sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica | Beyoncé equilibra intimismo e visceralidade com o álbum ‘I Am… Sasha Fierce’

Quando Beyoncé resolveu lançar ‘I Am… Sasha Fierce’, seu terceiro álbum de estúdio, ela já era uma powerhouse estabelecida na indústria fonográfica. Além de ter feito parte do grupo Destiny’s Child, a cantora e compositora já havia trabalhado em dois discos solo que arrancaram vários hits relembrados até os dias de hoje – e, agora que desfrutava de uma merecida liberdade, ela iria mergulhar de cabeça na transição do clássico R&B que vinha dominando o cenário desde meados dos anos 1990 para a ressurgência do electro-pop do final dos anos 2000 (ainda mais com a estreia oficial de Lady Gaga no show business, que inclusive viria a se tornar uma de suas melhores amigas e colaboradoras).

Foi a partir daí que o disco em questão nasceu – e quando digo que Queen B fez essa transição, não digo que ela abandonou de vez o estilo que a colocara no topo tantos anos atrás, e sim que houve um momento em que ela aproveitou para apostar fichas em algo diferente para a própria carreira. ‘Sasha Fierce’, dessa maneira, configura-se como uma obra bem pensada e com uma divisão clara entre construções mais mercadológicas e vibrantes, e iterações que refletem o lado mais íntimo da performer (e não é surpresa, pois, que Beyoncé tenha resolvido lançar duas partes que se juntariam, mais para a frente, como um compilado só). Conforme diversas entrevistas que deu para promover o álbum, a ideia era unir o pop e o soul, bem como de incorporações de gêneros distintos para pincelar as faixas, e expandi-los afora os limites impostos. Em comparação com as produções anteriores, algumas músicas deslizam e tropeçam aqui e ali – mas o resultado é consideravelmente sólido e aprazível.

Até então, o disco representaria a narrativa mais íntima da artista, motivo pelo qual decidiu imprimir reflexões sobre o amor e a vida em baladas pungentes e vocais magnânimos. “If I Were a Boy”, uma das tracks mais conhecidas de sua carreira, dá o tom do que podemos esperar dessa primeira parte – submerso na sutileza de um violão e de um baixo até explodir em uma lírica sobre uma decepção que não tem como ser remediada. Toda a estrutura da faixa de abertura serve como regência principal – o que, por um lado, reflete a habilidade dos vários produtores em criar uma linha estética que entrelace as canções; por outro, ergue um senso de previsibilidade que não víamos, por exemplo, em ‘Dangerously in Love’ e ‘B’Day’. É notável como essa faca de dois gumes perfura a arquitetura, mas, no geral, a rendição da lead singer é impactante o suficiente para nos fazer querer mais.

Temos a presença de “Broken-Hearted Girl”, uma exaltação em R&B adornada pela dramática densidade dos sintetizadores e de um conjunto de cordas que traz mais camadas a um enredo convencional sobre as inseguranças de se apaixonar – e que viria a inspirar Alicia Keys com algumas faixas de ‘The Element of Freedom’ um ano depois. “Satellites” tem uma belíssima construção cinemática que nos arrebata desde as primeiras notas, mas é quase impossível não perceber as excessivas similaridades com as músicas anteriores; e “Ave Maria” não tem qualquer lugar justificável dentro do álbum, mesmo com a ótima performance da cantora.

A segunda metade da obra nos chama a atenção pela quantidade absurda de singles e de convites à pista de dança – como a subestimada “Radio”, cuja explosão de ritmos e de instrumentos combina perfeitamente tanto com o título da track quanto com a ideia por trás do enredo; “Diva” vale a pena pela confiança com que Beyoncé entrega os versos, além da amálgama clássica entre R&B e hip hop; “Ego” brinca com as ambiguidades com que a artista já vinha se deliciando nos anos anteriores; “Sweet Dreams” é infundido com uma atmosfera mais dark, que rendeu a Queen B comparações com o lendário Michael Jackson; e “Video Phone” é apagado em meio a fórmulas cansativas (que não são abandonadas nem com remix lançado ao lado de Gaga).

As melhores canções do disco consagram-se como um trio de espetacular de entregas emocionantes, uma lírica impecável e uma imortalidade permanente que funde nostalgia e originalidade em um mesmo lugar. “Halo” é, na humilde opinião deste que vos escreve, uma das maiores baladas assinadas por Beyoncé, amplificada por uma sinestesia etérea e antêmica que faz jus ao seu próprio nome; “Hello” se esquiva dos clichês e se direciona ao campo das semi-baladas com uma história que remonta as características românticas da literatura; e falar de “Single Ladies (Put a Ring on It)” é praticamente um trabalho desnecessário, considerando a durabilidade inegável do bounce e do dance-pop eternizada por essa pequena joia da indústria fonográfica.

Não deixe de assistir:

‘I Am… Sasha Fierce’ pode ter uma quantidade significativa de equívocos, mas não quer dizer que seja um erro na carreira de Beyoncé – como alguns críticos internacionais comentaram à época. É apenas normal que carreiras de nomes importantes da música sejam marcadas por altos e baixos e, no final das contas, o que realmente importa é de que forma os ouvintes se conectam com a música (e essa majestosa artista sabe fazer isso como ninguém).

Nota por faixa:

1. If I Were a Boy – 4/5
2. Halo – 5/5
3. Disappear – 3,5/5
4. Broken-Hearted Girl – 3,5/5
5. Ave Maria – 2/5
6. Smash Into You – 3/5
7. Satellites – 3/5
8. That’s Why You’re Beautiful – 3,5/5
9. Single Ladies (Put a Ring on It) – 5/5
10. Radio – 4/5
11. Diva – 3,5/5
12. Sweet Dreams – 4/5
13. Video Phone – 2,5/5
14. Hello – 5/5
15. Ego – 4/5
16. Scared of Lonely – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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