quarta-feira , 26 fevereiro , 2025
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A Família

OS ADDAMS DA MÁFIA

Conhece a expressão “filme de uma piada só”. Pois A Família, nova produção estrelada pelos veteranos Robert De Niro (O Casamento do Ano) e Michelle Pfeiffer (Bem Vindo à Vida), se encaixa justamente no quesito. Não que isso seja uma coisa ruim, e na maioria das vezes se refere à estrutura e tema de certos filmes. Essa é a fórmula do peixe fora d´água, usada repetidamente no cinema, e imortalizada em muitas franquias de sucesso como A Família Addams e A Família Buscapé – para ficar dentro da temática de famílias.

A Família é exatamente assim. Troque apenas o clima macabro de terror dos Addams, e a inocência campestre e sem sofisticação dos Clampett, por tudo relacionado a crimes e violência implícita na máfia. Na trama, a família Manzoni é relocada por agentes federais, como parte do programa de proteção às testemunhas, depois que o patriarca Giovanni delatou um poderoso chefão. Correndo risco de vida, a família adere ao programa, artifício muito usado nos Estados Unidos, e assim passam a viver sob nova identidade.

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O problema é que essa família estava mais do que acostumada a seu estilo de vida, e constantemente não conseguem se adaptar às novas comunidades, precisando ser novamente relocada. Sua última parada é na Normandia, França, local no qual encontramos a família durante o filme, sob a alcunha de Blake. Assim como os filmes citados, todo tipo de comportamento inadequado é cometido pela família, é claro sempre utilizando a temática da obra. Daí o termo “filme de uma piada só”.

A mãe (Pfeiffer) taca fogo num mercado porque os funcionários criticam os americanos, o pai dá sumiço em um encanador que queria extorqui-lo, a filha (Dianna Agron, da série Glee) espanca um sujeito abusivo a raquetadas, e o filho (John D´Leo, Viajar é Preciso) realiza um verdadeiro esquema em seu colégio, e por aí vai. A questão é que dentro de sua fórmula, o filme se sai relativamente bem, e consegue se tornar um passatempo que não dará dor de cabeça ao público.

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Baseado no livro de Tonino Benacquista, A Família é dirigido por Luc Besson, cineasta francês de renome, responsável por filmes como Nikita – Criada para Matar, O Profissional e O Quinto Elemento. Besson andava meio sumido dos holofotes, e essa produção marca sua volta aos filmes chamativos, depois de 14 anos (desde quando escorregou com Joana d´Arc). Anteriormente intitulado como Malavita, o filme apresenta um conceito e ideias mais interessantes do que sua realização de fato.

Por exemplo, ao pensarmos em filmes sobre mafiosos, pensamos automaticamente em De Niro. O ator já participou de tantos projetos sobre o tema, que tê-lo num filme assim já é clichê. De Niro já fez até comédias sobre o assunto. Com Michelle Pfeiffer ocorre o mesmo, já que a atriz esteve em produções como Scarface e De Caso com a Máfia. Juntá-los em um filme assim é natural, e se torna uma grande homenagem. Além de ser o primeiro trabalho juntos desses icônicos atores americanos.

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O tom de A Família é ácido, e na maioria de suas cenas faz uso de um humor negro. Tragédias criadas para arrancar risadas. Esse é um filme que deve ser recomendado apenas como passatempo despretensioso, já que seu conceito (que pode ser visto nos trailers e sinopses) não causará surpresa alguma. O longa é exatamente o que você espera dele, e um filme morno pode ser muito pior do que uma obra realmente detestável ou um prazer culposo, para muita gente.

A certa altura temos De Niro querendo se enturmar num clube de filmes. E adivinhe qual é o filme ao qual irão assistir. Não, não é esse, mas é aquele outro. Até isso se torna uma cena óbvia demais, e nada realmente é tentado com ela, a não ser o reconhecimento de algo familiar. “Sim, eu lembro que ele esteve nesse filme, e agora ele está assistindo ao filme, dentro de outro filme. Não é engraçado?” Ah sim, ainda temos Tommy Lee Jones (Lincoln), ou será que temos.

Blue Jasmine

(Blue Jasmine)

 

Elenco: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Alden Ehrenreich, Peter Sarsgaard, Michael Stuhlbarg, Bobby Cannavale, Louis C.K., Sally Hawkins, Max Casella, Charlie Tahan, Andrew Dice Clay.

Direção: Woody Allen

Gênero: Drama

Duração: 98 min.

Distribuidora: Imagem Filmes

Orçamento: US$ — milhões

Estreia: 15 de Novembro de 2013

Sinopse:

Depois de tudo na sua vida se ter desmoronado, incluindo o casamento com Hal, um rico homem de negócios, a elegante Jasmine, uma mulher habituada à vida social de Nova Iorque, muda-se para o modesto apartamento da irmã Ginger, em São Francisco, para se tentar recompor de novo. Jasmine chega a São Francisco num estado mental frágil, a sua cabeça num rolo, devido ao cocktail de anti-depressivos que anda a tomar. Apesar de ainda conseguir projectar a sua postura aristocrática, Jasmine está mentalmente débil e falta-lhe qualquer capacidade prática de cuidar de si própria. E desaprova o namorado da irmã, Chili, que considera um falhado, como o ex-marido dela, Augie. Ginger, reconhecendo mas não compreendendo totalmente a instabilidade psicológica da irmã, sugere-lhe que trabalhe em design de interiores, uma carreira que correctamente intui que Jasmine não considere indigna do seu estatuto. Entretanto, Jasmine aceita com relutância um emprego como recepcionista num dentista, onde sem o desejar atrai as atenções do patrão, o Dr. Flicker. Sentindo que a irmã pode ter razão em relação ao seu terrível gosto em relação aos homens, Ginger começa a sair com Al, um engenheiro de som que considera um degrau acima de Chili. E Jasmine vislumbra uma potencial hipótese de vida quando conhece Dwight, um diplomata que é imediatamente seduzido pela sua beleza, sofisticação e estilo. O problema de Jasmine é que funciona em função da maneira como é vista pelos outros, enquanto que ela própria está cega em relação ao que se passa à sua volta. Delicadamente interpretada por uma muito real Cate Blanchett, Jasmine conquista a nossa compaixão porque se torna um inconsciente instrumento da sua própria queda.

 

Curiosidades:
» —

 

Trailer:

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O Tempo e o Vento

(O Tempo e o Vento)

 

Elenco:

Fernanda Montenegro, Thiago Lacerda, Cleo Pires, Marjorie Estiano, Paulo Goulart, José de Abreu, Suzana Pires.

Direção: Jayme Monjardim

Gênero: Drama

Duração: 127 min.

Distribuidora: Downtown Filmes

Orçamento: US$ — milhões

Estreia: 20 de Setembro de 2013

Sinopse:

O filme conta a história da família Terra Cambará e de sua principal opositora, a família Amaral, durante 150 anos, começando nas Missões até o final do século XIX. Sob o ponto de vista da luta entre essas duas famílias, são retratadas a formação do Rio Grande do Sul, a povoação do território brasileiro e a demarcação de suas fronteiras, forjada a ferro e espada pelas lutas entre as coroas portuguesa e espanhola.

Além de ser uma notável história épica, plena de heróis como Capitão Rodrigo e o índio castelhano Pedro Missioneiro, O Tempo e o Vento é uma profunda discussão sobre o significado da existência, da resistência humana diante das guerras. Por isso, para a adaptação cinematográfica, tomamos como estrutura o olhar feminino da quase centenária Bibiana Terra Cambará. Em meio ao cerco do casarão
de sua família pelos Amarais, ela se valerá de sua memória, sempre deflagrada em noites de vento, para lembrar e contar sua história e as de seus antepassados. E, assim, resistir ao tempo e protestar contra a morte.

Curiosidades:

» O Tempo e o Vento é baseado na maior obra do escritor Erico Verissimo, ‘O Continente’.

Trailer:

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Elysium (2)

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

O aguardado Elysium finalmente chega aos cinemas brasileiros. O filme marca a segunda produção dirigida pelo sul-africano Neill Blomkamp, que tomou o mundo do cinema de assalto em 2009 com seu primeiro longa, Distrito 9, produzido por Peter Jackson. A obra conquistou crítica e público, se tornando um dos filmes mais populares da última década, e inclusive recebeu uma indicação ao Oscar de melhor filme, feito raro para uma ficção científica.

Por todos esses fatores a expectativa não poderia ser maior para o próximo projeto do cineasta. E ela aumentava a cada nova revelação, fossem os atores elencados ou as imagens divulgadas. Escrito pelo próprio Blomkamp, o novo filme segue os padrões de seu projeto anterior: é uma ficção científica muito relacionável com a realidade em que vivemos hoje, um filme cru e sujo, e que acima de tudo serve como grande crítica social e política.

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No futuro, os humanos esgotaram os recursos naturais da Terra, transformando-a num imenso lixão. Aqui, numa realidade apocalíptica as pessoas vivem sem qualidade alguma e a vida não vale quase nada. Os ricos, que somam apenas 1% da população do planeta, vivem em Elsysium, uma estação espacial que circunda a Terra, e lá usufruem de uma utopia artificial. Em Elysium nenhuma doença é incurável, inclusive. O local é regido com mão de ferro pela secretária Delacourt, a ambiciosa personagem da Oscarizada Jodie Foster.

O astro Matt Damon é o protagonista Max, um sujeito que desde a infância sonha em poder ir para o paraíso nas estrelas, mas precisa se conformar com sua triste realidade. Após um acidente fatal, seus dias estão contatos, e sua única salvação é chegar ilegalmente à estação espacial atrás da cura. O filme assim como Círculo de Fogo vinha com grande expectativa de salvar um verão americano sem muita qualidade, além de tentar imprimir em 2013 a ficção científica como fonte rentável de ideias para blockbusters.

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No entanto, Elysium não deixa de ser um pouco decepcionante. O que chama a atenção após vermos o produto pronto inteiro é que você saberá o filme todo tendo assistido aos seus trailers. A previsibilidade é nesse nível. Nenhuma novidade é apresentada que consiga causar reviravolta na sinopse. Elysium é também um filme que desejamos que fosse maior. A riqueza de tal universo apresentado é tão grande, cada pequeno detalhe bem trabalhado na direção de arte, que o produto final não faz jus. Elysium possui muita coisa a ser mostrada e seu tempo de duração de 109 minutos funciona contra ele.

Por exemplo, como seria a vida na estação espacial Elysium? Vemos apenas o conceito, sem presenciarmos como é realmente viver em tal paraíso. Os personagens também não possuem tempo suficiente para serem desenvolvidos. A vilã de Jodie Foster é bidimensional e mal explorada. A grande atriz não possui espaço para inserir humanidade na personagem, cujo papel se torna apenas dar ordens letais (como um arqui-inimigo num filme ruim de James Bond).

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O que aparenta é que Elysium tem conceitos legais, designs legais, figurinos e direção de arte legais, conceito de personagens, mas é falho em explorar sua trama. Outro que percebemos que poderia ir mais longe é o psicótico e divertido personagem Kruger, de Sharlto Copley (colaborador de Blomkamp em Distrito 9). Ele é um agente renegado, que sofreu implantes demais e é usado como assassino ilegal do governo para a queima de arquivo. Numa determinada cena vemos uma faísca de como sua personalidade poderia ser mais explorada, mas no geral é apenas utilizado nas cenas de ação, como alívio de adrenalina.

Sem querer puxar sardinha para a nossa terra, quem se sai melhor são mesmo os brasileiros dessa produção globalizada. A escolada em Hollywood Alice Braga vive Frey, uma enfermeira que é o interesse romântico do protagonista. A atriz exibe fragilidade, desespero, mas também grande nobreza em sua personagem. Mas os louros absolutos vão para o grande Wagner Moura, que foi escolhido a dedo pelo diretor, fã de Tropa de Elite. Moura, como um bom camaleão, torna difícil para os não familiarizados com ele identificá-lo na pele de Spider, o rei do submundo na Terra, e melhor personagem do filme.

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O ator possui um papel importante na trama, aparece com destaque, e se sente em casa, muito à vontade sem deixar transparecer nem por um momento que essa é sua primeira grande produção Hollywoodiana. Moura é um grande ator e tem um futuro brilhante internacionalmente também. Mesmo com todos os seus defeitos Elysium possui também muitas ideias, o que sem dúvidas é mais do que se pode dizer da maioria dos grandes filmes que são feitos no cinema blockbuster. E por esse motivo, além é claro de conferir nossos orgulhos Moura e Braga, Elysium deve ser recomendado.

Blitz

(Blitz)

 

Elenco: Jason Statham, Paddy Considine, Aidan Gillen, Zawe Ashton, David Morrissey, Richard Riddell.

Direção: Elliott Lester

Gênero: Suspense

Duração: 97 min.

Distribuidora: Imagem Filmes

Orçamento: US$ 9 milhões.

Estreia: Direto em DVD – Agosto de 2011

Sinopse:  

A vida do sargento Brant (Jason Statham) não está fácil: em julgamento por ter agredido um psicólogo policial, ele ainda precisa lidar com o abandono do esquadrão em que trabalha. Além disso a esposa do inspetor-chefe Roberts morreu em um acidente de carro e a policial Falls fica no seu pé o tempo todo, na tentativa de conseguir uma vaga na equipe. Em meio a este turbilhão, Brant ainda precisa lidar com “The Blitz”, um serial killer que tem como alvo policiais que fazem batidas pela cidade. 

Curiosidades:

» Baseado no livro homônimo de Ken Bruen (mesmo autor de “London Boulevard”).


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Rush: No Limite da Emoção

VELOZES, FURIOSOS E RIVAIS

O que constitui um bom filme? A resposta imediata seria uma boa história a ser contada, e bons personagens, e com isso digo personagens bem desenvolvidos. Em segundo viriam bons diálogos e cenas memoráveis. Rush – No Limite da Emoção, novo filme do prestigiado diretor americano Ron Howard (Uma Mente Brilhante) possui todos os itens citados acima, e mais os outros adendos de uma grande obra, como fotografia, trilha sonora, direção de arte, maquiagem, etc.. Itens esses que farão o público tirar o chapéu para um dos melhores filmes de 2013.

É muito bom para quem assiste a muitos filmes receber um presente como Rush, que reforça a nossa paixão pela sétima arte. Temos que passar por uma verdadeira provação até o fim de cada ano, precisando encarar filmes horrendos, que nos fazem questionar nosso amor pelo cinema. Mas a cada fim de ano (geralmente por volta de setembro) as preciosidades começam a aparecer. E para quem ama cinema e faz disso a sua vida, assistir a um filme como Rush é como renovar os votos de casamento.

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Garantido de indicações em época de premiações, Rush usa como pano de fundo o universo das corridas de fórmula 1, para contar a história real da rivalidade entre os pilotos Niki Lauda e James Hunt, durante a década de 1970. Mas engana-se quem pensa que Rush é só mais um filme de esporte formulaico. Assim como os grandes filmes de qualquer gênero, Rush prefere gastar seu tempo desenvolvendo seus personagens à perfeição, para que ao lado deles entremos nessa jornada, e entendamos as perspectivas dos dois.

Rush também marca as pazes do irregular Howard com o sucesso. O cineasta entrega um filme digno de seus melhores, vide Frost/Nixon e o citado Uma Mente Brilhante. Na trama, o alemão Lauda e o britânico Hunt são pilotos que escalam da depreciada fórmula 3, para a consagração máxima como corredores membros da elite, e superastros na fórmula 1. O que trazem consigo desde o início além do talento é a grande rivalidade entre eles, que com o tempo só faz aumentar.

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Suas personalidades não poderiam ser mais opostas, condizendo com todo o resto que cerca indivíduos tão diferentes e iguais ao mesmo tempo. Enquanto Hunt se aproveita da aparência, fama e sim do talento também, para viver como uma verdadeira estrela do rock; o visualmente peculiar Lauda é ambicioso o suficiente, astuto e obstinado para estar sempre a um passo na frente. A personalidade centrada de Lauda, e sua incapacidade de se divertir custavam-lhe a socialização necessária para ser mais influente, e não receber adjetivos como o de cretino.

Parte das qualidades citadas no início do texto são trazidas pelo roteirista do filme, o britânico Peter Morgan. Duas vezes indicado ao Oscar (por Frost/Nixon e A Rainha), Morgan cria tudo o que é necessário para termos um grande filme. Sua capacidade como contador de histórias, que conseguem nos envolver, é admirável. Morgan cria a ambiguidade necessária para em momento algum apontar vilões e mocinhos.

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Ele ao mesmo tempo coloca todas as cartas na mesa em relação aos dois protagonistas, para que tiremos nossas próprias conclusões. E filmes sem respostas fáceis são sempre muito mais interessantes. A rivalidade entre os protagonistas encontra também muita humanidade na maioria das cenas. Esses são seres humanos que nos conquistam duplamente pelas suas qualidades e defeitos. Rush também pode ser considerado um grande filme entretenimento, que não irá desapontar a família que quiser ir junta ao cinema (apenas com uma cena ou outra mais intensa).

A maquiagem é perfeita, em cenas que mostram o resultado de um acidente envolvendo queimaduras no hospital, são de grande agonia. Os atores igualmente merecem os louros. O espanhol fluente em alemão Daniel Brühl (Adeus, Lênin! e Bastardos Inglórios) finalmente terá seu talento reconhecido como um dos melhores jovens atores de sua geração. O ator multilíngue cria um Niki Lauda memorável e muito especial. Seu trabalho aqui é fantástico.

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E para os descrentes que achavam que Chris Hemsworth (Os Vingadores) seria para sempre apenas o Thor, uma boa notícia: existe um ator por baixo do super-herói. Rush marca o primeiro filme sério, e papel maduro do ator australiano, que esquece o trejeito do personagem nórdico da Marvel para se entregar aos vícios e inseguranças de um sujeito aparentemente imbatível na superfície. Acima de tudo Rush chega num ano de tantas cinebiografias recentes (como Jobs e Lovelace) para ensinar que um grande filme precisa sair da zona de apenas relatar os fatos, afinal cinema é magia.

Eu, Anna

VESTIDA PARA DELIRAR

Eu, Anna é um drama psicológico com doses de suspense. Uma co-produção entre Reino Unido, França e Alemanha, a obra passada em Londres é baseada num livro de Elsa Lewin, e conta a história de Anna Welles, personagem da lendária atriz britânica Charlotte Rampling (Swimming Pool – À Beira da Piscina). Ela á uma mulher de terceira idade solitária, divorciada, e que tem somente a filha e a neta bebê em sua vida.

Sentimos o grande baque que foi a separação para a protagonista. Mas sua filha, Emmy, papel da bela Hayley Atwell (a Peggy Carter dos filmes do Capitão América da Marvel), insiste para que ela saia e conheça novas pessoas, e para que encontre a felicidade novamente. É justamente isso que a personagem faz assim que a conhecemos na primeira cena. Anna está num encontro promovido para solteiros de sua faixa etária, socialização forçada e muito utilizada em outros países como os Estados Unidos, por exemplo.

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Entra em cena Bernie, o inspetor-chefe da polícia, interpretado pelo irlandês Gabriel Byrne (Os Suspeitos), ator veterano muito conhecido em Hollywood também. O sujeito, que está passando por uma fase pessoal difícil, que inclui o divórcio da esposa, coincidentemente se apaixona pela protagonista e a segue até um de seus encontros aonde iniciam uma relação promissora. O policial paralelamente está investigando um caso de assassinato.

Todas as pistas do crime apontam para o filho do falecido, um jovem de 16 anos de idade, envolvido com drogas e traficantes, que não possuía o melhor dos relacionamentos com o pai. Dirigido pelo britânico Barnaby Southcombe (diretor de séries de TV), a obra tem todo o sentimento de produções europeias, nas quais o que mais conta é o desenvolvimento dos personagens, e a sensação de sermos literalmente jogados na trama, como se realmente tivéssemos entrado naquele mundo e naquela história.

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Os cineastas europeus parecem dar grande valor a apresentar as locações e os cenários como um personagem. Eles se dedicam a dar vida às cidades onde as obras são passadas, como se por essas duas horas de projeção tivéssemos mudado para o local. Ao contrário de produções hollywoodianas, infelizmente incluindo algumas das mais caras, nas quais tudo é tão acelerado que mal conseguimos olhar ao redor detalhadamente.

E os cuidados tomados em Eu, Anna são muitos. Vão desde um trabalho minucioso e psicológico da criação dos personagens, destaque para Rampling; até a condução da trama de forma deliberada, já que esse também é um suspense que inclui algumas reviravoltas bem interessantes. Como muitas obras europeias, a produção joga o necessário para o público, sem mastigar explicações. A narrativa apresenta informações através de imagens e poucos diálogos, mas suficientes para que liguemos os pontos por nós mesmos.

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O estudo de personagem é riquíssimo e digno de horas de discussão. O único lado negativo dessa interessantíssima produção é justamente o fato de depender de uma reviravolta para a conclusão de sua trama. E qualquer clímax que dependa de uma reviravolta se torna automaticamente anticlimático para a maior parte do público, já que nenhuma explicação jamais corresponde nossas expectativas.

Invocação do Mal (3)

Invocação do Mal é um filme irresponsável. O caso é até mais específico: este é um filme de terror irresponsável. No longa, que estreia nesta sexta, 13, o que chama atenção é a maneira como o diretor James Wan deixa a narrativa e a cena à revelia enquanto persegue o objetivo primordial do gênero, criar medo nos espectadores. Sua irresponsabilidade é tamanha que as idas e vindas da história, elementos tão típicos do horror, são banalizados de forma quase grosseira, sempre à mercê das oportunidades que cada cena tem de assustar. Não há enganos. Wan tem o medo como princípio e fim de sua mise en scène.

Inspirado em indivíduos reais, o roteiro de Chad e Carey Hayes acompanha a família Perron nos anos 1970, após se mudar para uma casa em que investiram muito. A paz dura pouco, pois fenômenos sobrenaturais se tornam cada vez mais frequentes e violentos. A solução que eles encontram é entrar em contato com Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson), um casal que fez carreira investigando ocorrências paranormais. Porém, o que os especialistas veem e vivem na casa dos Perron é mais intenso do que qualquer caso anterior.

Invocação do MAl 1

A divisão da trama em dois núcleos narrativos é a principal indulgência do diretor. O início do filme, na verdade, coloca os investigadores sobrenaturais como protagonistas. Não só eles são o ponto de conexão entre o prólogo e a narrativa principal, como também ganham uma cena que tem a função ululante de apresentá-los. É essencial dizer que esses minutos iniciais da projeção são vertiginosos. Como é comum em filmes do gênero, há uma iniciação à atmosfera de medo com personagens criados especificamente para esse propósito. As assombrações, porém, surgem apenas em flashbacks que esses personagens (três colegas de apartamento) evocam ao relatar uma ocorrência aos Warren. Se eles narram o caso exibido na tela ou se a tela exibe o caso narrado, pouco importa. Mais do que as piruetas narrativas, o foco é no aproveitamento da tensão em todas suas possíveis variações.

Porém, o movimento mais desconcertante dos primeiros minutos do filme é quando essa passagem se conecta a uma palestra dos Warren – a já citada cena introdutória do casal. Essa desconstrução do prólogo do filme de horror tem sua validade, mas a montagem dessas peças é bruta e atabalhoada. Soa como uma criança que tenta encaixar um triângulo no buraco quadrado de seu brinquedo. Esta imagem poderia ser usada para descrever várias escolhas narrativas dos realizadores, desde a separação das histórias dos Warren e dos Perron até momentos com ações simultâneas. Não seria exato dizer que o editor, os roteiristas e o diretor são incompetentes, ou sequer desleixados. Eles são, insisto, irresponsáveis, pois a preocupação primeira da equipe é espremer cada possibilidade de medo em qualquer formato. E, nessa empreitada de propósito único, o filme se sai muito bem.

O farto potencial para tensão encontra válvulas de escape de toda sorte, sejam sustos, suspense ou manifestações violentas. Wan tem um vasto parque de diversões à disposição, pois a quantidade de eventos paranormais é considerável. Ele cria um desequilíbrio excelente ao reformular os métodos de assustar em cada cena, fazendo espirituosas brincadeiras com os clichês cênicos do gênero. Sim, a insistência em efeitos sonoros desleais por vezes irrita e alguns instantes não se saem tão bem – a assombração torce-cabelo começa com o tom errado e a presença atrás da porta termina sem impacto –, mas o saldo geral é bastante positivo. Não só há mais sustos, como também eles são muito mais bem encenados do que no filme anterior de Wan, o igualmente vagabundo e divertido Sobrenatural.

Invocação do Mal 3

Outra característica incrementada de uma obra para a outra foi a modelagem da cena para extrair elementos assustadores. No terror de 2011, a encenação era suavemente deformada para aumentar a tensão, como quando a personagem de Rose Byrne espera que uma voz macabra faça várias ameaças a seu filho antes de averiguar. Em Invocação do Mal, essa deformação é muito mais pronunciada, já que é aplicada ao esqueleto do roteiro. Um momento em particular delata o grau de importância assinalado aos elementos de horror propriamente ditos. Após uma violenta manifestação na casa, Roger Perron (Ron Livingston) chega de seu trabalho e encontra sua esposa e suas filhas aterrorizadas. “O que diabos está acontecendo aqui?!”, questiona o homem, desesperado. Corte para os Warren. A cena, após cumprir seu papel de assustar, é descartada de forma tão brusca que beira o cômico.

É difícil definir se essa estrutura inicial, que separa os dois núcleos narrativos, mina os esforços de construir tensão ou não. Por um lado, a família Perron é quase sempre o foco do filme, além de ser implacável e sistematicamente atacada pelas forças sobrenaturais. Por outro, cortes como o descrito acima rompem o terror e mutilam o drama familiar, ainda mais quando os Warren protagonizam tantos momentos dignos de comercial de margarina. A sensação (incerta) é de um relativo sucesso como terror, especialmente pela habilidade de Wan para espalhar sobressaltos inesperados pelo filme. Afinal, um dos maiores inimigos da tensão – mais ainda que uma trilha sonora espalhafatosa, que abunda aqui – é a fórmula episódica que determina e anuncia os “momentos de susto”.

Invocação do Mal 2

Em uma passagem do clímax, que alterna dois acontecimentos simultâneos, surge o maior exemplo da torção da narrativa para extrair o máximo do horror. Enquanto uma cena violenta e histérica se dá no porão, um ajudante dos Warren (Shannon Kook) percorre a casa escura para encontrar uma das meninas. A montagem mescla os eventos, um deles grotesco e barulhento (e, sim, inaudível no resto da casa) e o outro encenado como um suspense na ponta dos pés, com direito a um susto-do-gato – mas, claro, com outro animal. Chega a ser hilário que o diretor tente construir a tensão de duas formas quase opostas em cenas intercaladas. Essa escolha cimenta que assustar é mais importante do que tudo, inclusive a coerência tonal. Wan não vê sentido em desperdiçar uma cena que impressiona pelo grito só porque outra, de tensão mais comedida, está acontecendo ao mesmo tempo, ou vice-versa.

Se Invocação do Mal se desdobra de forma temerária para assustar a plateia, ao menos o objetivo é cumprido a contento. É um horror abusado em sua narrativa, mas numa suave variação Hollywoodiana – nada que lembre o labiríntico Martyrs, por exemplo. Também não atrapalha que a dinâmica entre Ed e Lorraine seja trabalhada com sensibilidade, de início segundo papéis pré-determinados de Homem e Mulher, e mais tarde com a distribuição equilibrada de fragilidades e resistências. Tanto Farmiga quanto Wilson entregam performances centradas e potentes, uma lembrança constante de que eles são dois indivíduos, nada mais e nada menos. Os dois personagens estão entre os poucos elementos do filme que coexistem em harmonia, sem se canibalizarem, porque se destacam sem a necessidade de subjugar algo à sua volta.

A Hora do Pesadelo

 

(A Nightmare on Elm Street)

Elenco: Kellan Lutz, Katie Cassidy, Rooney Mara, Thomas Dekker, Jackie Earle Haley, Connie Britton, Kyle Gallner.

Direção: Samuel Bayer

Gênero: Terror

Duração: 91 min.

Distribuidora: Warner Bros.

Estreia: 07 de Maio de 2010.

Sinopse: Freddy Krueger está de volta em ‘A Hora do Pesadelo‘, uma reedição contemporânea do clássico do terror. Um grupo de adolescentes suburbanos compartilha um vínculo: todos estão sendo perseguidos por Freddy Krueger, um assassino horrivelmente desfigurado que os caça durante seus sonhos. Quando acordados, eles protegem uns aos outros mas quando estão dormindo, não há escapatória.

Exibindo o chapéu que é a marca registrada de Freddy, um casaco de listras vermelhas e verdes e luvas com quatro lâminas está o indicado ao Oscar® Jackie Earle Haley (Pecados Íntimos, Watchmen). O filme é dirigido por Samuel Bayer e é produzido por Michael Bay.

A Hora do Pesadelo‘ se baseia em personagens criados por Wes Craven no seu sucesso de terror de 1984. O filme deu origem a uma das séries de terror mais inovadora, bem sucedida e duradoura, com sete seqüências. Agora, 25 anos depois, surge a encarnação contemporânea da história original de Freddy Krueger.

 

 

Curiosidades:
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Refilmagem do clássico do terror ‘A Hora do Pesadelo‘ (1984), de Wes Craven.

» Diretor de videoclipes, Samuel Bayer, estreia na direção de filmes. Ele dirigiu clipes para The Cranberries e Garbage, inclusive ‘Smells Like Teen Spirit’, do Nirvana.

» A Platinum Dunes é responsável por várias refilmagens, como ‘O Massacre da Serra Elétrica‘ e ‘Horror em Amityville‘.

» O Orçamento foi de US$ 18 milhões.


Trailer:

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Dose Dupla

BUDDY COP MOVIE TEM BOA QUÍMICA ENTRE OS PROTAGONISTAS

O filme de ação policial Dose Dupla marca dois reencontros. O primeiro é o do ator Mark Wahlberg (Sem Dor, Sem Ganho) com o diretor islandês Baltasar Kormákur, que ano passado o comandou no remake insosso Contrabando. E o segundo é o do ator Denzel Washington com a belíssima Paula Patton, cujo primeiro trabalho de destaque no cinema foi em Deja Vu (2006). Baseado na graphic novel de Steven Grant, o filme mistura ação, suspense e humor numa trama intrincada demais para o seu próprio bem.

Denzel Washington é Bobby, um agente da divisão de narcóticos. Mark Wahlberg é Stigman, um agente da inteligência da marinha. Os dois estão trabalhando juntos disfarçados para derrubar um cartel de drogas mexicano, comandado pelo poderoso Papi, papel de Edward James Olmos (da série Battlestar Galactica). O problema é que nenhum dos dois sabe a verdadeira identidade do outro, e pensam estar trabalhando ao lado de um criminoso.

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Desde a primeira cena sentimos que essa será uma obra pontuada com um humor pertinente e certeiro, que nos remete a boa fase dos buddy cop movies (filmes de parceiros policiais), nascidos na década de 1980, e que têm como bons exemplares produções como Máquina Mortífera, 48 Horas e tantos outros. Aqui Wahlberg é engraçadinho de fala rápida, paquerador, e que metralha o público com suas gags e referências por minuto; e Washington fica com o personagem mais sério, mesmo assim conquistando algumas das risadas planejadas.

Até a sua metade o filme funciona com a precisão de um relógio, surgindo como obra proeminente no subgênero, e equilibrando perfeitamente cenas de ação, certa tensão, um bom timing cômico e uma trama interessante o suficiente para nos manter conectados. A química entre Wahlberg e Washington é sem dúvida o ponto alto da obra. As trocas entre a dupla é coreografada com maestria, e ficamos com a sensação de que muito é parte do improviso entre esses grandes atores.

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O elenco de apoio é igualmente satisfatório, e nele ganhamos um feroz e ameaçador Bill Paxton (A Toda Prova), como um misterioso vilão que se diverte fazendo roleta russa com suas vítimas, em algumas das melhores cenas do filme. Paxton entrega um vilão memorável, pena que a obra não o acompanhe até o fim. E a hipnótica Paula Patton derrete a tela, e tem uma cena pra lá de sensual ao lado de Washinton, na qual exibe mais uma vez suas formas invejáveis. Em entrevista, a atriz disse que a escolha pelo topless foi dela mesma.

O problema de Dose Dupla é que possui personagens demais e subtramas demais. É aquele tipo de filme no qual existem tantas reviravoltas envolvendo personagens tentando ludibriar outros, que nos perguntamos ao final se tudo fez sentido. Sempre fica aquela sensação de estarem tentando cobrir furos no roteiro criando uma trama muito complicada, para enganar o público. Aqui, o artefato usado é uma mala de dinheiro roubada pelos protagonistas de um banco, contendo mais de $40 milhões.

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A marinha está envolvida, o personagem de Paxton a quer, o vilão de Olmos também, e inclusive personagens que julgávamos honestos, além é claro dos heróis. O filme cria momentos legais de ação também, embora nenhum verdadeiramente memorável. Dose Dupla distrai, mas dificilmente alguém lembrará um mês depois de tê-lo assistido. O final parece ligado no automático, e que simplesmente desistiram de tentar.

É o famoso jeito preguiçoso de juntar simplesmente todos os personagens numa cena para que resolvam a situação a balas. Esse é o modo que os roteiristas geralmente encontram para não precisarem criar diversos desfechos de situações estabelecidas anteriormente. Afinal, quem precisa de explicações se estiverem todos mortos.