sábado, junho 29, 2024

Especial ‘X’ | Relembrando ‘X – A Marca da Morte’, primeiro capítulo da ACLAMADA trilogia de Ti West

Desde seu trabalho com curtas-metragens e sua estreia no circuito dos longas com ‘Ataque dos Morcegos’, Ti West vem apostando fichas em uma revitalização do terror da melhor maneira possível. Em sua filmografia, podemos citar ‘Hotel da Morte’, um dos segmentos de ‘V/H/S’ e ‘A Casa do Diabo’ – mas não foi até 2022 que ele ganharia ainda mais respeito dentro do gênero com o lançamento de ‘X – A Marca da Morte’, primeiro capítulo de uma inesperada trilogia que se sagraria uma das favoritas dos fãs por uma reapresentação do horror de maneira a aglutinar inúmeros gêneros em um mesmo cosmos.

A trama acompanha uma equipe de cineastas amadores que aluga uma residência no interior para rodar um filme pornográfico. Ao chegarem lá, os jovens são recebidos pela estranha presença da velha senhora Pearl e de seu marido – um casal que, a princípio, parece convidativo com os estranhos, mas que logo revela uma insanidade mortal que caça um por um em um banho de sangue regado a vísceras e a gritos. Como percebemos por essa breve sinopse da atração, a história é bastante familiar a diversas outras incursões do terror, do gore e do slasher – mas é a forma como West constrói o desenrolar dos eventos que foge dos convencionalismos cansativos e, ao mesmo tempo em que apresenta momentos de pura originalidade criativa, posa como uma carta de amor a um estilo narrativo que, mesmo nos dias de hoje, sofre por ser injustamente subestimado.

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Um dos primeiros aspectos que nos chama a atenção é o fato de West, também responsável não só pelo roteiro, mas pela produção e pela montagem, revelar os assassinos logo de cara: aqui, devemos mencionar o exímio trabalho duplo de Mia Goth, que encarna a protagonista, Maxine Minx (cujo maior sonho é se tornar uma estrela cinematográfica), como a antagonista Pearl – passando por um processo de transmutação de tirar o fôlego e que reitera seu poder performático com assombrosa força. E Pearl, ao lado do marido, ascendem a uma loucura psicótica que toma forma de maneira inesperada e que dá início a um massacre movido a frustrações de um passado distante e de sonhos que nunca concretizaram.

A velha senhora desejava, mais do que tudo, transformar-se em uma estrela (mas nunca obteve sucesso). E, ao perceber que tudo o que conseguiu foi uma vida normal e sem o brilho que almejava, ela desenvolveu uma necessidade de punir aqueles que não lhe deram a chance que merecia – nunca parando para pensar que, na verdade, ela era a culpada por não ter talento o suficiente para entregar uma boa performance. Ao ver a equipe de filmagens chegando e ao se deparar com uma das cenas de sexo, sua frustração apenas aumenta, excedendo a um nível meteórico de autocomiseração que é traduzido em ímpetos violentos (seja pela juventude que não voltará, seja pela decepção com que nunca soube lidar).

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Goth não é a única a se entregar de corpo e alma no projeto: ela é acompanhada por uma das maiores scream queens da nova geração, Jenna Ortega, que se afasta das personagens que interpretou em ‘Pânico’ e em ‘Wandinha’, por exemplo, conforme de aproveita do que já explorou num passado não muito distante – dando vida, enfim, à jovem Lorraine Day, cujo sonho é sair detrás das câmeras e descobrir quem realmente é e como pode caminhar com as próprias pernas; Brittany Snow, por sua vez, encarna a estrela dos filmes, Bobby-Lynne Parker, cujo estereótipo é tirado de diversas produções similares, mas incrementada com uma personalidade que faz todo sentido dentro da obra; Owen Campbell interpreta o diretor RJ Nichols, cujo próprio senso de controle é colocado em xeque quando a namorada, Lorraine, resolve participar das gravações do filme.

Enquanto cada personagem é arquitetado para um propósito claro, West garante que as cruas e gráficas cenas de nudez não sejam gratuitas – tendo, dessa forma, uma importância considerável para que os temas do envelhecimento e da jovialidade como espectros de um anseio nostálgico e inebriante sejam refletidos em uma materialização considerável e clara para o público. E isso não é tudo: o cineasta aposta fichas em inúmeras referências clássicas, desde ‘O Massacre da Serra Elétrica’ a ‘Sexta-Feira 13’ (não como mero pastiche, mas uma mimética declaração de amor ao que precedeu a obra), garantindo que os espectadores sejam envoltos em uma experiência narcótica que foge da cronologia e abre espaço para uma atemporalidade impecável.

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‘X – A Marca da Morte’ tinha tudo para se respaldar nas obviedades cansativas do terror slasher, mas se esquivou de praticamente todos os obstáculos ao não se levar a sério – ironicamente, presenteando os inveterados fãs do gênero com uma obra profunda que esconde suas análises psicossociais sob uma ótica despojada, intrigante e anticlimática no melhor sentido do termo. Não é surpresa que este primeiro capítulo tenha fornecido as bases para uma franquia de solidez invejável e de paixão duradoura por uma arte que ainda não tem o reconhecimento que merece.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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