quinta-feira, abril 18, 2024

Crítica | Nine Days: Filme dirigido por brasileiro é uma incrível carta de amor à vida

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2020

Estamos vivendo ou sobrevivendo? Estamos contemplando a beleza da criação ou apenas caminhando por ela, como sonâmbulos incapazes de discernir os ambientes, as pessoas, as circunstâncias e a atmosfera ao nosso redor? Nine Days é um drama que nos leva à – exatamente – tais questionamentos e suas contestações. Como uma espécie de ode à vida, o primeiro drama dirigido pelo brasileiro Edson Oda faz uma profunda reflexão sobre a condição humana e a preciosidade e raridade existentes nela.

Para um diretor que está inaugurando sua jornada em longas-metragens, Oda é profundamente autoral e autêntico em sua narrativa. Inadvertidamente, ele se abre para a audiência de forma delicada e complexa, revelando um olhar diferenciado sobre o valor da existência humana e aquelas pequenas e preciosas coisas que tanto ignoramos. E em Nine Days, ele reúne um elenco estelar que muito mais que dar corpo à sua trama, naturalmente ainda o ajudam a difundir sua genuína estreia no cinema. Trazendo Zazie Beetz, Bill Skarsgård e Winston Duke como parte do elenco, o diretor brasileiro – desconhecido em seu próprio país – apresenta uma narrativa hipnotizante e intrigante, que nos leva a questionar temáticas bem densas como a depressão, suicídio, as escolhas que nos definem e a nossa gratidão sobre o direito à vida que nos foi presenteado.

Na trama, Duke é o responsável por escolher quem terá o direito a viver. Em um contexto onde as pessoas não estão vivas, ele conduz uma espécie de processo seletivo, que treinará possíveis candidatos para conseguir tal vaga. Ao longo de nove dias, os pré-selecionados observam a vida de outras pessoas a partir de uma imensidão de televisores antigos posicionados lado a lado, formando uma espécie de monitoramento instantâneo da vida alheia. E ali, com os olhos vidrados e um pequeno bloquinho de anotações, os participantes avaliam a existência humana pela perspectiva daqueles que já estão a vivendo. Mostrando o dia-a-dia pelos próprios olhos de quem as vive, os concorrentes tentam compreender e dimensionar o significado de estar vivo, como fantasmas vagantes que tentam experimentar a vida sem sequer tocá-la ou experimentá-la.

A difícil decisão de quem terá o direito à vida vem regada de uma imensidão de dúvidas e conflitos pessoais. O que torna uma pessoa apta a desfrutar desse direito? Ela precisa ser isenta de complexos de inferioridade, de traumas? É possível saber viver, mesmo com um certo nível de fragilidade na alma? Nine Days segue sua trama aumentando a profundidade de seus questionamentos com essas novas perguntas, levando a audiência pela mesma jornada do protagonista, que como o responsável pelo carimbo final, se digladia por testemunhar o suicídio de uma jovem que já havia sido aprovada por ele para ter o direito à vida. E em conflito com suas próprias percepções sobre certo, errado, bom e mau, ele ainda lida com a própria complexidade dos novos candidatos ao direito à existência, que muito mais que contestar sua metodologia, acrescentam ainda mais às suas inseguranças como gestor desse sistema injusto.

E como uma delicada poesia que tenta exprimir toda a riqueza presente na existência humana, o drama é capaz de torcer os corações, tamanha sua densidade narrativa. Cheio de metáforas e simbolismos, a produção conta com um dos roteiros mais originais escritos nos últimos anos, consegue extrair da sua audiência todas as dores apresentadas nas telonas e inunda os olhos, a mente e a alma com uma percepção ainda mais rica sobre a importância de valorizarmos a vida. Uma carta de amor à simplicidade da própria humanidade, o longa é um retrato sobre como podemos ser displicentes com a própria vida, ao expressar – em seus personagens – uma rica e profunda angústia por querer viver.

Desconfortável na maior parte do tempo, Nine Days ainda traz um elenco grandioso em atuações surpreendentes, revelando ainda mais o talento de Beetz, Skarsgård e Tony Hale. Indo mais além, Winston Duke entrega uma performance revigorante, indo na contramão natural que o seu biotipo e estilo sempre o direcionaram, em termos de papéis. Mostrando uma versatilidade inesperada, o M’Baku de Pantera Negra faz de sua caracterização no drama uma vitrine para filmes ainda mais ousados, se consagrando como um ator capaz de cruzar as fronteiras dos gêneros mais diversos com facilidade. E trazendo uma direção de fotografia brilhante e minimalista, que se apropria de seu próprio roteiro e se constrói em cima de suas características narrativas, o drama de Edson Oda é um presente inexprimível aos cinéfilos e se houver justiça no mundo, será uma das grandes promessas para a temporada de premiações 2021.

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