Por muitos anos, a morte do presidente Tancredo Neves foi vista com muita desconfiança pela população, em um momento político muito frágil que o Brasil passava após a queda da ditadura militar.
Sua morte é até hoje ligada a várias teorias da conspiração, entre elas que ele havia morrido em decorrência de um tiro ou envenenado. Algumas pessoas até chegam a acreditar que a notícia sobre sua morte foi ocultada pelos médicos por dias, para ser divulgada em uma data histórica: 21 de Abril, Dia de Tiradentes.
Com o fim da ditadura militar, a população pedia as eleições diretas para presidente. Como a eleição direta não foi aprovada, Tancredo foi o nome escolhido para representar a coligação de partidos de oposição reunidos na Aliança Democrática. Em 15 de janeiro de 1985, ele foi eleito presidente do Brasil pelo voto indireto, adoeceu gravemente em 14 de março, na véspera de sua posse, e morreu dia 21 de abril de infecção generalizada.
Sua morte envolta de mistérios finalmente foi esclarecida em um livro escrito por Luis Mir, que conseguiu uma cópia de seu prontuário médico que havia sido lacrado em um cofre por anos, na tentativa de esconder uma obscura sucessão de erros médicos que levaram a morte do Presidente.
Sendo assim, ‘O Paciente – O Caso Tancredo Neves’ não é um filme político, e sim um drama médico contando a verdadeira história escondida por anos da humanidade.
Com um ritmo frenético e diálogos afiados, o filme dirigido por Sergio Rezende é um drama excelente, que nunca levanta bandeira política e nos mostra o drama da família Neves nos 39 dias que Tancredo ficou internado no hospital, inicialmente diagnosticado erroneamente com apendicite, e sofrendo diversas operações mal sucedidas que o levaram a morte.
Sua história afetou toda a população, que via no político a esperança de um futuro melhor.
Todo o drama é acompanhado pela trilha sonora genial de David Tygel. Sem usar o artifício de músicas ou trilha orquestrada, ele consegue trazer um clima de tensão e suspense apenas com o som da respiração do protagonista contrastado com os equipamentos médicos, criando um trabalho inovador e muito competente.
Tancredo é brilhantemente interpretado por Othon Bastos, que consegue passar a emoção e desespero que o Presidente passou em seus dias finais, que mesmo doente sonhava em tomar posse e não deixar que a ditadura voltasse para o país.
O destaque do elenco também vai para Esther Goés (Risoleta Neves), Paulo Betti (cirurgião Henrique Valter Pinotti), Otavio Muller (Dr. Renault Mattos Ribeiro) e Leonardo Medeiros (Dr. Francisco Pinheiro Rocha).
As pontas soltas do elenco ficam por uma interpretação fraca do ator Emílio Dantas, que vive o assessor de imprensa do Presidente, e da atriz Priscila Steinman – que interpreta uma jornalista. A relação dos dois é mal explorada, e ambos os personagens se mostram desnecessários para a trama prejudicando o ritmo do filme.
A trilha sonora de David Tygel é um deleite. Sem usar o artifício de músicas ou trilha orquestrada, ele consegue trazer um clima de tensão e suspense apenas com o som da respiração do protagonista contrastado com os equipamentos médicos, criando um trabalho inovador e muito competente.
‘O Paciente – O Caso Tancredo Neves’ reconta com louvor um momento triste e histórico para os brasileiros. É uma ótima pedida para aqueles que apreciam a história, para os jovens que não presenciaram o momento divisor de águas da política, e até mesmo para os fãs de seriados médicos como ‘Grey’s Anatomy‘ – sim, o filme remete a um episódio do drama médico.