terça-feira, abril 30, 2024

Coringa: Delírio a Dois | O que o título do filme REVELA sobre a sequência estrelada por Joaquin Phoenix e Lady Gaga

Sem qualquer sombra de dúvida, ‘Coringa: Delírio a Dois’ é um dos filmes mais aguardados do ano e já vem ganhando hype gigantesco desde seu anúncio há quase dois anos. Contando com o retorno de Joaquin Phoenix no papel titular que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator e com ninguém menos que a icônica Lady Gaga, o longa-metragem promete ser uma continuação que se iguale ao impacto causado pelo projeto anterior – e, mesmo com poucas informações reveladas, é possível imaginar o que a narrativa nos aguarda.

Antes de mais nada, é sempre bom discorrer acerca das informações que temos do filme: além de Phoenix como Arthur Fleck/Coringa e Gaga como a Dra. Harleen Quinzel/Arlequina, sabe-se que o enredo não faz parte da continuidade do falecido DCEU ou da reformulação conhecida como DCU, e sim integra um universo próprio cujo enfoque é muito mais dramático e psicológico, por assim dizer. É claro que a inspiração principal provém dos quadrinhos da DC Comics – mas é notável como a abordagem é bastante diferente e aposta fichas em ambiciosas reflexões sobre a condição humana frente à sociedade em si e frente aos limites a que é imposta.

Outros nomes confirmados no elenco incluem Zazie Beetz reprisando seu papel como Sophie Dumond, bem como Brendan GleesonCatherine KeenerJacob LoflandSteve CooganKen LeungHarry Lawtey (todos estes sem detalhes revelados quanto aos personagens que irão interpretar). Uma informação importante é que, diferente do espectro de drama do filme predecessor, ‘Delírio a Dois’ será um musical, contando com quinze canções famosas do cenário fonográfico e, conhecendo o cacife artístico de Gaga, provavelmente alguma entrada original para seu espetacular catálogo.

Mas o elemento que mais pode nos dar dica do que podemos esperar da continuação é o título. Obviamente, Todd Phillips, que retorna à cadeira de direção, não daria ponto sem nó – e fez uma escolha certeira com o chamamento do filme. Afinal, como bem podemos lembrar, Coringa e Arlequina nutrem de um relacionamento extremamente psicótico e insano que já foi retratado diversas vezes nos quadrinhos, no cinema e na televisão. E é por isso que o título, no original, é ‘Folie à Deux’ – um termo psiquiátrico que significa psicose compartilhada.

Cunhado pelos psiquiatras franceses Charles LasègueJules Falret, o termo é também conhecido como síndrome da desilusão compartilhada e faz menção a um distúrbio psicológico extremamente cujos sintomas de crença delirante e, às vezes, de alucinações, são transmitidas de um indivíduo a outro. E isso não se aplica apenas a duas pessoas, podendo se alastrar para trios (folie à trois), quatro (folie à quatre), entre membros de uma família (folie en famille) e em grupos de grandes pessoas (folie a plusieurs).

Tal síndrome é comumente diagnosticada quando dois ou mais indivíduos vivem em proximidade. Conhecendo a história de Arthur Fleck e da Dra. Harleen Quinzel, é apenas natural que esse distúrbio tenha aparecido; afinal, Quinzel tratou de Arthur no Manicômio Arkham, em Gotham City, e foi manipulada pelo psicopata até se apaixonar por ele – eventualmente ajudando-o a escapar do cárcere e transformando-se em sua comparsa e amante (ou seja, sendo influenciada por sua insanidade até se transformar na anti-heroína como a conhecemos).

Não deixe de assistir:

Levando em conta o tipo de laços que Coringa e Arlequina possuem, é possível caracterizar essa psicose compartilhada como uma psicose imposta (folie imposée), em que uma pessoa dominante constrói uma crença ilusória a partir de um episódio psicótico – como vimos no filme lançado em 2019 à medida que Arthur arquiteta uma realidade paralela que nunca aconteceu e explode em uma anárquica submissão aos próprios pensamentos. A partir daí, essa desilusão é imposta à outra pessoa através de recursos de sedução psicológica.

Um tipo diferente de folie à deux é a folie simultanée (psicose simultânea), em que duas pessoas influenciam a desilusão uma da outra até se tornarem iguais ou muito similares – e a mais predisposta às ilusões psicóticas engatilham os sintomas no outro (algo que não deve ter sido levado em consideração para a sequência fílmica). E, considerando que dois contribuintes para que a psicose exista são o estresse e o isolamento social – incluindo a dependência que ambos os indivíduos nutrem um pelo outro em meio à solidão -, é quase automático imaginar que a folie imposée tenha sido a característica aproveitada por Phillips no longa-metragem.

E isso não é tudo: considerando que o longa será um musical jukebox (ou seja, com canções famosas que serão interpretadas pelos atores), Phillips aproveitou para explorar os tipos de desilusões criadas pela síndrome para esquadrinhar o relacionamento de Coringa e Arlequina. Afinal, é quase óbvio imaginar que tais sequências existam dentro da mente de ambos – estendendo-se, por exemplo, para o que entendemos como desilusões bizarras (ou seja, que não são compreendidas ou plausíveis por membros da mesma cultura), desilusões não-bizarras (que podem ser compreendidas por membros que tenham distúrbios psicológicos, por exemplo), desilusões de humor congruente (que envolvem emoções dentro de um tempo e um espaço e durante um episódio maníaco ou depressivo) e desilusões de humor neutro (que não são afetadas pelo humor, e sim partem de uma pseudo-crença adotada como real).

Lembrando que ‘Coringa: Delírio a Dois’ estreia nos cinemas nacionais em 03 de outubro de 2024.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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