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T-rEx-Machina
Com estreia no dia 21, mas com algumas sessões de pré-estreia já acontecendo, Jurassic World: Reino Ameaçado traz a direção excelente de Juan Antonio Bayona, que dá ao filme um tom muito diferente dos outros capítulos da franquia. Quase uma obra de terror, Jurassic World 2 não é perfeito, mas é extremamente eficiente dentro daquilo que se propõe.
Ambientado três anos depois do filme anterior, Reino Ameaçado mostra o mundo após a chacina causada pelo terrível Indominus Rex. Muita coisa mudou e uma fatalidade está prestes a acontecer: o vulcão da Ilha Nublar foi reclassificado como “ativo” e pode entrar em erupção a qualquer momento. Diante disso, o governo dos Estados Unidos começa a fazer audições para saber se eles devem interferir e salvar os dinossauros restantes, ou se devem deixá-los na ilha para que a natureza possa agir.
Pra começar, o segundo capítulo da trilogia Jurassic World mostra toda sua vontade de se afastar da franquia Jurassic Park. Apesar de seguir uma estrutura narrativa bem próxima de O Mundo Perdido (1997), dá para ver a diferença na abordagem e o desejo de enfim afirmar que não se trata apenas de um reboot, mas de um conteúdo próprio, com ideias novas.
Dito isso, muitos fãs da trilogia original podem fechar a cara para essas ideias novas. Desde o primeiro Jurassic World, já dava para perceber que essa saga exigiria um pouco mais de imaginação e inocência a fim de ter suas ideias compradas. Enquanto o original apostava na nostalgia, a sequência quer estabelecer o futuro da saga e um tom de tensão mais intenso do que no próprio Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993).
Mas o que é essa tal nova ideia tão absurda, porém, curiosa? Dinossauros sendo usados como armas. É, pois é… entretanto, por mais surreal que possa parecer, a direção do filme conduz a trama de um jeito que te faz comprar a ideia e até mesmo ansiar pelo próximo capítulo. Confesso que saí da sala completamente surpreso e curioso para ver como irão lidar com o final de Reino Ameaçado.
As atuações estão no mesmo nível do primeiro Jurassic World. O destaque negativo nesse setor fica com Justice Webb, o alívio “cômico” do filme, que é tão engraçado quanto um atropelamento de unicórnio. Não é engraçado. O próprio Chris Pratt, que tinha uma função mais humorística anteriormente, acaba tendo uma abordagem um tiquinho mais séria. Ele está uma representação perfeita do Indiana Jones de Harrison Ford.
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Agora, mesmo querendo se distanciar do original, o respeito e admiração usados para tratar de assuntos que remetem ao filme de 93 são fantásticos. Você vê o trabalho feito por alguém que realmente gosta e entende do assunto! Um ponto digno de aplausos é a representação de todas as teorias sobre a extinção dos dinossauros em cada cena de perigo aos lagartões.
As teorias mais conhecidas sobre o que poderia ter causado a morte dos dinossauros são a queda do asteroide, as erupções vulcânicas, os gases tóxicos e a evolução dos sobreviventes. O filme mostra uma cena para cada teoria dessas. Temos o vulcão explodindo, as pedras de foco caindo em direção aos répteis, uma cena de sufocamento por gás (em que eles estão privados da luz do sol) e a disputa evolutiva entre as espécies.
O incômodo surge em razão de algumas conveniências de roteiro que poderiam ter sido resolvidas com um pouco mais de empenho no roteiro. A principal delas é o T-Rex Ex-Machina, carinhosamente apelidado por mim como T-rEx-Machina. Ela aparece de duas a três vezes ao longo do filme para salvar os protagonistas. Já era estranho abordar a T-Rex como heroína no primeiro Jurassic World, mas persistir nesse erro é muito estranho. Soa como interferência do estúdio.
Falando nisso, mesmo com a nítida participação da Universal nos rumos do filme, Bayona entendeu o que eles queriam e soube dar sua assinatura em cima do genérico. Ele não está em seu melhor, como em O Orfanato (2007), por exemplo, mas é um trabalho absurdamente competente. Ele cria tensão e faz suspense com os detalhes mais sutis. É a melhor coisa do filme.
Ideal para quem busca entretenimento de qualidade com toques de terror psicológico, Jurassic World: Reino Ameaçado vale o preço do ingresso. Melhor que seu antecessor, ele promete novos rumos para a franquia e mesmo se sustentando sozinho, deixa um gancho sensacional para o terceiro.
OBS: Tem cena pós-créditos.