domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Tully – Charlize Theron e o lado insano da maternidade

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Adultos não tão Jovens Assim

Aparecendo em cena como algumas das vozes mais relevantes da última década, o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody andaram cambaleando em seus projetos mais recentes. Bastou uma pausa nas carreiras para respirar e se reestruturar, e a dupla recupera a boa forma com este Tully – vendido como libelo do sofrimento materno.

A primeira colaboração da dupla Reitman/Cody foi em Juno (2007), filme indicado ao Oscar em quatro categorias, incluindo na principal e na de melhor diretor, e vitorioso em roteiro – prêmio para Cody em seu primeiro trabalho no cinema. Isso que é estreia. A história sobre gravidez indesejada na juventude rendeu uma obra muito irreverente, recheada de sacadas espertinhas, liberando todo o potencial do cinema indie tragicômico.



Existe muito em comum entre Juno e Tully, além do tema da gravidez e maternidade, e do nome próprio no título. Fatores como a dinâmica familiar disfuncional, liberdade, direito de escolha, o peso carregado pelas protagonistas, e muito humor e drama implícitos em situações rotineiras se fazem presentes, permeando toda a obra. No entanto, Tully também possui ligações não declaradas com Jovens Adultos (2011), filme que juntou na mistura Cody/Reitman a sul-africana Charlize Theron. Os três longas formam uma espécie de trilogia não oficial, anamórfica e atemporal.

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De fato, Marlo, a personagem de Theron aqui, é quase o próximo passo Mavis, a protagonista de Theron em Jovens Adultos. Marlo está sufocada e deprimida em sua própria realidade, mãe de duas crianças pequenas, esperando o terceiro filho, sem qualquer perspectiva de vida além desta. Seu dia a dia é perturbador, e só piora após o terceiro rebento nascer. Todas as alegrias providas da maternidade não estão contidas em Marlo – a cena pós-parto no hospital reflete bem isso, quando a mãe demonstrando conhecer de cor o processo, trata como corriqueira a chegada da nova cria.

Se Tully tratasse apenas das mazelas psicológicas acarretadas na mulher devido a maternidade, já renderia um grande insight em tal universo, apresentando o assunto com muito respeito e honestidade. Aqui temos um desempenho estupendo de Theron, pairando como um dos melhores em sua carreira, o que para uma artista de seu porte quer dizer muito. A atriz inclusive muda sua forma física, assim como em Monster – Desejo Assassino, ganhando sobrepeso para compor a personagem. O roteiro de Diablo Cody é afiado, como há muito não víamos. Através de pequenas nuances, ela diz mais do que aparenta e entrega um texto recheado de camadas, ao qual voltarei mais à frente na crítica.

E Jason Reitman igualmente faz na direção um trabalho maduro, mas moderno, acoplado a uma edição primorosa, que brinca em variados trechos, criando montagens eficientes – como a da rotina da mamãe e de seu pequeno, ou quando a personagem decide sair para uma noite na cidade (no carro ouvimos trechos de canções de independência feminina, picotadas e interligadas, todas de autoria de Cyndi Lauper), sem soar pretensioso. Reitman é apenas um jovem cineasta mostrando se divertir muito com sua profissão. E essa paixão sem dúvida faz falta.

Mas Tully consegue ir além, transcendendo um filme sobre maternidade e acrescentando elementos psicológicos fortíssimos, que só fazem crescer sua protagonista. A guinada na trama ocorre com a chegada de Tully, a personagem, uma babá contratada pelo irmão endinheirado de Marlo (papel de Mark Duplass), como forma de ajuda-la com o bebê, evitando assim seu enlouquecimento. A babá se mostra a salvação para a vida de Marlo, não apenas a familiar, como também a pessoal. Equilibrando a soberania na atuação de Theron, surge em cena a jovem estrela em potencial Mackenzie Davis – uma atriz que embora você ainda não conheça de nome, com certeza já viu em cena. Ela esteve em Perdido em Marte (2015) e Blade Runner 2049 (2017), por exemplo, além do melhor episódio de Black Mirror, San Junipero (2016).

Como Tully, Davis encontra o contrabalanço perfeito da serenidade para a insanidade de Theron. Aos poucos, a babá Tully vai contagiando com suas good vibes e positive vibrations a protagonista e aliviando seu estresse cotidiano. Ao mesmo tempo, o elo entre as duas, que possuem muitas semelhanças, mas também muitas diferenças, vai aumentando e criando um dos relacionamentos mais sinceros entre personagens neste ano. Tully é a Mary Poppins atual e realista, que assim como a personagem imortalizada por Julie Andrews, chega para fazer muito mais do que tomar conta de crianças. Chega para colocar vidas nos eixos.

Não vale a pena revelar muito mais de alguns conceitos de Tully, o filme, sem entregar parte da trama em spoilers. E acredite, este é um filme que guarda surpresas e reviravoltas bem impactantes – daquelas que nos fazem querer revisitar a obra o mais rápido possível para perceber tudo com um novo olhar. Tully é acima de tudo um filme existencial, que nos forçará a uma retrospectiva de nossas próprias vidas.

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Aparecendo em cena como algumas das vozes mais relevantes da última década, o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody andaram cambaleando em seus projetos mais recentes. Bastou uma pausa nas carreiras para respirar e se reestruturar, e a dupla recupera a boa forma com este Tully – vendido como libelo do sofrimento materno.

A primeira colaboração da dupla Reitman/Cody foi em Juno (2007), filme indicado ao Oscar em quatro categorias, incluindo na principal e na de melhor diretor, e vitorioso em roteiro – prêmio para Cody em seu primeiro trabalho no cinema. Isso que é estreia. A história sobre gravidez indesejada na juventude rendeu uma obra muito irreverente, recheada de sacadas espertinhas, liberando todo o potencial do cinema indie tragicômico.

Existe muito em comum entre Juno e Tully, além do tema da gravidez e maternidade, e do nome próprio no título. Fatores como a dinâmica familiar disfuncional, liberdade, direito de escolha, o peso carregado pelas protagonistas, e muito humor e drama implícitos em situações rotineiras se fazem presentes, permeando toda a obra. No entanto, Tully também possui ligações não declaradas com Jovens Adultos (2011), filme que juntou na mistura Cody/Reitman a sul-africana Charlize Theron. Os três longas formam uma espécie de trilogia não oficial, anamórfica e atemporal.

De fato, Marlo, a personagem de Theron aqui, é quase o próximo passo Mavis, a protagonista de Theron em Jovens Adultos. Marlo está sufocada e deprimida em sua própria realidade, mãe de duas crianças pequenas, esperando o terceiro filho, sem qualquer perspectiva de vida além desta. Seu dia a dia é perturbador, e só piora após o terceiro rebento nascer. Todas as alegrias providas da maternidade não estão contidas em Marlo – a cena pós-parto no hospital reflete bem isso, quando a mãe demonstrando conhecer de cor o processo, trata como corriqueira a chegada da nova cria.

Se Tully tratasse apenas das mazelas psicológicas acarretadas na mulher devido a maternidade, já renderia um grande insight em tal universo, apresentando o assunto com muito respeito e honestidade. Aqui temos um desempenho estupendo de Theron, pairando como um dos melhores em sua carreira, o que para uma artista de seu porte quer dizer muito. A atriz inclusive muda sua forma física, assim como em Monster – Desejo Assassino, ganhando sobrepeso para compor a personagem. O roteiro de Diablo Cody é afiado, como há muito não víamos. Através de pequenas nuances, ela diz mais do que aparenta e entrega um texto recheado de camadas, ao qual voltarei mais à frente na crítica.

E Jason Reitman igualmente faz na direção um trabalho maduro, mas moderno, acoplado a uma edição primorosa, que brinca em variados trechos, criando montagens eficientes – como a da rotina da mamãe e de seu pequeno, ou quando a personagem decide sair para uma noite na cidade (no carro ouvimos trechos de canções de independência feminina, picotadas e interligadas, todas de autoria de Cyndi Lauper), sem soar pretensioso. Reitman é apenas um jovem cineasta mostrando se divertir muito com sua profissão. E essa paixão sem dúvida faz falta.

Mas Tully consegue ir além, transcendendo um filme sobre maternidade e acrescentando elementos psicológicos fortíssimos, que só fazem crescer sua protagonista. A guinada na trama ocorre com a chegada de Tully, a personagem, uma babá contratada pelo irmão endinheirado de Marlo (papel de Mark Duplass), como forma de ajuda-la com o bebê, evitando assim seu enlouquecimento. A babá se mostra a salvação para a vida de Marlo, não apenas a familiar, como também a pessoal. Equilibrando a soberania na atuação de Theron, surge em cena a jovem estrela em potencial Mackenzie Davis – uma atriz que embora você ainda não conheça de nome, com certeza já viu em cena. Ela esteve em Perdido em Marte (2015) e Blade Runner 2049 (2017), por exemplo, além do melhor episódio de Black Mirror, San Junipero (2016).

Como Tully, Davis encontra o contrabalanço perfeito da serenidade para a insanidade de Theron. Aos poucos, a babá Tully vai contagiando com suas good vibes e positive vibrations a protagonista e aliviando seu estresse cotidiano. Ao mesmo tempo, o elo entre as duas, que possuem muitas semelhanças, mas também muitas diferenças, vai aumentando e criando um dos relacionamentos mais sinceros entre personagens neste ano. Tully é a Mary Poppins atual e realista, que assim como a personagem imortalizada por Julie Andrews, chega para fazer muito mais do que tomar conta de crianças. Chega para colocar vidas nos eixos.

Não vale a pena revelar muito mais de alguns conceitos de Tully, o filme, sem entregar parte da trama em spoilers. E acredite, este é um filme que guarda surpresas e reviravoltas bem impactantes – daquelas que nos fazem querer revisitar a obra o mais rápido possível para perceber tudo com um novo olhar. Tully é acima de tudo um filme existencial, que nos forçará a uma retrospectiva de nossas próprias vidas.

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