quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | Skate Kitchen – Autodescoberta e pertencimento na adolescência

Com uma mistura documental e dramática, a diretora e roteirista Crystal Moselle constrói um filme surpreendentemente agradável e poético sobre autoconhecimento e a busca por um abrigo entre iguais. A primeira cena de Skate Kitchen é bastante emblemática neste sentido e o seu ponto de partida para trilhar os caminhos da protagonista.

Camille (Rachelle Vinberg) é uma jovem de 18 anos apaixonada por andar de skate, sozinha ela tenta aprimorar suas manobras e saltos. Um dia ela cai e corta a parte interna da vagina, o que faz sua mãe severamente proibi-la de tocar no skate novamente. A dor dos pontos e do relacionamento materno, entretanto, não é maior do que o momento de liberdade e deleite em cima de sua pequena prancha.

É evidente a apreciação da atriz por estar em cima do skate, no entanto, o mais impressionante é a ótima composição de Rachelle Vinberg para sua personagem, uma vez que ela não é atriz. Camille segue outras meninas skatistas pelo Instagram, ela curte os vídeos, troca mensagens, até que um dia resolve sair do subúrbio de Long Island, pegar o metrô e ir até a cidade de Nova York para encontrar outras meninas do Skate Kitchen.

Todas as personagens do filme são reais skatistas, mas Crystal Moselle consegue controlar muito bem a sua narrativa dramática com a atividade exercida pelas jovens na vida real. O encontro de Camille com Kurt (Nina Moran), Janay (Ardelia Lovelace) e Kabrina (Kabrina Adams) é autêntico e bastante satisfatório, pois finalmente Camilla encontra um porto de aceitação de sua liberdade sobre rodas.

Por meio desse grupo, Camille consegue colocar para fora medos, frustrações e receios. Para além do skate – que as une -, o grupo torna-se uma espécie de irmandade em que cada uma apoia a outra. O espaço aberto para falar sobre novas experiências e trocar informação sobre a visão feminina do mundo. Todos esses diálogos são construídos de forma espontânea em meio a tragos de maconha e planos para o próximo desafio.

As músicas do filme retumbam em nossos ouvidos, enquanto acompanhamos o desenvolvimento das meninas e suas manobras, tal como um videoclipe, mas sem exceder os seu momentos. Centrado na transformação de Camille, de garota tímida, para alguém capaz de correr riscos a fim conseguir o que deseja, Skate Kitchen propõe uma grande reflexão sobre ser uma garota na atualidade e os locais que elas podem ocupar.

Em um depoimento confessional entre Camille e Janay, a roteirista expõe o peso que a protagonista carrega em relação aos pais e sua vontade de não tornar-se mulher. É uma cena emocionante na qual a menina alega ter socado os próprios seios para que não crescessem e ela continuasse a andar de skate como sempre, sem olhares, sem deboche, sem obstáculos da sociedade patriarcal.

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O conflito entre mãe (Elizabeth Rodriguez) e filha também ocorre de maneira factível, sendo estopim para um tapa na cara da menina. A situação leva Camille à casa de Janay e fortalece a amizade entre as meninas. No entanto, numa terceira parte da história surge o misterioso Devon (Jaden Smith) e torna-se o interesse amoroso da protagonista. Dentro de um turbilhão de novas emoções, como lidar com as recentes amizades, o envolvimento com drogas, a liberdade de usar o skate pela cidade e o seu trabalho no supermercado?

Com a chegada de Devon na história, State Kitchen decresce bastante e, apesar de ser o despertar sexual de Camille, o caminho abre uma trama de rivalidade desnecessária entre as meninas. Contudo, também é uma solução simples para levar a filha pródiga de volta à casa da mãe e a vermos conciliando os seus interesses e aprendendo o respeito mútuo.

Com Skate Kitchen, Crystal Moselle tem uma mensagem clara e direta sobre as mulheres ocuparem os locais que desejam, mesmo quando a conjuntura social as fazem duvidar. Uma das cenas mais emblemáticas do filme é quando as meninas estão andando de skate pelas ruas de Nova York e uma garotinha de mãos dadas com a mãe olha para elas e as segue com o olhar. É isso! É o exemplo para as gerações futuras, tanto por uma inspiradora direção, quanto pela destituição de limites para o sexo feminino.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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