quarta-feira, abril 24, 2024

Crítica | Trinta

Durante pelo menos duas décadas, Joãsinho Trinta foi o maior nome do Carnaval carioca. Inovador e criativo, o maranhense que chegou ao Rio para ser bailarino achou na Marquês de Sapucaí o seu melhor palco. Os primeiros passos de Joãosinho rumo ao estrelato – mais precisamente de 1960, quando ele entra para o corpo de baile do Teatro Municipal, no Rio, até 1974, quando ele faz o seu primeiro desfile como carnavalesco, para o Salgueiro – são o foco de Trinta, de Paulo Machline (Natimorto). O longa estreia em todo o Brasil nesta quinta, 13.

Produzido pela Primo Filmes, com distribuição da Fox, o filme é uma bela homenagem ao homem que tornou o Carnaval o grande espetáculo que ele é hoje. Joãosinho era ousado para a época, principalmente na capacidade de transformar coisas simples como uma forminha de brigadeiro em material para alegorias e fantasias. Interpretado com maestria por Matheus Nachtergaele, o personagem aparece bem próximo da imagem que víamos dele pela TV: um homem dedicado, inteligente, gentil, mas também decidido. Na trama o acompanhamos desde o momento em que ele realiza o sonho de ser bailarino – um escândalo na época, não só para sua família como para a sociedade em si. É no balé do Municipal que ele conhece Zeni (Paolla Oliveira) e Fernando Pamplona, que o leva para os bastidores do Teatro Municipal, como cenógrafo. Quando Pamplona migra para o Carnaval, Joãosinho vai junto, e assim começa sua trajetória de sucesso pela maior festa popular do Brasil.

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Claro que, como toda boa história, há os momentos de reveses: Joãosinho sofre preconceito por ser bailarino, tem sua sexualidade questionada e seu talento é colocado à prova. Entre seus detratores estão o chefe de barracão do Salgueiro, Tião (Milhem Cortaz). O ator faz um ótimo contraponto ao protagonista, mas é Matheus Nachtergaele quem segura os 90 minutos de filme com louvor, com direto a alguns momentos antológicos, como a cena em que João ‘surta’ no barracão e começa a xingar todo mundo, sem perder a elegância. Nachtergaele coloca sua marca em uma interpretação memorável, que certamente deixaria o verdadeiro Joãosinho Trinta – falecido em 2011 – muito feliz.

Com impecável direção de arte, figurino e fotografia que reconstituem as décadas de 1960 e 1970 com perfeição – isso sem falar nas cenas de barracão, muito bem feitas – a produção se destaca também por falar do Carnaval sem clichês, mas trazendo a desenvoltura e a alegria que esta festa proporciona aos brasileiros. Mas o grande mérito é mostrar uma parte pouco conhecida da vida de um homem tão popular. Se pouca gente sabia que Joãosinho foi bailarino, e se para os mais novos o início dele no Salgueiro era desconhecido, o filme vai tornar acessível esse trecho importante da trajetória do carnavalesco. Isso faz com que o longa fuja das cinebiografias, sendo um interessante recorte sobre uma figura conhecida do grande público.

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Trinta é um filme para quem gosta ou não de Carnaval, e para quem conhece muito ou pouco sobre Joãosinho Trinta. É, especialmente, para mostrar que mais do que um carnavalesco, ele era realmente um grande artista. Uma homenagem mais do que merecida, e muito bem-vinda em uma época onde o politicamente correto dita às regras. E ser politicamente correto era uma coisa que Joãosinho, definitivamente, não era. Ainda bem.

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