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Antes de começar a crítica, é preciso entender uma coisa sobre ‘Superação: O Milagre da Fé’: ele não é um filme sobre religião. Muito embora ela esteja ali, conduzindo o enredo, o filme é, na verdade, sobre fé e amor. Mas vamos explicar.
John (Marcel Ruiz) é o típico aborrecente: arrogante, com vergonha de demonstrar afeto pelos pais, cheio de atitude e de razão. Um dia, sai para brincar no lago congelado com os amigos, em St. Charles, Missouri. Só que, de repente, o gelo se parte e os três meninos caem na água congelante. Por sorte, um senhor do restaurante viu e imediatamente chamou o socorro. Dois dos meninos são resgatados prontamente, porém John fica submerso mais tempo e, quando enfim é socorrido, suas chances de sobrevivência são mínimas. É quando entra o protagonismo da mãe, Joyce (Chrissy Metz).
Em atuação primorosa, Chrissy Metz – mais conhecida por seu papel na série ‘This Is Us’ – interpreta uma mãe que se recusa a desistir do próprio filho. Enquanto as equipes médicas e amigos da comunidade comentam que o menino não tem chances, Joyce se apega à sua fé cristã para buscar forças para suportar as horas mais difíceis de sua vida, assistindo o filho em coma lutando pela própria vida. Carismática, amorosa, superprotetora e um bocado exigente, Joyce é MÃE em maiúsculo, com todos os seus defeitos e virtudes. A competência de Chrissy Metz em traduzir toda a mistura de sentimentos dessa mãe em estado de desespero pode lhe garantir algumas indicações a prêmios ao longo do ano.
Baseado em uma história real – que originou o livro ‘The Impossible’, escrito pela própria Joyce Smith, mãe do rapaz –, o roteiro de Grant Nieporte é empático e sentimental, apesar de algumas soluções óbvias bastante convenientes para a condução da trama. Sendo uma história que não tem explicação, fica impossível fugir de um clichê ou outro para justificar os fatos. Com direção de Roxann Dawson, o roteiro ganhou profundidade ao colocar o espectador dentro da angústia da família Smith e de todos que se empenharam no salvamento do jovem John – por exemplo, a cena em que a mãe chega no primeiro hospital, e a câmera altera entre os gritos desesperados de Joyce e a desolação da equipe médica, que já não sabia mais o que fazer. Essa alternância, sem que a gente perceba, faz nosso coração bater mais rápido, torcendo pelo melhor.
O pai de John, Brian (Josh Lucas) é pintado quase como um vilão, pelo simples fato de não conseguir ter nervo suficiente para sustentar a situação do filho. Por outro lado, o roteiro se preocupou em mostrar e reconhecer que não foi só a fé de Joyce que foi fundamental para a recuperação do filho, mas também as dezenas de pessoas que lutaram, se esforçaram, trabalharam e rezaram pelo menino John.
Por tudo isso, ‘Superação: O Milagre da Fé’ não é um filme religioso. É um filme sobre amor ao próximo. É sobre uma mãe que se nega a abrir mão do próprio filho, que se recusa a desistir, e sobre todas as pessoas que deram um pouquinho de si para ajudar o garoto, fosse da forma que fosse. Essa crença de que as coisas vão melhorar – têm que melhorar – é o que move os personagens do filme.
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Sendo eu mesma moradora do Rio de Janeiro, vejo histórias assim todos os dias, de mães que perdem seus filhos por conta de situações incontroláveis alheias às nossas vontades. E por isso sei que para além de religião, existe a necessidade que o ser humano precisa ter de acreditar que há algo além de nós mesmos a que se pode recorrer na hora do desespero. É essa fé que faz tanto Joyce quanto as milhares de mães cariocas acordarem todos os dias e acreditarem que tudo irá ficar bem. É o que nos move no mundo, dentro e fora da ficção.