sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Shippados – 1ª temporada: Um Retrato Hilário e Histérico de uma Geração Conectada

Ano: 2019

Temporada: 01

Episódios: 12

Minutagem: 30 (média por episódio)

 

Jovens, na faixa entre 25 e 30 anos, cheios de potencial e completamente perdidos na vida. Todos com muita vontade, muita voz para gritar pro mundo suas insatisfações, porém, carentes emocionalmente. Essas são as características de Rita Tenório (Tatá Werneck, trazendo aquilo que mais conhecemos de seu trabalho) e Enzo (Eduardo Sterblitch, finalmente ganhando protagonismo), e também de seus amigos Brita (Clarice Falcão, ótima riponga), Valdir (Luis Lobianco, totalmente à vontade), Suzete (Júlia Rabello, uma injeção de frescor no humor nacional) e Hélio (Rafael Queiroga, no difícil papel de ser um alienado).

Os episódios são curtos e intensos, divididos em doze capítulos bem marcados. Até mais ou menos a metade da temporada o foco fica centrado no casal protagonista desajustado, em busca de um final feliz através de um aplicativo de relacionamentos. Acontece que os dois são muito neuróticos, cheios de manias e com sérios problemas de interação social, o que resulta numa sequência de encontros mal sucedidos até que, por fim, eles resolvem conversar entre eles. A partir daí, Rita e Enzo passam para a segunda etapa do desbloqueio interpessoal, que é conhecer o outro, seus gostos, suas preferências, sua família, onde mora, etc. Rita, que ainda mora com a mãe e tem um emprego que não a satisfaz, tem crises nervosas toda vez que chega em casa, porque a mera existência da mãe a irrita simplesmente porque Dolores (Yara de Novaes, ótima como uma mãe manipuladora) não lhe conta quem é seu pai. Em contrapartida, Enzo mora com um casal de amigos – Brita e Valdir – que pratica o naturismo, ou seja, ficam pelados o tempo todo em casa, independente se na presença de visitas ou não.

Shippados – Suzete (Júlia Rabello) e Rita (Tatá Werneck) *** Local Caption *** Shippados – cap 3 – cena 24 – Suzete (Júlia Rabello) e Rita (Tatá Werneck)

Da segunda metade para o final, a série ganha novos personagens e a trama se desloca do circuito casa dele/metrô/casa dela/barzinho, indo para novas locações que ajudam a ampliar a trama para além do casal protagonista. Isso faz com que a história se abra e abarque tramas mais profundos de uma geração que está tentando se encontrar. Com isso, ganha a história, que consegue falar do vazio existencial de jovens que não conseguem alcançar uma perspectiva de vida que os motive a seguir em frente, que não sabe lidar com críticas, que não suporta estar ao redor de outras pessoas mas que morre de medo da solidão. A entrada do casal Suzete/Hélio sinaliza como todo mundo tem um amigo babaca e machista que acha que a função do homem no mundo é transar, em oposição à amiga super bem resolvida sexualmente, que gosta e fala de sexo abertamente, sem se intimidar com o que os homens pensam.

A direção artística de Patrícia Pedrosa faz com que todo o elenco não só interaja de uma maneira orgânica, como também seja o próprio reflexo do ambiente/sociedade, que realça a solidão no meio da multidão, o caos no ambiente do lar e a fusão entre vida adulta e objetos colecionáveis que dão um aspecto infantil. O grande destaque fica por conta da trilha sonora escolhida a dedo, com músicas queridinhas de bandas hipsters que fazem sucesso com a garotada, refletindo cada ocasião vivida pelos jovens em crise, dentre os quais se encontram Los Hermanos, Rubel, Vanguart e por aí vai.

Não deixe de assistir:

Numa camada superficial, todas as histórias podem parecer surtadas e exageradas, com Rita Tenório completamente histérica e agressiva sem nenhuma justificativa. Isso pode acabar assustando e aborrecendo o espectador, porém se você mudar o ponto de vista de como ler esta história, o roteiro de Fernanda Young e Alexandre Machado alcança uma camada muito mais profunda e sincera, realizando um verdadeiro retrato de uma geração que não consegue se estabelecer num emprego; que ainda mora com os pais e briga com eles aos berros, batendo porta e xingando; que é incapaz de demonstrar sentimentos e por isso se torna agressiva; que está mais preocupada com as grandes crises do mundo, com discursos politizados, mas que é incapaz de lavar a própria calcinha. Ao potencializar esses estereótipos ao extremo, Fernanda Young e Alexandre Machado tocam na sensível ferida dos jovens de hoje.

Acima de tudo, ‘#Shippados‘ é uma série de entretenimento que faz piada mesmo a contragosto, arrancando gargalhadas porque o espectador acaba se identificando com muitas situações. E fica a dia: a série é multiplataforma, ou seja, o canal que Rita Tenório cria no youtube realmente está lá e tanto ela quanto a irmã de Brita têm perfil no Facebook, o que possibilita uma total imersão do público alvo dentro da história. Parabéns para a equipe envolvida por compreender tão bem como se comunicar com esse público antenado, bugado, conectado e shippado.

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