quarta-feira, abril 24, 2024

Crítica | Dias Sem Fim – Drama Racial da Netflix recheado de armas, violência, drogas e hip hop

Nos últimos anos, mais do que em qualquer outra época, as produções audiovisuais têm buscado trazer histórias que busquem retratar as minorias excluídas do cinema, e, mais ainda: em retratá-las para além dos inúmeros estereótipos que, ao longo do tempo, ajudaram a engessar pessoas em categorias criadas pelo racismo, pela homofobia, pela xenofobia, etc. Assim, é com estranhamento que recebemos este ‘Dias Sem Fim’, novo drama racial da Netflix que tem feito sucesso na plataforma de streaming desde a sua estreia.

Já na primeira cena ficamos espantados com Jankor (Ashton Sanders, muito bem como protagonista), um rapaz negro que entra na casa de uma família – também negra – e, do nada, atira e mata Malcolm (Stephen Barrignton) e sua esposa. Jankor é preso e, durante seu julgamento, insistem em perguntar qual fora o motivo do assassinato, mas o rapaz se nega a responder. Então, já na prisão, ele conhece JD (Jeffrey Wright, o Bernard de ‘Westworld’, em participação especial com poucas cenas) e, dentro desse confinamento, Jankor reflete sobre os tais dias sem fim (cujo título em inglês é mais poético ‘All Day and a Night’, ou seja, todos os dias e uma noite) e em como sua vida se desenrolou conduzindo-o até a prisão.

Recheado de raiva e rancor, o roteiro de Joe Robert Cole (que também dirigiu o longa) perde uma ótima oportunidade de desconstruir os estereótipos e atacar o sistema de racismo estrutural social o qual sua história tenta escancarar. Ou seja, em vez de trazer um filme de drama racial que mostra as dificuldades de se vencer na vida sendo um rapaz negro de Oakland, Califórnia, o filme reforça todas as razões pelas quais um jovem negro não consegue quebrar esse padrão: a violência doméstica como único exemplo de relação familiar; a violência física como única forma de se posicionar e de fazer valer sua vontade; a criminalidade como única saída para a juventude negra; a venda de drogas como único sustento financeiro; o machismo como única forma de validação do homem nessa comunidade; o ódio como único sentimento válido; e, acima de tudo, evidencia que qualquer tentativa de sair desse padrão (estudar, buscar um emprego fixo, ir para o exército, amar a esposa, religião, etc) é uma tentativa inútil.

Apesar de não aprofundar o debate, ‘Dias Sem Fim’ conta com muito boas atuações, afinal, não é fácil interpretar personagens que precisam o tempo todo esconder seus sentimentos e, ainda assim, demonstrá-los apenas pelo olhar. O filme é bem editado, tem uma boa produção e possui uma cena lindamente filmada, quando ocorre uma corrida de carros estilo ‘Velozes e Furiosos’ e o plano acompanha um dos carros girando infinitamente. É uma cena dessas de encher os olhos.

Dias Sem Fim’ é um drama racial que mergulha no universo masculino e retrata o obscuro ciclo de racismo estrutural social e sem solução aparente. É um filme recheado de armas, violência, drogas e hip hop, cuja raiva é o fio condutor e cuja conclusão, segundo o próprio filme, é “os negros aprendem a sobreviver, não a viver”.

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