sábado, abril 27, 2024

Berlim 2024 | Documentário ‘Dahomey’ ganha Urso de Ouro e Brasil leva três prêmios no Festival

No início da noite de sábado, dia 24 de fevereiro, foram anunciados os ganhadores dos prêmios de documentários, da mostra Encounters e da Competição Oficial do Festival de Berlim 2024. Entre os 20 filmes selecionados, o laureado com o Urso de Ouro foi o documentário Dahomey, da cineasta e produtora franco-senegalesa Mati Diop

Em seu discurso, a diretora de 41 anos lembrou das lutas dos povos africanos pela manutenção da democracia em seus territórios e das adversidades ainda vividas por conta de anos de opressão colonial, sendo este tema central do seu filme. Dahomey retrata a devolução ao Benim de 26 obras de arte saqueadas pelas tropas coloniais francesas. 

A discussão não é apenas sobre os objetos devolvidos, mas também a recuperação de apagamento histórico e cultural dos territórios colonizados. Este é o segundo prêmio de grande expressão da diretora. O primeiro foi com o longa sobre migração Atlantique (2019), Grand Prix do Júri no Festival de Cannes. 

Elenco, diretor e produtores do Ganhador do Urso de Ouro Dahomey

Prêmios ao Cinema Nacional

Pela manhã, o evento anunciou o ganhador da Panaroma, eleito pelo público e, ontem a noite, dia 23, os prêmios de curta-metragens, assim como da FIPRESCI – Federação Internacional de Críticos de Cinema. No total, três filmes nacionais saíram premiados do evento. 

Lapso

O curta-metragem Lapso, de Carolina Cavalcanti, ganhou menção especial do júri na mostra Geração 14plus. A deliberação do júri – composto por Erik Lars Dziergwa, Viola Holland, Cynthia Kuo-Lo, Solace Pieper, Sea Starzacher – destacou: 

Este filme é uma história de amor poderosa, e única, de dois adolescentes. O que realmente brilha é a capacidade de inspirar o espectador a ter empatia por dois personagens que têm circunstâncias e desafios muito diferentes. Junto com eles, embarcamos numa jornada de aprendizagem que proporciona um vislumbre íntimo da vida de duas pessoas que o mundo não teve tempo de entender. O filme é verdadeiramente uma celebração de como a coragem de compreender pode ser imensamente poderosa e superar barreiras.

Juan Queiroz e Carolina Cavalcanti, ator e diretora, do premiado ‘Lapso’.

Dormir de Olhos Abertos

Outro agraciado, desta vez pela FIPRESCI – o júri da crítica internacional – é o intimista Dormir de Olhos Abertos, da Nele Wohlatz. Produzido por Kléber Mendonça Filho e ambientado no Recife, o longa  levou o prêmio da crítica na mostra Encounters, representado por Celina Darta, Deniz Sertkol e Nace Zavrl. 

Em coprodução com Taiwan, Argentina e Alemanha, Dormir de Olhos Abertos conta a história de imigrantes chineses no nordeste brasileiro em busca de melhores condições de vida. Se o processo migratório dos países subdesenvolvidos são explorados incessantemente em direção à Europa e aos Estados Unidos, o enredo nos propõe um novo olhar sobre o processo. 

Cidade; Campo

Com direito a discurso no palco do Palácio do Festival, a diretora Juliana Rojas recebeu o prêmio de Melhor Direção da mostra Encounters, por Cidade; Campo. A produção é dividida em duas narrativas de movimentos de indivíduos atrás de recomeços, uma do campo para a cidade e outra da cidade para o campo. Como seus trabalhos anteriores, Juliana mistura crítica social e trabalhista ao terror sobrenatural e fantasmagórico da psique humana. 

Não deixe de assistir:

Sara Silveira, Mirella Façanha, Fernanda Vianna, Juliana Rojas, Bruna Linzmeyer do filme premiado Cidade; Campo

Em seu discurso de agradecimento, Juliana Rojas pediu por um cessar-fogo na Faixa de Gaza em suporte aos milhares de palestinos, continuamente vítimas de bombardeamentos de Israel. O confronto esteve presente nas declarações de vários convidados e as lembranças também recaíram sobre o triste aniversário de dois anos contínuos da guerra entre Ucrânia e Rússia. 

Leia mais: Conheça os títulos BRASILEIROS presentes no Festival de Berlim 2024

Surpresas nas Escolhas do Júri

Anunciado como favorito entre os críticos (veja o ranking da crítica), Dahomey como vencedor do Urso de Ouro era previsível. Os outros laureados, no entanto, renderam grandes surpresas. Dois filmes de comédia despretensiosos ganharam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, A Traveler’s Needs, de Hong Sang-Soo; e O Império, de Bruno Dumont.

Hong Sang Soo subiu ao palco curioso pela sua vitória, enquanto Bruno Dumont fez um simulado discurso com o Google Tradutor, já que o cineasta francês não fala inglês, nem alemão. Já o prêmio de melhor direção foi para a proposta experimental Pepe, do diretor dominicano Nelson Carlos de Los Santos Arias. Como essas escolhas, o júri saiu do conservadorismo dos filmes de drama clássicos e apostou nas narrativas pouco convencionais.

Sebastian Stan em A Different Man

Os escolhidos de melhores performances também são casos polêmicos. Como coadjuvante Emily Watson ganhou o troféu por aparecer em apenas uma cena em Small Things Like This. Com torcida para as raras interpretações femininas de Sidse Babett Knudsen em Filhos (Sons) e Anja Plaschg em O Banho do Diabo (The Devil’s Bath), o escolhido foi Sebastian Stan, por A Different Man

Veja a lista completa dos vencedores abaixo: 

Urso de Ouro de Melhor Filme: Dahomey, de Mati Diop

Grande Prêmio do Júri Urso de Prata: A Traveler’s Needs, de Hong Sangsoo

Prêmio do Júri Urso de Prata: O Império (The Empire), de Bruno Dumont

Urso de Prata de Melhor Diretor: Nelson Carlos De Los Santos Arias por Pepe

Urso de Prata para Melhor Atuação Principal: Sebastian Stan, por A Different Man

Urso de Prata para Melhor Atuação de Apoio: Emily Watson, por Small Things Like These

Urso de Prata de Melhor Roteiro: Matthias Glasner, por Sterben (Dying)

Urso de Prata por Contribuição Artística Extraordinária: Martin Geschlecht pela cinematografia em O Banho do Diabo (The Devil’s Bath)

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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