quarta-feira, abril 24, 2024

Crítica | Um Sonho na Índia – Brie Larson em romance musical sem brilho

Desde que foi escolhida para protagonizar Capitã Marvel – um dos filmes mais esperados do ano por apaixonados pelo universo de heróis e quadrinhos -, Brie Larson se tornou um dos nomes mais quentes do momento. Embora já tenha um Oscar nas mãos por sua atuação no excelente O Quarto de Jack, é agora que ela se aproxima do grande público ao dar vida à heroína que representa a esperança contra Thanos, o grande vilão de Vingadores. Mas, enquanto o longa não estreia nos cinemas, os interessados pelo trabalho da atriz podem dar uma conferida em uma produção que mostra uma faceta bem diferente da estrela: o musical Um Sonho na Índia (ou Basmati Blues, no título original), onde ela troca o jeito sisudo e os golpes de Carol Danvers pelo carisma e os passos de dança da cientista Linda.

Saído direto em vídeo no Brasil, o filme dirigido por Dan Baron é uma típica comédia romântica em que um casal que tem interesses conflitantes acaba se apaixonando no meio do caminho – contando com muitas músicas pop ao longo da jornada por se tratar de um musical. A história gira em torno da cientista Linda, que é enviada para a Índia para vender o arroz geneticamente modificado que criou com seu pai. De bom coração como toda heroína de filmes de amor deve ser, ela acredita estar levando progresso com seu experimento e nem imagina que o patrão que a enviou para lá (vivido por Donald Sutherland, o temido Presidente Snow da saga Jogos Vorazes) tem interesses capitalistas que irão prejudicar os fazendeiros locais. Rajit (Utkarsh Ambudkar) é quem aparece como principal opositor desse projeto; no entanto, isso não o impede de dar espaço à atração que começa a sentir pela protagonista – e que, claro, é recíproca.

Apesar de ter o romance como o principal gancho, quando o trailer do longa foi divulgado, muitos internautas criticaram a produção por acreditarem que ela reforçava o conceito de white savior – o que acontece quando um branco é colocado como o responsável por “salvar o dia” das minorias. Mas, ainda que a personagem de Brie tenha uma importante função no desfecho da história (com direito até a uma certa cena de heroína à la Capitã Marvel), o peso dessa problematização não é tão grande pelo fato do filme contar com um Rajit, que também é protagonista, indo atrás dos interesses dos indianos. Porém, não dá para deixar de falar que Basmati Blues perde muitos pontos ao mostrar uma Índia cheia dos estereótipos que todo mundo já está cansado de conhecer (e criticar). Das piadas com vacas à gestos balançando a cabeça, os personagens não fogem do senso comum e o país é apresentado como uma mera imagem de cartão postal. Tudo bem que não dá para esperar muita profundidade de um musical leve e cheio de clichês, mas essa visão do Ocidente sobre o local já não dialoga com os discursos atuais e soa bastante limitada.

Outro problema aqui é o modo como a trama se desenvolve – ou não desenvolve, na verdade. Por mais que tenha quase duas horas de duração e poucos elementos para trabalhar, o filme apresenta um roteiro raso e corrido demais. Brie Larson e Utkarsh Ambudkar se esforçam em seus papeis e apresentam números musicais até bonitos (as músicas são agradáveis e ficam na cabeça, aparecendo como a melhor parte da produção), mas o amor entre o casal surge de maneira tão rápida que é preciso ter o coração muito aberto para se importar ou torcer por eles em meio ao triângulo amoroso que criam ao lado de William (Saahil Sehgal). Os diálogos já não ajudam, e a maneira como a história se desenrola só torna tudo ainda mais raso.

A mensagem anticapitalista – o detalhe mais importante do longa depois da (tentativa de) história de amor do casal protagonista – até funciona, mas é difícil não se incomodar com o modo extremamente didático como é transmitida no último ato. Como se soubesse das falhas em seu desenvolvimento, o filme até conta com um número musical no fim que funciona quase como uma explicação de sua intenção ao apresentar o conflito entre os cientistas e os fazendeiros locais. Daria até para perdoar se o problema fosse só este, mas não dá para ignorar a série de erros que a produção apresenta ao longo de seus 106 minutos de duração – como cortes abruptos entre uma cena e outra, personagens desinteressantes e recursos para lá de batidos para gerar humor (essa história de fazer a ocidental passar vergonha ao cumprimentar de modo errado alguém importante já perdeu a graça no centésimo filme em que isto aconteceu, vamos combinar).

Assim, no final da trama que não prende e muito menos conquista, o que mais se destaca são os números musicais e a chance de conhecer um lado bem diferente de Brie Larson (inclusive sua voz afinada). A princípio, ver a atriz pulando e soltando a voz causa estranheza por lembrarmos de papéis em que ela dá vida à personagens mais sérias e introvertidas; mas, no decorrer do filme, a estrela se mostra mais confortável na pele da doce Linda e convence com essa persona mais divertida. No entanto, como nem a melhor atuação do mundo é capaz de fazer milagres com um roteiro fraco e uma direção desastrosa, Um Sonho na Índia aparece apenas como um musical esquecível e dispensável em sua carreira. Quem disse que um Oscar e um papel badass, como a de Capitã Marvel, são suficientes para evitar manchas no currículo? Pois é.

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