Em 1979, Ridley Scott fazia história ao criar um dos filmes sci-fi de maior influência cultura pop de todos os tempos com ‘Alien, o Oitavo Passageiro’. Com a famosa logline “no espaço, ninguém pode te ouvir”, o longa-metragem transformou-se em um clássico da sétima arte que rendeu inúmeras sequências e uma franquia multimidiática que é mencionada e relembrada até os dias de hoje. Contrariando as expectativas, James Cameron conseguiu superar Scott com ‘Aliens, o Resgate’, infundindo a narrativa com inúmeras explorações sociais sobre maternidade e sobre a condição humana em si, cimentando seu legado como um dos maiores cineastas da contemporaneidade.
Logo, todos os olhos se voltaram para David Fincher quando o realizador foi escalado para comandar ‘Alien 3’ (estilizado como ‘Alien³’). Fincher, que é conhecido por seu trabalho em títulos como ‘Seven’, ‘Garota Exemplar’ e ‘A Rede Social’, não havia ainda solidificado sua visão artística como um dos grandes nomes do suspense psicológico e faria sua estreia oficial com esse longa em questão – mas não teria um début como imaginava, fosse por ter se afastado consideravelmente da estética explorada nos capítulos anteriores, fosse por escolhas polêmicas no tocante ao destino dos personagens e no tratamento da expansiva mitologia eternizada por Scott. O resultado parece ter vindo como um balde de água fria para a saga e para a 20th Century Fox, que supervisionada o projeto à época.
É claro que Fincher não deve ser encarado como o único culpado da história – e ele inclusive trouxe explicações sobre o medíocre resultado da produção, citando interferências criativas em seu processo de direção e prazos insanos estipulados pelos produtores executivos. Não é surpresa, pois, que um corte intitulado ‘Alien 3: Assembly Cut’ tenha sido lançado pouco depois, recebendo críticas mais positivas principalmente pelo ácido teor crítico acerca dos temas trazidos à narrativa. De qualquer forma, são poucos os fãs que de fato gostam do terceiro capítulo da franquia, encontrando certo conforto em uma espécie de reinício com a iteração seguinte, ‘Alien – A Ressurreição’.
A trama é ambientada logo depois dos eventos de ‘Aliens, o Resgate’: confinados em câmaras de criogênio, Ripley (Sigourney Weaver) e os sobreviventes do massacre estão a bordo da Sulaco, em suspensão animada enquanto viajam em direção à Terra. Todavia, uma falha generalizada nos controles e nos funcionamentos da nave ocasiona a morte de todos, incluindo a jovem Newt (Danielle Edmond), que foi resgatada por Ripley da colônia terrestre infestada pelos xenomorfos, Hicks (Michael Biehn) e o androide Bishop (Lance Henriksen). A protagonista é a única a sair com vida, caindo em uma instalação correcional conhecida como Fiorina 161, funcionando como uma prisão de segurança máxima habitada apenas por detentos homens com predisposição genética para comportamentos antissociais e psicóticos.
Temendo o que pode ter levado ao mal funcionamento da Sulaco, Ripley pede para que o corpo de Newt passe por uma autópsia, a fim de que todas as dúvidas de que um possível embrião de xenomorfo dentro dela sejam sanadas – e os corpos, assim, cremados. Porém, o que Ripley não imaginava é que um dos ovos da Rainha estaria acoplado à nave de escape dos sobreviventes, chocando em meio à viagem – e sobrevivendo durante a queda em Fiorina. E, assim que os detentos, Ripley e os responsáveis pela instalação entendem o que está acontecendo, dá-se início a uma corrida contra o tempo para impedir que o xenomorfo escape da prisão e destrua o planeta.
Há vários problemas que se estendem pelo projeto – e que, quando separados, parecem inofensivos. Entretanto, quando justapostos na arquitetura do longa-metragem, tais deslizes se engalfinham em uma bola de neve incontrolável que traça um caminho inescapável ao fracasso e à frustração, a começar pela decisão de matar os outros sobreviventes da Sulaco. Fincher revelou que teve de lidar com uma “bagunça criativa” ao ser contratado para o projeto, dando seu melhor para que, ao menos, o público se envolvesse com a história: porém, ao trazer um número exorbitante de personagens e seguir um roteiro que tenta trazer mensagens reflexivas a um escopo que não permite que isso aconteça, é quase impossível se conectar com qualquer um deles (incluindo Ripley, que já parece cansada e vê sua vida à mercê de uma força que beira a imortalidade).
Apostando fichas em temas como a condição inerente da barbárie humana, a religião como escapismo e a ambição como “faca de dois gumes”, o enredo é uma mixórdia sem fim cujos furos e fórmulas não conseguem ser ofuscados por uma direção íntegra e firme, que até mesmo ousa explorar enquadramentos diferenciados e uma estética distorcida. Fica claro, com o passar do tempo, que não havia outra saída além do sacrifício final de Ripley para colocar um fim definitivo aos xenomorfos – em uma sequência epopeica de conclusão de arco. Mas o impacto da cena é manchado pela estrutura em corda-bamba erguida nos atos anteriores, culminando em uma certa comicidade inesperada.
‘Alien³’ é, sem sombra de dúvida, o filme mais fraco da franquia ‘Alien’ e que, caso fosse tratado com maior esmero e carinho, poderia muito bem se igualar às iterações predecessoras. Não obstante o gosto agridoce da frustração, podemos encontrar um pouco de brilho na performance de Weaver e seu contínuo comprometimento com uma das personagens mais icônicas e memoráveis do cinema.