sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Alguma Coisa Assim – Filme nacional discute tabus com linguagem singular

O casal de amigos Mari (Caroline Abras) e Caio (André Antunes) perambulam pelas ruas de São Paulo, entre bar, boate e supermercado, onde vivem novas experiências e discutem sobre a vida. Com essa premissa, Esmir Filho e Mariana Bastos chegaram ao Festival de Cannes (2006) e perpetuaram dois personagens na história do cinema nacional, tanto que os mesmos voltam às telonas depois de 10 anos para dar sequência aos seus questionamentos.

Alguma Coisa Assim contém quase todo o curta de origem dentro de si para não deixar ninguém perdido. Assim, o filme antecessor serve de plot narrativo e se torna realmente um enredo montado ao longo de uma década. Não se iluda, no entanto, em comparar com a odisseia de Richard Linklater em Boyhood (2014) ou sua trilogia Antes do Amanhecer (1995, 2009, 2013). Aqui, os diálogos são bem mais moderados e, apesar de discutir temas sensíveis, o filme demora a engrenar e chegar ao seu ápice.

Deste modo, Alguma Coisa Assim começa morno, meio nostálgico e vai desdobrando as suas intenções pouco a pouco. Entre os adolescentes de São Paulo e os adultos de Berlim, há ainda as vivências dos amigos em 2013, adicionadas como um flashback explicativo para as expectativas e frustrações dos protagonistas.

As três linhas temporais são bastantes distintas até pela captação de imagens e o comportamento dos atores em frente às câmeras. A linguagem, no entanto, acompanha a mesma atmosfera fechada nas expressões dos protagonistas, tanto que é evidente o amadurecimento profissional de Caroline e André durante as gravações em Berlim em 2016.

Com certo distanciamento, o filme apresenta Mari como uma mulher imatura, irresponsável e desapegada, até porque ela não tem moradia fixa ou rotina. A chegada de André ao seu mundinho lúdico, entretanto, expõe o seu teto de vidro e desencadeia um momento de insensatez que muda completamente a vida de ambos.

Assim como no curta Saliva (2006) e no longa Os Famosos e os Duendes da Morte (2009), Esmir Filho explora as tomadas longas em conjunto com movimentos e sons em uma imersão sinestésica. Por meio do foco fechado e o deslocamento lento da câmera, o espectador tateia as sensações dos personagens, como a espessura da terra molhada entre os poros da pele e os dedos, cuja cena transmite uma ação ao mesmo tempo velada e explícita.

Essas sensações nos conduzem ao terceiro ato do filme, no qual a melancolia toma conta da tela e a carga emocional estreita o relacionamento do espectador com os personagens. As ruas de Berlim chamam atenção pela vivacidade, enquanto Mari mergulha em um abismo de emoções para tomar uma difícil decisão e Caio sofre com a decepção de uma relacionamento amoroso.

Não deixe de assistir:

Com coragem, os diretores e roteiristas compõem um filme necessário sobre a reflexão da sexualidade, família e responsabilidades da vida adulta. Passando longe de todos os clichês da trajetória entre a juventude e a maturidade, a dupla Mari e Caio imprimem sentimentos totalmente díspares, mas que ao longo dos anos tentam amarrar as pontas soltas. Ao invés de ser um fechamento, Alguma Coisa Assim é um incômodo para novas possibilidade, olhares e contemplação da vida.

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