quinta-feira, março 28, 2024

Crítica | Anna e o Apocalipse – Humor, Natal e Zumbis em Musical Criativo

La La Land… of the Dead

Grande parte do público está sempre reclamando da falta de produções originais no circuitão, em especial em filmes voltados ao entretenimento. Bem, se esta é também sua reclamação, quem sabe ela pode ser atendida com este longa. Afinal, quantos musicais natalinos de apocalipse zumbi você já assistiu? Com uma proposta pra lá de criativa, esta obra britânica parece ter nascido para ser cult, gerou comoção nos aficionados pelo cinema fantástico, e após exibições em poucas salas do mundo, chega ao Brasil direto no mercado de vídeo (na TV a cabo) – onde pudemos conferi-la.

O que chama atenção de verdade em Anna e o Apocalipse é notar o equívoco inicial de enquadrá-lo como obra trash de baixo orçamento – dessas que possuem mais vontade do que qualidade realmente. Definição pela qual, confesso, o julguei, assim como muitos fizeram e farão. É só olhar um pouco mais fundo em suas camadas para perceber o grande coração do longa, e sua atmosfera agridoce de sentimentos reais – que funcionam muito bem quando ligados aos elementos sobrenaturais.

Já nos créditos iniciais, antes sequer do filme começar, Anna e o Apocalipse nos conquista ao notarmos a distribuição da revigorada Orion Pictures – muito conhecida pelas crias das décadas de 1980 e 1990 -, que havia fechado as portas e voltou à ativa com o selo da MGM. Baseado no curta Zombie Musical (2011), de Ryan McHenry, o filme teve roteiro do próprio, em parceria com Alan McDonald – e gerou até mesmo um livro após seu lançamento, escrito por Barry Waldo. Infelizmente, o autor e criador da ideia McHenry faleceu em 2015, aos 27 anos, antes de ver a obra lançada. O filme é dedicado a ele.

Nenhum dos nomes envolvidos com o projeto, seja atrás das câmeras ou na frente delas, é reconhecível até mesmo pelos cinéfilos – simplesmente porque não possuem carreiras com muitos créditos significativos. Apesar disso, todos se mostram muito aptos, entregando a eficiência das engrenagens de um relógio suíço. Grande parte dos louros devem ir ao comandante da obra, o diretor John McPhail – um nome definitivamente a prestarmos atenção.

Ah sim, isso sem falarmos do excesso de carisma do elenco, que nos ajuda muito a embarcar nessa ao lado de um seleto grupo de ilustres desconhecidos. Os atores encontram o tom afinado de seus personagens – e me refiro tanto de forma figurada, quanto literal, já que trata-se de um musical onde  a maioria realmente precisa soltar a voz em diversos momentos. E aqui não tem fingimento – o filme é pautado por cenas em que os personagens desandam a cantar e dançar. Mais uma vez, o conjunto realiza a façanha com bastante graça e sucesso.

A trama é definida como uma mistura de La La Land (2016) e Todo Mundo Quase Morto (2004), e tal diagnóstico não poderia ser mais preciso. Assim como Shaun of the Dead, esta também é uma produção inglesa, então espere um tipo de humor seco e ácido bem similar. Fora isso, a alienação dos protagonistas em relação aos primeiros estágios da epidemia zumbi é tirada diretamente do filme de Edgar Wright, com Simon Pegg e Nick Frost. Filme este que igualmente começou sua jornada de forma cult rumo ao coração do grande público. O que é um bom sinal para o percurso que Anna e o Apocalipse pode vir a traçar também.

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Por outro lado, assim como o querido musical jovem de Damien Chazelle, o que a princípio aparenta ser apenas estilo chamativo numa comédia despretensiosa, logo irá se mostrar um drama dilacerante, sem propriamente fazer uso de um final feliz e esperançoso. Aqui, apesar de nos encontramos na acolhedora pequena cidade de Little Haven (que literalmente significa “pequeno refúgio”), justamente na época de natal, os dramas pessoais de cada um dos alunos protagonistas se salientam antes mesmo da infestação de mortos-vivos começar. Em resumo, a maioria dos jovens aqui possui sua cota de relacionamentos problemáticos, em especial com os pais, o que os torna solitários e melancólicos, fazendo o contraponto eficiente com a costumeira “magia” do natal presente na maioria das obras com tal temática.

No elenco destacam-se a ótima Ella Hunt, que vive a protagonista Anna, Sarah Swire e Malcolm Cumming, mas todos parte de um conjunto harmonioso, defendendo bem os estereótipos de seus papeis dentro desta fantasia. Não podemos terminar sem dar o devido crédito às canções que pegam como chiclete e o farão cantarolar mesmo que de forma inconsciente. Notamos o empenho dos envolvidos em criar músicas que conseguem transcender a brincadeira, mostrando que aqui a coisa foi mesmo levada a sério.

O cineasta aponta influências de West Side Story (1961), Rocky Horror Picture Show (1975) , Clube dos Cinco (1985) e o episódio musical de Buffy – A Caça-Vampiros, ‘Once More, With Feeling’ (2001), fazendo ainda mais deste neoclássico um prato pronto para ser consumido em reprises tanto no halloween, quanto no Natal. Bem, talvez mais no primeiro.

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