Matthew Libatique, importante diretor de fotografia, recentemente comentou sobre as dificuldades e as técnicas utilizadas em ‘Nasce uma Estrela‘, seu último trabalho, que tem uma paisagem mais linda que a outra.
Tendo começado sua carreira como colaborador fixo de Spike Lee e Darren Aronofsky, Matthew é conhecido por ter dado uma nova forma à paisagem contemporânea, mais do que qualquer outro diretor de fotografia.
Não à toa, o ator Bradley Cooper o convidou para trabalhar em ‘Nasce uma Estrela‘, seu primeiro projeto como diretor. O filme traz vida a cada cena filmada, sem nenhuma cena entediante e uma grande variedade de possibilidades de ângulos, transformando os 136 minutos em um deleite para os olhos.
O jornalista Nick Newman teve a oportunidade de entrevistar Matthew, e vocês conferem agora tudo o que rolou no bate-papo:
‘Corrija-me se eu estiver errado, mas você mencionou ter visto ‘cinco versões diferentes da montagem final do filme’. Isso é intrigante, porque ‘Nasce uma Estrela‘ tem uma jornada bem clara – os cineastas podem colocar suas próprias preferências, mas o arco [da história] se encaixa. Como eram as outras versões?’
‘Eram edições diferentes. Eu, por exemplo, vejo o primeiro corte e depois vejo sua evolução. O Bradley estava trabalhando nisso – trabalhando exaustivamente nisso – para ver como fazer fluir. As coisas tinham que acontecer para que a música pudesse ser encaixada; não dava para existir as duas coisas ao mesmo tempo. Nós gravamos, provavelmente, muito mais coisa do que tem no filme por causa disso. Como editor, penso que ele começou a lapidar até a essência da história de amor que o filme se trata. E é realmente isso que ele estava fazendo – certificando-se de que era esta a prioridade – e você tem que tomar decisões muito difíceis.
Eu acho que eles estão fazendo uma nova edição, uma edição do diretor, e colocando umas coisas de volta. Acho que sempre há a preocupação da duração do filme, mas, para ele, acho que a preocupação sempre foi ‘Quando estou saindo da narrativa dessa história de amor, e quando estou saindo da ideia de que há um personagem em ascensão e um em declínio.’ Acho que era isso que ele estava fazendo quando fez tantas versões de edição, ele estava tentando encontrar a alma do filme.‘
‘O que mais se destaca no filme é que basicamente não há cenas chatas – talvez porque Bradley tenha sentido a necessidade de tirá-las, como uma força propulsora. Anteriormente, você falou sobre como a principal estratégia foi onde posicionar a câmera.’
É muito simples. Sim.
‘E você não teve uma lista de cenas, como de praxe.’
Não.
‘O quanto isso afeta a velocidade da produção? Se de repente surge uma inspiração, o que acontece com a velocidade de isntalação e de iluminação?’
Eu acho que a linguagem surge da ideia de que eu apenas quero criar uma instalação o mais iluminada e aberta possível, porque meu senso de como ele queria fazer o filme era bastante livre, de uma maneira bastante improvisada. Ele tinha ideias bastante específicas para algumas cenas – a do suicídio, por exemplo. O personagem sai da caminhonete e você vê as botas dele, então a câmera levanta e você o vê segurando o cinto. A câmera para, então se move lentamente pela lateral, enquanto o espectador aguarda o chapéu dele cair. Essa era uma ideia que ele tinha muito nítida na cabeça dele. Outro exemplo é a cena em que Lady Gaga joga fora o lixo, logo no início. Mas a maioria das cenas dramáticas teve essa questão de onde colocar a câmera.
Acho que o melhor exemplo é uma cena muito simples, em que ela vai visitá-lo no final do filme, e o empresário da personagem acabou de conversar com ele e ele está olhando para o teto. Ele queria se desapegar dela, e então a câmera sobe e o olha de cima, e parece que a câmera está nos dizendo que ele não está mais com ela. Foi um pouco de pressentimento que vemos no rosto dele. Levou um tempo para conseguirmos isso, confesso. Quando falamos dos arranjos finais, algo sempre tem que ser sacrificado quando você dedica tempo a outra coisa. Logo, dedicar um tempo para descobrir onde colocar a câmera significava que a gente não tinha feito tantas gravações diferentes, porque ele achou que não precisava. A gente não fez a cobertura tradicional. Tem uma cena, no final, em que Sam Elliot está falando sobre as 12 notas e ela está aos prantos, sentindo-se culpada porque a última coisa que ela fez foi mentir para ele. A câmera meio que sai da linha. [Risadas] A tomada do Sam meio que sai do lugar – nós estamos na frente dela e atrás dela para a gravação dessa tomada. Mas Bradley realmente não se preocupou com isso.
Parecia que você tinha um conhecimento íntimo de cada ambiente, o que garante a sensação de momento. Quanto tempo você ficou em cada local antes de instalar tudo? E o quanto você fez alterações em cada locação?
Nós ficamos muito tempo. Porque era uma locação pesada, e é onde a designer de produção, Karen Murphy, realmente passou a maior parte do tempo dela. Ela meio que construiu uma linguagem baseada no personagem – como todos os designers de produção realmente fazem. A locação mais difícil de conseguir foi a que ele toca ao vivo. A ideia original era que ele morasse em Malibu, mas nós não conseguimos encontrar uma casa que combinasse com ele como pessoa, até que achamos essa casa em Casablancas, que foi onde nós filmamos. Naquela época – porque foi uma das últimas locações que nós achamos e nós realmente precisávamos de uma casa – , eu a vi em fotos – os corredores com piso de madeira e vigas – e disse ‘Parece um local onde ele viveria.’ Quando eu vi o jardim da frente e todas as folhas no chão, falei ‘É isso. Essa tem que ser a casa.’
Com relação a quanto tempo eu dediquei na iluminação: eu fiquei mais tempo iluminando durante o dia, arrumando a casa, o set de filmagem ou uma cena porque eu sempre tento antecipar onde as câmeras podem ficar, então eu antecipo tudo bem antes. E aí eu só terminava depois que decidíamos onde as câmeras iriam ficar, então eu sempre ficava trabalhando nos bastidores, tentando antecipar as coisas e diminuir o tempo que essas coisas levam. Eu sempre estou fazendo algo enquanto estamos trabalhando em algo diferente, e tento ser o mais eficiente possível. O desafio para mim foi ter esse conceito de ser muito aberto e não tão precioso com as luzes, então esse foi o desafio, sério: descobrir como fazer isso e como mudar, caso ficasse melhor se focasse nele ou nela. Eu tinha que estar pronto para fazer essa modificação num piscar de olhos. Toda a linguagem dos filmes está fincada na necessidade de manter uma distância deles enquanto atores.
A Lady Gaga ficava um pouco diferente de um ângulo para o outro, e eu gostei de ver que o mesmo crédito foi dado à leveza ou à dureza das expressões faciais dela. Queria saber da sua experiência, neste e em outros filmes, sobre estudar os rostos dos atores.
É parte da nossa responsabilidade estudar os rostos. Quando eu estava preparando… Eu estou sempre olhando para o rosto do ator, não importa o que esteja acontecendo, então você meio que fica roubando um estudo em toda oportunidade. ‘Por que você está me encarando?’, ‘Só estou olhando para o seu rosto.’, ‘O que tem no meu rosto?’, ‘Nada. Só estou olhando.’ Quando a gente estava se preparando, eu tive a grande sorte de encontrá-la enquanto eles estavam ensaiando e conversando sobre as músicas, então fiquei com minha câmera nas mãos e só fiquei tirando foto. ‘Você se importa se eu tirar algumas fotos?’. ‘Não, claro que não.’ Eu falei para ela: ‘Eu quero estudar o seu rosto.’, daí ela ficou meio desconcertada. [Risadas] Isso é essencial para qualquer pessoa que esteja trabalhando comigo pela primeira vez, é estudar o rosto deles e descobrir qual ângulo melhor os favorece.
Mas preciso confessar que no início eu estava tipo ‘Como vou fazer isso?’, mas depois eu deixei isso pra lá e disse ‘O mais importante é que a personagem dela tem espaço para respirar.’ Então, fontes mais abrangentes, mais tarde, mantendo as luzes fora do set, e bloqueando-a de certa forma. O Bradley topou isso. Ele tinha consciência disso também. ‘Deixá-la confortável, para que ela não ficasse ansiosa com o que estava fazendo enquanto atriz.’ Esse era nosso principal objetivo, e nós bloqueamos tudo com tudo isso em mente. A gente mantinha as janelas no rosto dela – eu queria colocá-la na melhor luz possível – ou tirar a luz. Quando ela está chorando e Sam Elliot está sentado do lado dela, ela está longe das janelas. Nove em cada dez cenas é ela quem está encarando a janela, mas, naquele momento, a escuridão a cercava. Eu estava colocando a câmera no lugar certo tanto quanto os estava colocando no lugar certo também.
Mas foi uma boa colaboração, porque eu estava trabalhando com alguém que era muito acostumado a bloquear a luz. Bradley é ótimo em bloquear a luz, e isso tornou a minha vida muito mais fácil. Às vezes eu sugeria algo sobre a luz e a gente mudava. Foi um processo muito fluido, sem ego. Mas, sim, é claro que eu estudei o rosto – eu queria que ela brilhasse. Mas eu não queria que a luz a separasse do filme. Eu queria que ela existisse junto com a narrativa, com o mundo. É uma crença que eu tenho nos filmes.
E funcionou, não é CinePopers? Lady Gaga realmente brilha em ‘Nasce uma Estrela‘.