O que aconteceu com Alexander Payne?
Todo mundo erra, até grandes cineastas. E Alexander Payne é sem dúvida um dos grandes da atualidade. Para quem não acredita ou não conhece, é só dar uma olhada no currículo do sujeito, repleto de produções de prestígio, vide Sideways – Entre Umas e Outras (2004), Os Descendentes (2011) e o último trabalho, até então, Nebraska (2013) – todos indicados ao Oscar na categoria principal de melhor filme. E como chamamos um diretor que tem em menos de dez anos três filmes indicados? Bem, podemos chamá-lo de Alexander Payne.
Payne era, além disso, um destes cineastas invictos, sem nada em seu histórico que manchasse sua carreira. Bem, era até agora. Os quatro anos que separaram seus últimos longas, apresentam Pequena Grande Vida (Downsizing), o novo trabalho, como sua obra mais ambiciosa. O conteúdo desta primeira ficção científica de sua filmografia não deixa mentir. Na trama, cientistas descobrem um procedimento que encolhe seres humanos, animais, plantas e objetos de todo tipo, a um tamanho minúsculo.
A maior descoberta da humanidade desde que o homem pisou na lua, como afirma o personagem principal, terá inúmeras vantagens para a sociedade e nossa espécie, entre elas a melhoria no meio ambiente, menos poluição e lixo, além de se mostrar um fator decisório economicamente para os que optarem viver de tal forma diminuta. Este é o trecho mais interessante de Pequena Grande Vida, que deveria ter concentrado suas energias em desenvolver este tema, já que é vendido como o cerne da produção, como mostram as prévias e sinopse.
Pequena Grande Vida é um filme que nos ludibria. Vende uma coisa e entrega diversas outras, menos o que compramos. Nesses casos, se o que recebemos for tão bom quanto (ou melhor) o que esperávamos, a confusão terá valido a pena. Não é o que ocorre aqui. O novo trabalho de Payne soa inacabado, dono de uma montagem errática, onde muitas subtramas brigam por atenção e a maioria morre na praia. O novo longa de Payne é desorganizado e desfocado, personagens são esquecidos pelo caminho e outros surgem do nada ganhando toda atenção. E assim o filme vai contando outra história ao ponto de nos perguntarmos: o que estávamos assistindo mesmo?
Um bom exemplo disso é a abertura do filme, numa cena na qual o protagonista Matt Damon (coitado, mas não é como se já não tivesse tido sua cota de “bombas”) cuida da mãe doente. A cena é completamente desnecessária e desligada do resto do filme. Mais para frente um breve diálogo resolveria (e resolve mesmo!) esta cena inteira, sem que fosse necessário os minutos somados a excessiva duração, de mais de duas horas de projeção. Matt Damon soa perdido, tentando dar tudo de si na pele do maior loser de sua carreira.
Jason Sudeikis e Kristen Wigg, bons comediantes em papeis sérios, são dois que o roteiro joga para escanteio sem cerimônia, enquanto ficamos pensando que seus personagens serão essenciais para a trama. Não, foram apenas nota de rodapé. E aí chega Christoph Waltz do nada, e não reclamamos tanto, já que o rouba cenas é a melhor coisa do filme, num papel diferente de tudo que já fez – ainda bem! Hong Chau, de Vício Inerente (2014), soa como unhas no quadro negro, representando um estereotipo sem graça, que não sabe muito o tom que deseja ter, navegando de forma destrambelhada entre o humor e o drama.
Pequena Grande Vida é aquele tipo de filme que deseja falar sobre muitas coisas e termina falando sobre nada. Tenta ser uma sátira sobre a economia norte-americana e mundial, e até começa bem – os trechos com Damon e Wiig são os melhores – mas depois resolve ser um filme humanitário, uma viagem lisérgica e até mesmo um filme apocalíptico, acredite. Existem diretores que ainda se mantém invictos, outros morreram invictos, vide Stanley Kubrick, mas hoje, Alexander Payne sofreu sua primeira derrota. Sinto informar.