sexta-feira, abril 19, 2024

Crítica | Lana Del Rey aposta no saudosismo com o incrível ‘Chemtrails Over the Country Club’

Lana Del Rey tornou-se uma das figuras mais conhecidas e originais da indústria fonográfica, desde seu espetacular lançamento em 2010 até os dias de hoje, devido a seu visual melancólico e seu timbre único – que a colocou no centro do movimento sadcore e um dos expoentes do pop alternativo. Falando abertamente sobre drogas, sexo e sobre as mazelas do amor, Del Rey vem provando cada vez mais a sua versatilidade, conquistando até mesmo uma indicação ao Grammy de Álbum do Ano pelo espetacular ‘Norman Fucking Rockwell!’, lançado dois anos atrás.

Agora, depois de ter investido em seu primeiro álbum de palavras cantadas, Lana retornou ao mundo da música e retomou colaboração com o lendário Jack Antonoff (produtor por trás das premiadas produções ‘Melodrama’, ‘Gaslighter’ e ‘Folklore’) para uma viagem extremamente sinestésica, ainda que, em certas medidas, talhada com reminiscência da iteração mencionada no parágrafo acima. Com ‘Chemtrails over the Country Club’, já era de se esperar que a artista apostasse todas as suas fichas em uma atmosfera bastante diferente daquilo a que estamos acostumados – que, no final das contas, contribui para um universo próprio que vem sendo expandido há mais de uma década. A ressonante lírica e a utilização pungente do melódico piano de cauda – bem como incursões dissonantes que dialogam com o uso inesperado das distorções sintéticas – parecem estar mais aglutinadas em uma jornada de pura reflexão memorialista, por mais que não cheguem ao ápice criativo de ‘NFR’.

A verdade é que Del Rey já não se importa mais com o que as pessoas irão pensar sobre sua carreira e sobre aquilo que tem para mostrar ao mundo (motivo pelo qual permanece em uma onda de aclamação e uma das queridinhas da crítica internacional). Ao longo de breves onze faixas, a artista, que comanda com rédeas firmes a escrita de poemas elegíacos e quase epopeicos, a minimalista aventura é permeada por temáticas conhecidas, incluindo nostalgia, saudade, marasmo e o enfrentamento caótico de uma realidade ambígua e controversa. “White Dress”, track que abre o álbum, resume e apresenta aos ouvintes tudo o que podemos esperar das inflexões seguintes: a constância do piano nos arremessa para a época dominada por nomes como Frank Sinatra, Nina Simone e Billie Holiday, ainda mais quando justaposto aos pratos da bateria e a um moderno e propositalmente anacrônico saxofone.

Na faixa-título (uma das melhores do ano, em disparado), a multiplicidade de camadas vocais já se mostra como algo mais familiar a seus fãs, afastando-se do whistle e do falsetto. Assim como na canção que a precede, a iteração dá espaço para um baroque pop pincelado com vertentes mais dramáticas do country, ambos caminhando para um crescendo nada óbvio que aposta na sensorialidade extrema e uma narrativa mnemônica atemporal sobre algo que não existe mais e que faz falta em meio à loucura urbana e citadina.

“Let Me Love Like a Woman”, primeiro vislumbre e single oficial dessa nova era espetacular de Lana, entrou para a nossa lista de melhores músicas de 2020 não por qualquer motivo: a track, talvez uma das mais maduras de sua carreira, é uma continuação direta das meditações impressas anteriormente, abrindo portas para uma ode romântica que tem apreço pelos práticos convencionalismos da guitarra, do baixo e, mais uma vez, do piano. Entretanto, à medida que compreendemos que a música é um afronte comedido à dominação do pop do escopo musical, entendemos que a afeição da cantora e compositora às fórmulas é apenas uma estrutura sólida para rearranjá-las ao seu bel-prazer e da forma que lhe convier – não é surpresa que ela tenha encontrado uma parceria bastante frutífera com Antonoff, que também adora utilizar a desconstrução do óbvio para conquistar os ouvintes.

Da mesma forma que arquiteta algo novo, por assim dizer, ela faz questão de mencionar a si própria em faixas como “Tulsa Jesus Freak”, movida pela paixão e pela devoção (talvez não de outro alguém para si própria, mas no movimento contrário, principalmente quando reverencia “Marina’s Apartment Complex”); na cândida “Wild at Heart”, ela se volta para Anna Nalick e para “Looking for America”, especialmente quando utiliza um evocativo coro para acompanhá-la no country-rock alternativo do qual se vale; em “Dark But Just a Game”, Del Rey abre as cartas para a sensualidade de “National Anthem” enquanto reverencia nomes como Janelle Monáe e até mesmo Kacey Musgraves. “Breaking Up Slowly”, mas é uma fenomenal track que merece toda a nossa atenção, une duas powerhouses com a química harmônica de Lana e de Nikki Lane para a vertente do rock clássico de The Animals (uma das muitas inspirações para a carreira da lead singer).

Não deixe de assistir:

‘Chemtrails over the Country Club’ é apenas mais uma apaixonante e reverenciável adição à discografia de uma artista que ainda tem muito a nos contar – seja por seu estilo único, contemporâneo e saudosista ao mesmo tempo, impulsionado pela necessidade de despontar como algo diferente em meio à mesmice. Lana Del Rey encontrou-se em meio ao folk e ao americana para proferir seu estilo e uma identidade que, ano após ano, torna-se mais complexa.

Nota por faixa:

1. White Dress – 4,5/5
2. Chemtrails Over the Country Club – 5/5
3. Tulsa Jesus Freak – 4/5
4. Let Me Love You Like a Woman – 4,5/5
5. Wild at Heart – 5/5
6. Dark But Just a Game – 5/5
7. Not All Who Wander Are Lost – 4,5/5
8. Yosemite – 4/5
9. Breaking Up Slowly – 5/5
10. Dance Till We Die – 4,5/5
11. For Free – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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