Isso porque o longa foi sucesso no prestigiado festival de Sundance nos EUA. Ao invés de ‘Benzinho’, o filme selecionado pela banca foi ‘O Grande Circo Místico’, exibido em Cannes, e que tinha o renomado Cacá Diegues como diretor. Muitos acreditam que o peso do nome do cineasta tenha sido decisivo para a escolha, e não a qualidade do filme em si. A trama narra a jornada dos artistas de um circo ao longo das décadas. ‘O Grande Circo Místico’ também não encontrou lugar entre os cinco indicados ao Oscar.
Bingo: O Rei das Manhãs (2018)
Na hora de selecionar um filme para representar um país no Oscar, é preciso levar em conta também o seu teor e o seu conteúdo. Por exemplo, filmes mais emocionantes, belos e edificantes como ‘O Filme da Minha Vida’, de Selton Mello, e ‘Como Nossos Pais’, de Laís Bodanzky, estavam entre os postulantes. São filmes mais aprazíveis para todos os gostos e públicos. Mas a intenção dos votantes foi por algo mais fora da caixinha, para ver se assim conseguiam sacudir as coisas. ‘Bingo’, de Daniel Rezende, é a biografia suja e incorreta do primeiro intérprete do palhaço Bozo no Brasil, um sujeito viciado em drogas e completamente lascivo. Entre as polêmicas do filme estava o fato de não poderem usar o nome Bozo, por ser uma marca internacional, precisando mudar o título e o personagem para Bingo. O longa também não ficou entre os finalistas.
Pequeno Segredo (2017)
Essa foi uma total bola fora da banca. E todos parecem concordar com isso. Embora seja um filme digno, que conte uma história bonita de altruísmo, essa biografia da família Schurmann, dirigido pelo próprio David Schurmann, ficou com cara de filme religioso ou de Sessão da Tarde. O consenso aqui é que o filme selecionado precisava ser ‘Aquarius’, de Kleber Mendonça Filho, um filme com questões relevantes, que deu o que falar na época, fez um tremendo sucesso tanto no Brasil quanto internacionalmente. Por uma razão política na época, muitos acreditam, a opção foi por ‘Pequeno Segredo’, que não se classificou nos finalistas.
Que Horas Ela Volta? (2016)
Finalizando a lista dos dez últimos representantes do Brasil ao Oscar temos o filme de Anna Muylaert, ‘Que Horas Ela Volta?’. E aqui não houve reclamação, tudo parecia estar no lugar. Um filme que todos queriam, um sucesso de bilheteria e crítica, um filme de certo prestígio internacional. O Brasil fez sua parte corretamente, porém, mesmo assim o longa não se classificou entre os finalistas. Esse é o receio que sempre recai, pois são muitos países tentando uma vaga e o Oscar é muita politicagem. Ou seja, mesmo em anos que acreditamos ter todas as peças no lugar para uma indicação, ela pode acabar não vindo. Mas não podemos perder a fé nunca. Esse ano será diferente…