sexta-feira , 22 novembro , 2024

Entrevista exclusiva com o cineasta e produtor Kleber Mendonça Filho

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O VII Janela Internacional de Cinema do Recife está chegando ao fim e os números não mentem: bem como as edições anteriores, o público aumentou e o evento está tomando maiores proporções. Já podemos dizer que é o principal festival de cinema de Pernambuco e um dos maiores do norte-nordeste. Isso dar-se ao fato de sempre estar inovando, apresentando mostras de novos longas e curtas-metragens nacionais e internacionais, criando oficinas que revelam jovens talentos e ainda exibindo clássicos marcantes do cinema mundial, o que tem levado milhares de pessoas às sessões noturnas do Cinema São Luiz.

O que impressiona é ter em vista que o orçamento do festival ainda é pequeno em relação a outros, como o próprio Cine PE, que inversamente vem tendo, ano após ano, baixas significativas. Mas o sucesso não é por acaso, por trás do Janela existe uma equipe empenhada e apaixonada pelo que faz, comandada pela competente curadoria do jornalista e cineasta Kleber Mendonça Filho e da produtora Emilie Lesclaux.



Para saber um pouco mais sobre crescimento e futuro do festival, o CinePOP entrevistou o próprio Kleber Mendonça, que também falou da cena atual do cinema pernambucano e de seus novos projetos.

Estamos vendo que o Janela Internacional tem crescido a cada edição e ganhado novas dimensões, virando até uma mostra que tem se ramificado com o tempo, tornando-se assim um dos mais importantes festivais de cinema do estado. Como você enxerga esse crescimento?
Eu enxergo o crescimento lento, gradual e constante. Começamos bem pequeno, só que quando você vai fazendo um trabalho, pela constância, ele vai naturalmente crescendo. E até hoje, durante esses sete anos, não demos nenhum passo em falso no sentido de voltar uma casa. Mas o entusiasmo das pessoas é pra mim o mais interessante, um fato é o crescimento de gente vendo a sessão de curtas, que faz com que novos autores apareçam. Ou mesmo os clássicos que considero filmes essenciais, onde colocamos muitos títulos conhecidos, e hoje já podemos passar também títulos não tão conhecidos, o caso de Paris, Texas e Pelos Caminhos do Inferno. Então, o crescimento ele é visível em todas as sessões do festival.

Vocês pretendem ampliar o evento, movendo para alguma outra casa de maior capacidade, como o Teatro Guararapes, por exemplo?
Não, nunca. Não existem nem três Cinema São Luiz no Brasil, temos a sorte de ter um em Recife, então, é impossível cogitar a possibilidade de sairmos daqui. Podemos exibir o festival em outras salas, como já fazemos, mas o São Luiz continua sendo a principal do Janela, pois é uma sala de cinema histórica, linda e possui um clima que você não vai encontrar em lugar nenhum.

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Recentemente vimos a explosão do seu filme, O Som ao Redor, que tomou proporções inimagináveis e fez você sentir um pouco do que é ser um cineasta reconhecido e, além de já ter escrito para grandes jornais, agora o Janela é uma realidade de enorme potencial. Como você encara tudo isso?
Não sei muito bem como responder. Eu amo cinema e aconteceu de eu trabalhar com o troço em várias frentes, como o que faço no Cinema da Fundação, por 15 anos, e ainda não enjoei. Já o Janela surgiu porque eu achava que estava na hora do Recife ter um festival com a cara do que acontece aqui. Um evento que fosse universal, exibindo filmes feitos em pequenas cidades do Brasil ou mesmo em terras distantes como a Rússia, por exemplo. Além disso, eu quero continuar fazendo meus filmes e trabalhando com isso diretamente. Aliás, muita gente até perguntou por que não coloquei meu filme no Janela. Ora, porque é meu filme, no dia que eu precisar programas meus filmes, provavelmente, estarei numa situação bem ruim. (risos)

Realmente, vejo que você se preocupa até em exibir filmes do estado, como fez questão de dizer que os longas exibidos aqui foram selecionados pela qualidade e não por incentivo.
Exatamente. É feio quando você tem que dar um empurrãozinho para as coisas pegaram. É como ter um carro e querer que ele pegue quando der a partida, sem a necessidade de chamar alguém pra empurrar. Nenhum filme passa aqui para ajudar alguém, eles são exibidos porque são relevantes ou importantes – alguns podem até discorda, mas é um retrato do tempo atual, são obras que geram debates e não acabam ao fim da sessão. E essa é ideia do Janela, fazer um recorte que seja honesto com o que está sendo feito no cinema agora.

Kleber Mendonça Filho

Já falando de Cinema Pernambucano, muita gente tem perguntado por que tem aparecido tanta coisa boa no estado, tantos profissionais de alto nível. Queria saber, então, qual é o segredo para esse fato?
Essa pergunta é a mais difícil de responder, mas eu acho que o cinema pernambucano é o fruto de uma série de coisas. O estado parece ter uma base de cultura muito forte. Muita gente que visita ou é daqui entende e enxerga que há alguma coisa no ar. Um exemplo é o Cinema São Luiz, ele conseguiu sobrevier aqui, e não sobreviveu por acidente, sobreviveu por uma junção de coisas. A principal é que ele foi salvo pelo Governo, o caso de Eduardo Campos, e por que ele fez isso? Porque o São Luiz é uma unanimidade em Pernambuco, quem vai lá olha aquilo e diz: isso é incrível. E isso vem de uma compreensão cultural. Logo, os realizadores fazem parte disso. Mas na verdade é difícil explicar porque o cinema tem dado tão certo aqui, posso dizer que temos uma forte base de cultura, e ela gera artistas de cabeças pensantes, que são interessantes e tem algo a dizer.

Finalizando, muitos dos nossos leitores, que acompanham e admiram seu trabalho, querem saber se tem algo novo para ser lançado. Pode nos adiantar?
Claro, estou trabalhando em dois roteiros (de longas-metragens), o Aquários e o Bacurau, eu quero filma-los em 2015, e o grande desafio vai ser equilibrar esses filmes com o próximo Janela. Além disso, acabei de terminar um curta-metragem chamado A Copa do Mundo no Recife, feito por encomenda do Canal SporTV. Vai ser exibido em dezembro e eu já gosto bastante desse filme. Acho que ficou muito bom. É um trabalho de 15 minutos sobre a passagem da Copa do Mundo aqui na cidade. Esse foi o último que fiz e estou trabalhando no roteiro dos próximos.

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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O que impressiona é ter em vista que o orçamento do festival ainda é pequeno em relação a outros, como o próprio Cine PE, que inversamente vem tendo, ano após ano, baixas significativas. Mas o sucesso não é por acaso, por trás do Janela existe uma equipe empenhada e apaixonada pelo que faz, comandada pela competente curadoria do jornalista e cineasta Kleber Mendonça Filho e da produtora Emilie Lesclaux.

Para saber um pouco mais sobre crescimento e futuro do festival, o CinePOP entrevistou o próprio Kleber Mendonça, que também falou da cena atual do cinema pernambucano e de seus novos projetos.

Estamos vendo que o Janela Internacional tem crescido a cada edição e ganhado novas dimensões, virando até uma mostra que tem se ramificado com o tempo, tornando-se assim um dos mais importantes festivais de cinema do estado. Como você enxerga esse crescimento?
Eu enxergo o crescimento lento, gradual e constante. Começamos bem pequeno, só que quando você vai fazendo um trabalho, pela constância, ele vai naturalmente crescendo. E até hoje, durante esses sete anos, não demos nenhum passo em falso no sentido de voltar uma casa. Mas o entusiasmo das pessoas é pra mim o mais interessante, um fato é o crescimento de gente vendo a sessão de curtas, que faz com que novos autores apareçam. Ou mesmo os clássicos que considero filmes essenciais, onde colocamos muitos títulos conhecidos, e hoje já podemos passar também títulos não tão conhecidos, o caso de Paris, Texas e Pelos Caminhos do Inferno. Então, o crescimento ele é visível em todas as sessões do festival.

Vocês pretendem ampliar o evento, movendo para alguma outra casa de maior capacidade, como o Teatro Guararapes, por exemplo?
Não, nunca. Não existem nem três Cinema São Luiz no Brasil, temos a sorte de ter um em Recife, então, é impossível cogitar a possibilidade de sairmos daqui. Podemos exibir o festival em outras salas, como já fazemos, mas o São Luiz continua sendo a principal do Janela, pois é uma sala de cinema histórica, linda e possui um clima que você não vai encontrar em lugar nenhum.

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Recentemente vimos a explosão do seu filme, O Som ao Redor, que tomou proporções inimagináveis e fez você sentir um pouco do que é ser um cineasta reconhecido e, além de já ter escrito para grandes jornais, agora o Janela é uma realidade de enorme potencial. Como você encara tudo isso?
Não sei muito bem como responder. Eu amo cinema e aconteceu de eu trabalhar com o troço em várias frentes, como o que faço no Cinema da Fundação, por 15 anos, e ainda não enjoei. Já o Janela surgiu porque eu achava que estava na hora do Recife ter um festival com a cara do que acontece aqui. Um evento que fosse universal, exibindo filmes feitos em pequenas cidades do Brasil ou mesmo em terras distantes como a Rússia, por exemplo. Além disso, eu quero continuar fazendo meus filmes e trabalhando com isso diretamente. Aliás, muita gente até perguntou por que não coloquei meu filme no Janela. Ora, porque é meu filme, no dia que eu precisar programas meus filmes, provavelmente, estarei numa situação bem ruim. (risos)

Realmente, vejo que você se preocupa até em exibir filmes do estado, como fez questão de dizer que os longas exibidos aqui foram selecionados pela qualidade e não por incentivo.
Exatamente. É feio quando você tem que dar um empurrãozinho para as coisas pegaram. É como ter um carro e querer que ele pegue quando der a partida, sem a necessidade de chamar alguém pra empurrar. Nenhum filme passa aqui para ajudar alguém, eles são exibidos porque são relevantes ou importantes – alguns podem até discorda, mas é um retrato do tempo atual, são obras que geram debates e não acabam ao fim da sessão. E essa é ideia do Janela, fazer um recorte que seja honesto com o que está sendo feito no cinema agora.

Kleber Mendonça Filho

Já falando de Cinema Pernambucano, muita gente tem perguntado por que tem aparecido tanta coisa boa no estado, tantos profissionais de alto nível. Queria saber, então, qual é o segredo para esse fato?
Essa pergunta é a mais difícil de responder, mas eu acho que o cinema pernambucano é o fruto de uma série de coisas. O estado parece ter uma base de cultura muito forte. Muita gente que visita ou é daqui entende e enxerga que há alguma coisa no ar. Um exemplo é o Cinema São Luiz, ele conseguiu sobrevier aqui, e não sobreviveu por acidente, sobreviveu por uma junção de coisas. A principal é que ele foi salvo pelo Governo, o caso de Eduardo Campos, e por que ele fez isso? Porque o São Luiz é uma unanimidade em Pernambuco, quem vai lá olha aquilo e diz: isso é incrível. E isso vem de uma compreensão cultural. Logo, os realizadores fazem parte disso. Mas na verdade é difícil explicar porque o cinema tem dado tão certo aqui, posso dizer que temos uma forte base de cultura, e ela gera artistas de cabeças pensantes, que são interessantes e tem algo a dizer.

Finalizando, muitos dos nossos leitores, que acompanham e admiram seu trabalho, querem saber se tem algo novo para ser lançado. Pode nos adiantar?
Claro, estou trabalhando em dois roteiros (de longas-metragens), o Aquários e o Bacurau, eu quero filma-los em 2015, e o grande desafio vai ser equilibrar esses filmes com o próximo Janela. Além disso, acabei de terminar um curta-metragem chamado A Copa do Mundo no Recife, feito por encomenda do Canal SporTV. Vai ser exibido em dezembro e eu já gosto bastante desse filme. Acho que ficou muito bom. É um trabalho de 15 minutos sobre a passagem da Copa do Mundo aqui na cidade. Esse foi o último que fiz e estou trabalhando no roteiro dos próximos.

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Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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