sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | As Garotas da Tragédia – Slasher e hiperconectividade no lançamento em vídeo

Uma jovem loira de cabelo curtinho está aos beijos com um rapaz no banco de trás de um carro, quando ouve um barulho do lado de fora. Ela pede que o rapaz verifique o que pode ter sido. Ao sair do carro não há nada em volta, mas ao retornar um machado acerta sua cabeça no meio. A menina sai correndo do assassino pela floresta e ele cai numa armadilha.

Esta é a cena inicial de As Garotas da Tragédia (Tragedy Girls), uma comédia de horror que apresenta a psicopatia juvenil associada às redes sociais e o desejo latente dos adolescentes em serem notados por meio das novas mídias. As melhores amigas Sadie (Brianna Hildebrand) e McKayla (Alexandra Shipp) capturam o serial killer Lowell (Kevin Durand) com a pretensão de ajudá-las a turbinar os seus vídeos no canal Tragedy Girls, no entanto, o assassino não coopera e elas mesmas decidem colocar mais vítimas na lista do matador para atrair pessoas para as suas postagens.

Como o sumiço do primeiro jovem assassinado repercute apenas como um desaparecimento, as meninas planejam a próxima morte em busca de reportá-la e atrair a atenção da população de sua cidadezinha. Assim, os homicídios ocorrem de forma sucessiva no padrão das sequências do filme Premonição (2000, 2003, 2006, 2009, 2011). Uma das vítimas é ator Josh Hutcherson (Jogos Vorazes), em uma memorável participação na história.

É evidente que o grande mérito de As Garotas da Tragédias é o carisma e a química da dupla de protagonista Brianna Hildebrand e Alexandra Shipp. A primeira é vista nos filmes de Deadpool (2015 e 2018), como Míssil Adolescente Megassônica (Negasonic Teenage Warhead). Já a segunda é conhecida como a jovem Tempestade em X-Men: Apocalipse (2016), além dos recentes filmes adolescente Com amor, Simon (2018) e Dude: A Vida é Assim (2018).

Elas funcionam numa perfeita simbiose na empreitada de se tornarem famosas e, sobretudo, na psicopatia compartilhada em não poupar os interesses amorosos, amizades ou autoridades. As meninas são muito mais convincentes do que a maioria dos “vilões” dos filmes atuais. As atrizes garantem cenas hilárias, como as duas lutando em uma academia contra o chefe de bombeiros da cidade Big Al, interpretado pelo comediante Craig Robinson (É o Fim), que é três vezes maior do que elas.

Assim como Ingrid Vai Para o Oeste (Ingrid Goes West, 2017) e Amizade Desfeita (Unfriended, 2014), o roteiro de Chris Lee Hill, Tyler MacIntyre e Justin Olson faz uma crítica ao mundo da falta de empatia real em lugar dos corações das redes sociais. Apesar da excessiva exposição deste tema no cinema, o diretor MacIntyre mescla a sua contribuição crítica-satírica com o marginalizado gênero slasher e ainda homenageia o diretor Dario Argento (Suspiria).

Do mesmo modo que Corra! (2017) surpreendeu o público no ano passado, As Garotas da Tragédia é uma obra esplêndida pela perspectiva do terror cômico, com personagens totalmente amorais e com sede por saciar os seus desejos. Os clichês fazem parte do charme do filme, como o baile de formatura, que parece ser um tributo à Carrie: A Estranha (1976/2013) e, portanto, um grand finale para as protagonistas.

Embora a crítica ao modus operandi dos jovens seja feita em forma de sátira, As Garotas da Tragédia contempla essa usurpação das redes em todas as esferas sociais, por exemplo, em um memorial fúnebre, e trabalha habilmente o seu lado grotesco. Contudo, tal como o terror cômico Mãe e Pai (2017), com Nicolas Cage, o filme chega ao Brasil em distribuição via streaming, deixando claro que o gênero – conquanto ótimo entretenimento – ainda não é considerado digno das telonas no país.

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